O chanceler da Venezuela, Elías Jaua, afirmou na noite desta quarta-feira (29/05) que a decisão do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de receber o opositor Henrique Capriles pode “levar a um descarrilamento das boas relações” entre os dois países. O ministro das Relações Exteriores disse ainda que o representante da Venezuela nas negociações de paz em Havana, Roy Chaderton, foi convocado para que o governo avalie se deve continuar acompanhando o processo de paz de seu vizinho.
“Não temos mais [a fazer do] que lamentar profundamente que o presidente Santos tenha dado um passo que de maneira dolorosa vai nos levar a um descarrilamento das boas relações que temos. É lamentável, porque tanto o presidente [Hugo] Chávez como o presidente [Nicolás] Maduro cuidaram e cultivaram estas relações”, disse o chanceler venezuelano, em pronunciamento transmitido pela televisão estatal VTV.
Agência Efe
Capriles e Santos se reuniram na manhã desta quarta-feira, em Bogotá
Jaua ainda lamentou o fato de que, apesar do “grande esforço” do governo chavista para que se chegue a um acordo de paz entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo vizinho, a “resposta das instituições do Estado colombiano em Bogotá” sejam o “apoio e o estímulo aos que pretendem desestabilizar a paz na Venezuela”.
O chanceler também afirmou que Caracas fará uma avaliação “com mente muito fria” sobre se seu país se manterá como acompanhante do processo de paz colombiano. Segundo ele, a postura de Santos “obriga” o país a revisar sua participação como facilitador para o acordo com as FARC, negociado em Havana. “É muito difícil trabalhar pela paz de um povo irmão quando, das mais altas instituições deste povo, se estimula e incentiva a desestabilização da Venezuela”. O presidente do legislativo venezuelano, Diosdado Cabello, também se pronunciou e qualificou o encontro como uma “agressão” à relação entre os países.
Para Jaua, o encontro entre o mandatário da Colômbia e o ex-candidato à Presidência da Venezuela “revela (…) que em Bogotá havia uma conspiração contra a paz”. “Não queríamos acreditar que esta conspiração chegava aos mais altos poderes do Estado colombiano, mas hoje se revelou”.
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O ministro venezuelano das Relações Exteriores também alertou a população sobre a possibilidade do início de um movimento “para minar as boas relações” entre os dois países e “afetar a estabilidade política” da Venezuela. “Pensávamos que esta era uma etapa superada, mas o recebimento de uma pessoa que desconhece as instituições venezuelanas, que convocou abertamente a violência no dia 15 de abril e com o saldo lamentável de 11 mortes, é um sinal muito ruim”.
Na ocasião, o ex-candidato opositor não reconheceu os resultados da eleição de 14 de abril e pediu que seus apoiadores protestassem, com um panelaço, contra a proclamação de Maduro como presidente.
A justificativa de Capriles para ir à Colômbia foi expor a “situação política” da Venezuela. De acordo com a assessoria do opositor, que também é governador do estado de Miranda, Capriles disse a Santos na manhã de hoje que seu país não cumpriu com a auditoria das eleições presidenciai. Além disso, também foram abordadas questões como o processo de paz na Colômbia, segurança nas fronteiras e a “liberdade de imprensa”.
O ex-candidato também se reuniu com legisladores colombianos para os quais, segundo a imprensa local, afirmou que as eleições foram “roubadas”, como já havia acusado em seu país.
Capriles exige uma revisão completa do processo eleitoral, que incluiria a comparação entre as digitais de eleitores, boletos de comprovante de votos e cadernos de votação com o registro dos eleitores. O poder eleitoral do país, no entanto, se comprometeu com a realização de uma auditoria das urnas eletrônicas, com a qual o candidato havia concordado inicialmente, mas que depois qualificou de “fajuta”.
Nesta terça-feira, o CNE (Conselho Eleitoral do país) concluiu o segundo dos três ciclos previstos para a revisão de 46% das mesas de votação, que correspondem àquelas que não haviam sido auditadas no dia 14 de abril. O resultado da auditoria foi de 99,98% de coincidência entre os boletos de votação e os dados eletrônicos emitidos pelas urnas, segundo a instituição. A terceira parte do processo de revisão, do qual a oposição decidiu não participar, teve início nesta quarta.