Atualizada às 17h
Maior metrópole da América do Sul, São Paulo sempre serviu como vitrine das dificuldades e soluções de desenvolvimento das grandes cidades do continente. Para facilitar o intercâmbio de experiências de urbanização entre os países da América Latina, a ONU (Organização das Nações Unidas) passou a trabalhar, desde agosto de 2013, de forma conjunta com a Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo .
“Nosso interesse em trabalhar com uma metrópole como São Paulo é que ela tem criado programas inovadores, mas que também apresentam muitos problemas. A proximidade entre os modelos de crescimento dos países da América do Sul facilita a troca de modelos e a eventual adaptação a seus programas sociais”, explica o representante da ONU no Brasil, Jorge Chediek, em entrevista a Opera Mundi nesta segunda-feira (10/02).
Fábio Arantes/Secom
Representante da ONU no Brasil, Jorge Chediek reuniu-se com secretários na Prefeitura de São Paulo nesta manhã (10/02)
Tendo em vista que muitas das dificuldades sociais e urbanas do Brasil são também problemas de outros países da América do Sul, as Nações Unidas desenvolveram um programa de intercâmbio de conhecimentos e tecnologias no continente – que é conhecido como Cooperação Sul-Sul. Esta é uma das quatro prioridades da parceria firmada entre a ONU e a Prefeitura de São Paulo, que amplia a atuação do órgão no Brasil.
“A chave é apoiar cada país a desenvolver suas competências, trazendo também a experiência de outros lugares”, sintetiza Chediek, que também é representante residente do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) no Brasil. “Depois, quando o programa começa, é preciso compartilhar as práticas, os sucessos e os fracassos para outros países da região”, completa.
Tradicionalmente, a ONU se inspirava no modelo de desenvolvimento dos países da Europa e da América do Norte para aplicá-lo na América do Sul. Com isso, o que se promovia na cooperação internacional era basicamente a cópia das medidas desses países desenvolvidos para os emergentes. Em alguns casos, a prática funcionou, mas na maioria das vezes não deu certo. “Uma coisa que aprendemos com o passar dos anos é que os países do Norte criam soluções próprias para seus problemas, que não são os mesmos dos do Sul”, aponta Chediek.
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Exemplos brasileiros
“Existem problemas que temos na região que só podem ser confrontados com uma aproximação dos serviços do Estado e da transferência de renda. Esse modelo não é o do Norte, mas foi desenvolvido exclusivamente na América Latina. Os países aprenderam um de outro”, afirma o coordenador.
O modelo de transferência de renda brasileiro, conhecido como Bolsa Família, serviu de exemplo para muitos países da região. “Quando eu trabalhava no Peru, foi criado uma iniciativa chamada ‘Juntos’, que aproveitou muito a experiência do Bolsa Família. Cada um dos países vai se adaptando segundo suas necessidades”, compara Chediek.
Para além da América do Sul, o programa também foi copiado por Gana. “Muitos países da África têm o PIB per capita que o Brasil tinha há 20 anos, além de se assemelharem com o clima e com as sociedades multiétnicas. Nesse sentido, sua realidade é muito mais próxima à experiência brasileira do que de um país desenvolvido, que está há 100, 200 anos em processo de urbanização”, elucida o representante da ONU.
Outro exemplo é o caso da mobilidade urbana. “As faixas de ônibus, que são tão criticadas, são usadas em outros países da América Latina e também existem nos países desenvolvidos”, afirma Chediek. “Tal processo começou aqui no Brasil, em Curitiba, e depois foi adaptado com grande sucesso para a Colômbia e em outros países da América Latina, como Nicarágua e Peru, e é chave para melhorar a condição de mobilidade num momento em que os carros aumentaram significativamente”, acrescenta.