Autoridades argelinas anunciaram nesta sexta-feira (18/01) que libertaram mais da metade dos 132 reféns estrangeiros, assim como 573 argelinos, que permaneciam em mãos do grupo armado que invadiu um campo de tratamento de gás, na quarta-feira (16/01), perto da cidade de In Amena, no sudeste do país. As informações são da agência Efe.
Segundo um balanço provisório recolhido pela agência estatal argelina APS, continua a operação para libertar outro grupo de reféns, sem número ou nacionalidades definidos, que permanece detido em outra parte das grandes instalações. Além disso, 18 membros do grupo armado teriam sido mortos na operação do Exército algeriano de quinta-feira (17/01), mas não deu nenhum detalhe sobre as vítimas civis e militares.
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O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, lamentou hoje a morte de “vários reféns” no ataque ao campo de gás, embora não tenha detalhado nem o número de mortos nem sua nacionalidade.
Segundo Ayrault, o fato de fazer reféns na central “confirma a gravidade da ameaça terrorista” na zona do Sahel e acrescentou que “o que acontece na Argélia justifica ainda mais a decisão da França de ajudar o Mali, porque são os mesmos grupos terroristas”, depois da reunião especial do Conselho de Defesa realizada esta manhã na sede presidencial.
A crise dos reféns eclodiu quando um grupo armado sequestrou centenas de argelinos e dezenas de estrangeiros em um campo de gás no deserto da Argélia e foi seguido de uma operação militar do Exército argelino contra a zona residencial do complexo, onde estava preso o maior grupo de reféns. O campo é operado pela companhia petrolífera Noruega Statoil, a argelina Sonatrach e a britânica BP.
Oficiais argelinos afirmaram que os reponsáveis pelo ataque são ligados à Al Qaeda e incluía egípcios, argelinos e tunisianos. O governo disse que foi forçado a lançar a operação militar por que os invasores haviam ameaçado explodir a planta.
Responsável
O ministro do Interior argelino, Daho Ould Kablia, garantiu nesta quinta-feira (17/01) que a operação havia sido “planejada e supervisionada pelo terrorista Mojtar Belmojtar do território líbio”.
Precisamente, o argelino Belmojtar, emir da denominada “Brigada dos mascarados” reivindicou a autoria o ataque e afirmou que foi realizado por uma célula conhecida como “Signatários com Sangue”, criada em dezembro para tomar represálias em caso de uma intervenção militar internacional no Mali contra os grupos religiosos extremistas que controlam desde junho o norte do país.
Especialistas em segurança, porém, dizem que o ataque parecia ter sido planejado há muito tempo. Belmojtar foi um dos artífices em 2003 do sequestro de 32 turistas estrangeiros no deserto argelino.
Segundo os responsáveis pelo ataque, 35 reféns (de um total de 41 estrangeiros) e 15 terroristas morreram ontem em um bombardeio do Exército enquanto tentavam levar um grupo de sequestrados para outra área do grande complexo de gás. Esses dados, porém, não foram confirmados oficialmente.
Por meio da mídia mauritana, os membros da Brigada afirmaram que tinham dúzias de homens armados com morteiros e mísseis antiaéreos, além de terem enchido o lugar com explosivos. “Consideramos o governo argelino, o governo francês e os países dos reféns completamente responsáveis se nossas demandas não forem cumpridas, e é por conta deles parar a brutal agressão contra nossas pessoas no Mali”. Os sequestradores alertaram a população para que fique longe de instalações de empresas estrangeiras no setor de óleo e gás, ameaçando desfechar mais ataques, segundo informou a agência de notícias ANI, da Mauritânia, citando um porta-voz do grupo.
Libertações
Enquanto segue a confusão sobre os números de vítimas e a ausência de dados oficiais, alguns países começaram a anunciar a libertação de seus cidadãos.
Hoje foi anunciado que pelo menos dois cidadãos franceses sobreviveram, segundo o ministro francês do Interior, Manuel Valls. Um empregado da petrolífera norueguesa foi resgatado, sendo agora 9 dos 17 trabalhadores da empresa que se encontram a salvo, mas a situação dos oito empregados restantes é incerta. Comunicado da Statoil informa também que um primeiro avião procedente da Argélia aterrissou ontem à noite em Londres com 22 empregados, outros 18 aterrissaram em dois aviões em Palma de Mallorca, na Espanha.
O governo japonês também confirmou hoje que três de seus cidadãos se encontram a salvo, mas segue sem notícias dos outros 14 trabalhadores que se estavam nas instalações. A empresa japonesa “JGC” – que tinha 78 empregados no campo, incluindos os 17 japoneses – confirmou por enquanto que seis de seus empregados estão a salvo: dois filipinos e um romeno, além dos três japoneses.
A única certeza das autoridades britânicas é de que pelo menos um refém britânico morreu na crise que ainda está “em curso”, segundo informou hoje o Ministério das Relações Exteriores, que não pôde dar detalhes sobre o número total de britânicos sequestrados. Cameron suspendeu o discurso que ia a pronunciar hoje em Amsterdã sobre a relação do Reino Unido com a União Europeia.
Segundo fonte da segurança argelina, oito argelinos e sete estrangeiros (dois britânicos, dois japoneses e um francês) estão entre os mortos.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, afirmou em entrevista coletiva de ontem que “a informação que temos até este momento indica que cidadãos americanos estão entre os reféns. Mas não temos, neste momento, mais detalhes para oferecer”.
Pelo menos 20 filipinos foram levadas como reféns, confirmou hoje um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores das Filipinas, que acrescentou que pelo menos um conseguiu escapar antes da operação e que cerca de 34 filipinos estão sendo evacuados para Londres. No entanto, as autoridades filipinas não puderam confirmar se algum de seus cidadãos se encontra entre as vítimas da operação realizada ontem.
Energia
A AIE (Agência Internacional da Energia) disse ontem que a crise terá consequências negativas sobre o setor energético da Algéria.”O sequestro e assassinato de trabalhadores estrangeiros do setor energético em In Amenas no dia 16/01 criou uma nuvem escura sobre as previsões para o setor energético do país”, indicou a AIE no trecho dedicado à Argélia em seu relatório mensal sobre o mercado do petróleo.
“A produção na plataforma parou” por causa do incidente, precisou a AIE em seu relatório, no qual lembrou que os terroristas islâmicos que assaltaram as instalações disseram que era uma vingança pela intervenção militar francesa no Mali.