Efe
Militante do PLJ, braço político da Irmandade Muçulmana, durante anúncio da vitória de Mohammed Mursi
O segundo-turno das eleições presidenciais do Egito já tem os dois candidatos praticamente definidos: de um lado, o ex-primeiro ministro de Mubarak, Ahmad Shafiq e do outro, o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi. Os egípcios voltarão às urnas nos dias 16 e 17 de junho.
A grande surpresa deste primeiro turno, no entanto, foi o apoio recebido pelo candidato nacionalista Hamdin Sabbahi. Líder do partido al-Karamah, que reclama o legado político do ex-presidente Gamal Abdel Nasser (1954-1970), Sabbahi disputou até o fim da apuração a vaga no segundo turno. Antes apontado nas pesquisas com menos de 10% das intenções de voto – acabou alcançando cerca de 20%, o que lhe deu o terceiro lugar.
No Cairo, Sabbahi conseguiu 36,4% dos votos, ficando com a vitória na capital do Egito. Os dados não são definitivos, mas representam quase metade dos votos contabilizados da região. No Cairo, Shafiq terminou com 25,9% dos votos e Mursi com 20,1%.
Durante a apuraçao, Sabbahi chegou a ficar em segundo lugar na contagem nacional, depois que os votos de Alexandria começaram a ser contabilizados. O candidato dirigiu-se a uma mesquita e agradeceu pelos votos. No Twitter, o nome de Sabahi saltou aos trending topics (temas mais discutidos) e algumas pessoas já o estão chamando de “presidente do Twitter”. Até mesmo o renomado escrito egípcio Medhat El-Adl tuitou: “Independentemente do resultado, devemos dar os parabéns ao lutador Hamdeen Sabbahi, pela sua campanha e pelos esforços apesar da falta de recursos”.
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O porta-voz do partido liberal Egípcios Livres, Ahmed, Khairy, disse que um segundo-turno entre o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi e o ex-ministro de Mubarak, Ahmed Shafiq, “é o pior cenário possível”. Khairy descreveu Mursi como um “fascista islamita” e Shafiq como um “fascista militar”.
A página de Sabbahi no Facebook publicou a intenção de que os votos de Sabbahi e Abul Fotouh (que terminou em quarto lugar, com 17,93% dos votos) sejam todos contabilizados para Sabbahi, levando o candidato de esquerda ao segundo-turno. A ausência de uma lei eleitoral clara talvez permita esta manobra política.
Família de Mubarak apóia Shafiq; Igreja Copta também
Segundo informações da agência de notícias Ahram, a família de Hosni Mubarak que reside no povoado de Kafr el-Meselha, região do Delta do Nilo onde nasceu o presidente deposto pela revolução de janeiro de 2011, votou no candidato Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak. Um primo do ex-mandatário, de nome Gamil, explicou a repórteres que Shafiq era uma boa opção devido a sua experiência militar.
Sandro Fernandes
Grafites contra o regime de Mubarak continuam dominando as proximidades da praça Tahrir
Os cristãos coptas do Egito também apoiaram majoritariamente a Shafiq. Apesar de muçulmano, como os outros 11 candidatos, o antigo ministro da era Mubarak assusta menos do que os candidatos do bloco islamita. Durante Mubarak, a situação dos cristãos no país era longe do ideal, mas há um temor entre a comunidade copta de que com um presidente islamita, fique ainda pior. Dos 52 milhoes de eleitores, calcula-se que aproximadamente seis milhões sejam cristãos.
Repercussão internacional
A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, declarou que o país continuará apoiando o Egito, independentemente dos resultados das eleiçoes. “O povo egípcio continuará lutando pelas suas aspirações e os Estados Unidos continuarão apoiando não somente os egípcios como também qualquer povo que queira alcançar os mesmos objetivos”.
O ministério das relações exteriores da Rússia afirmou ontem (24) que as eleições presidenciais do Egito são uma importante fase no desenvolvimento político da “nação amiga”. O porta-voz do ministério, Aleksander Lukashevich, informou à agência estatal egípcia MENA que representantes russos acompanharam o processo eleitoral, acrescentando ainda que “estas eleições são o meio através do qual o país transferirá poder da junta militar para um governo eleito democraticamente”.
O mundo árabe também assiste com atenção às eleições no mais país do bloco. O Egito é essencial para a estabilidade dos países árabes, já que tradicionalmente serve como modelo político e cultural para todos os países do grupo. “A estabilidade do Egito significa a estabilidade do mundo árabe. Espero que os egípcios escolham um homem que possa servir ao país neste período tao difícil da história do Egito, do mundo árabe e do Oriente Médio”, declarou Mustafá Abdel Jalil, líder interino da Líbia. “O futuro será melhor que o passado. Egito, Tunísia e Líbia se unirão para criar a pedra angular para a união do mundo árabe”, concluiu.
Os países do Golfo Pérsico também estão acompanhando com lupa as eleições presidenciais no Egito, devido ao medo de que a revolução siga no Egito e influencie os países do Golfo, principalmente a Arábia Saudita e o Qatar.
Mais protestos esperados durante a semana
Até o fechamento da edição (17h, horário de Brasília), as ruas do centro do Cairo e a praça Tahrir estavam tranqüilas, sem mobilizações ou protestos contra os resultados. Durante toda a semana, poucos grupos se manifestarem na capital egípcia. No entanto, protestos são esperados para os próximos dias, quando o Comitê Eleitoral anuncie os dados oficiais.