O CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela anunciou nesta quinta-feira (18/04), que decidiu realizar a auditoria de 46% das urnas de comprovantes dos resultados das eleições presidenciais do último domingo. O anúncio foi bem recebido pelo opositor Henrique Capriles, que perdeu por 1,8% de margem de votos para o presidente do país, Nicolás Maduro.
Após quase dez horas de reunião entre seus cinco reitores, a reitora do CNE Tibisay Lucena afirmou que o poder eleitoral do país “emitiu resultados completamente transparentes e exatos que refletem de forma impecável a expressão dos eleitores”. “Esta decisão foi tomada atendendo a uma situação particular, e não deve ser interpretada como um escrutínio”, ressaltou. Para o anúncio do resultado no dia da eleição, 54% das urnas já tinham sido auditadas.
De acordo com ela, o processo terá sua data de início anunciado na próxima semana e será realizado em um mês. Serão verificadas 400 urnas por dia na presença de técnicos designados pelos comitês dos dois principais candidatos das eleições. “O poder eleitoral toma esta decisão para preservar o clima de harmonia e isolar os setores violentos que tentam lesar a democracia”, afirmou, em referência à onda de crimes cometidos na segunda-feira, quando pelo menos oito pessoas morreram.
Tibisay ressaltou ainda que o período para a impugnação do resultado das eleições tem início a partir da proclamação do candidato eleito. “Essa é a regulação vigente há muitos anos na Venezuela. Qualquer especulação acerca disso não é mais que a elaboração própria do debate politico”, afirmou, em clara alusão ao panelaço convocado por Capriles contra a proclamação de Maduro como presidente do país.
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“Sinalizamos claramente quais são as instâncias nas quais os resultados da eleição deveriam ser impugnados”, disse, esclarecendo que não houve apresentação formal frente ao Supremo Tribunal de Justiça, o que permitiria uma recontagem dos sufrágios. “Insistimos que não fizessem [a impugnação] através de meios de comunicação, mas sim ao CNE e os entes correspondentes. O concreto é que o direito assiste aos quem votaram por Capriles, mas também aos que o fizeram por Maduro”, explicou.
A reitora pediu aos meios de comunicação do país e aos porta-vozes dos partidos políticos que “evitem emitir juízos prévios que alterem ânimos neste período, com chantagens, agressões ou ameaças”. Segundo ela, no entanto, uma solicitação formal para a recontagem dos votos não foi entregue ao órgão eleitoral.
Capriles
Capriles se manifestou minutos depois do anúncio do CNE, afirmando que aceita a decisão, que considera “uma luta pela verdade”. Segundo ele, a medida contempla “o direito de cada venezuelano de que seu voto seja auditado”. “Vamos estar aí na auditoria”, disse, antes de ressaltar que será preciso cruzar as informações dos boletos que comprovam os votos, das atas eleitorais e dos cadernos de votação. “Disso se trata”, garantiu.
O opositor, atual governador do Estado venezuelano de Miranda afirmou que, segundo seus cálculos, a auditoria anunciada será de 12 mil urnas de comprovantes de votos. “Consideramos que nestas urnas não auditadas é que estão os problemas”, disse, garantindo que segundo a análise dos resultados eleitorais feitos por sua equipe, os problemas estão justamente nas urnas não auditadas. “Poderemos demonstrar perfeitamente ao país a verdade, portanto aceitamos o que o CNE anunciou ao país em rede nacional de rádio e televisão”, afirmou.
Capriles voltou a criticar o governo venezuelano, que segundo ele, persegue funcionários de empresas estatais que votaram por ele. “Já basta. O CNE se dispôs a resolver uma crise politica que há no país e para resolvê-la (…) o país espera diálogo, calma, e a paz à que eu convoco toda a Venezuela. Eu disse que ia lutar voto a voto, ia defender cada voto”, afirmou, em coletiva de imprensa.
De acordo com ele, no entanto, “esta luta não acabou”. “Agora começa uma nova etapa, de auditoria, de muito trabalho e estaremos lá. Vai durar vários dias e vamos dizendo o que formos vendo”, garantiu, antes de criticar os dias transcorridos desde domingo, até que a decisão fosse tomada pelo CNE. “Há coisas que devem ser automáticas, o país que queremos é no qual não se tenha que lutar por direitos”, disse.