Para os jovens de Cuba pode ser atraente se envolver em projetos próprios de trabalho que permitam liberar sua iniciativa e capacidades criativas. Essa é uma oportunidade que cresce a cada dia com a abertura ao setor não estatal da economia cubana.
Desde o início do processo de atualização socio-econômica na ilha, vêm aparecendo – de forma paulatina – disposições oficiais e jurídicas encaminhadas pelo governo a fim de ampliar as facilidades para iniciar “trabalhos por conta própria”, como é conhecido em Cuba o setor privado da economia.
Prensa Latina
Não são poucos os jovens que entraram nessa modalidade trabalhista. Basta caminhar pelas ruas de qualquer cidade do território nacional e observar os jovens trabalhando em cafés, lojas com diversas ofertas, na direção de táxis particulares, entre outros empregos.
Isso é também confirmado por pesquisas preliminares sobre o recente fenômeno – que ganhou força a partir de outubro de 2010 – realizadas pelo CESJ (Centro de Estudos sobre a Juventude); as pesquisas indicam que um número crescente de jovens se envolve em diversas modalidades de trabalho por conta própria.
O especialista assessor do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) José Roberto Luna considerou positivo esse novo cenário trabalhista, pois oferece oportunidades reais para desenvolver um projeto de vida particular às novas gerações, sobre as quais recai a sustentabilidade presente e, sobretudo, futura da sociedade.
Por outro lado, a pesquisadora do CESJ María Josefa Luis explicou à Prensa Latina que as motivações mais frequentes expressadas pelos jovens que trabalham por conta própria são as possibilidades de maior remuneração e a flexibilidade de horários, que lhes permite organizar o tempo com maior autonomia.
Também enfatizam a perspectiva de realizar uma atividade relacionada com sua criatividade e interesses pessoais. Não obstante, alerta a especialista, a maioria da juventude cubana se encontra vinculada ao setor estatal. Isso está relacionado ao fato de que o Estado cubano continua priorizando a inclusão de jovens em suas entidades e órgãos.
“Para o Estado é importante preparar seus recursos humanos e depois garantir uma oportunidade de trabalho, assim tem sido desde o triunfo da Revolução em 1959 e se projetou na vida do país, inclusive no momento atual”, analisa Maria Luis.
Um aspecto destacado por Luis é que, seja dentro ou fora do setor estatal, a vinculação ao trabalho é uma realidade para a maior parte da população jovem em Cuba, pois 42,5% daqueles com 20 a 24 anos de idade já trabalha. Da mesma forma que, 32,5% estuda e 7,7% faz ambas coisas, ao mesmo tempo em que menos de cinco por cento procura trabalho.
Essa realidade contrasta com a situação em outros países, onde as filas de jovens sem emprego chegam a extremos inimagináveis. Na Espanha, por exemplo, mais de 70% dos jovens de 16 a 19 anos está desempregado e quase 50% dos que têm entre 20 e 24 anos, informou recentemente o catedrático catalão Carles Feixa.
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Cubanos precisam de algo mais que matemática e letras
O jovem Juan Carlos Martínez, que trabalha em um café, afirmou à Prensa Latina que, nas semanas iniciais de seu trabalho, teve que se esforçar muito para encontrar a melhor maneira de tratar os clientes.
“Eu tenho 21 anos e até começar a trabalhar aqui me relacionava principalmente com familiares e amigos com os quais tenho um tratamento de confiança, explicou, por isso não sabia muito bem como me comunicar com as pessoas que vinham à cafeteria”, explica.
A história de Juan Carlos é parecida a outras, pois quando o trabalho por conta própria se converte em uma oportunidade adicional que as novas gerações têm, a sociedade se encontra com o desafio de se preparar para um trabalho, em certa medida, inovador.
De acordo com María Josefa Luis, depois da abertura às iniciativas privadas, os jovens têm acesso a um tipo de trabalho para o qual não estão totalmente formados. Sobre isso, mencionou a importância de determinadas competências gerais, entre as quais destacou a capacidade que o indivíduo deve ter para analisar e tomar decisões em situações difíceis e de risco.
“São momentos que põem a pessoa à prova e para isso há que estar preparado na vida. “Agora é necessário cultivar a responsabilidade individual das novas gerações para que desenvolvam de maneira mais autônoma seu projeto de vida”, assinalou.
Para que os jovens não fiquem em desvantagem
Quando a Prensa Latina conversou nas ruas com vários jovens vinculados ao setor não estatal, ou com intenções de se vincular, alguns deles manifestaram que as maiores dificuldades estão relacionadas ao acesso aos recursos para levar adiante um projeto próprio.
No caso de Yaidelis Santana, sua vontade é ter um local e meios próprios para organizar festas de aniversários e casamentos “bem lindos e de alta qualidade”. Ainda que no momento não haja recurso para isso, está trabalhando em outro tipo de atividade por conta própria para poupar dinheiro e conseguir seu objetivo.
Este tema foi abordado pelo assessor do Fundo de População das Nações Unidas, José Roberto Luna, que acredita que existe um desafio relacionado às condições das novas gerações para iniciar um projeto particular.
“O Estado deve ir pesquisar”, explicou José Luna, como facilitar a aquisição de meios para empreender uma iniciativa, porque caso contrário os jovens podem ficar em desvantagem com respeito às gerações adultas em termos de disponibilidade de recursos.
A partir da atualização econômica em andamento na ilha, o governo começou a implementar medidas como o acesso a créditos e a ampliação das atividades não estatais, entre outras.