Cerca de cem jovens migrantes foram retirados pela polícia francesa de um acampamento às margens do rio Sena, em Paris, na manhã de terça-feira (28/05). A associação Utopia 56 condena o que classificou de “limpeza social”, apenas algumas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos.
A polícia francesa desmantelou o acampamento que abrigava cerca de cem jovens migrantes perto de Pont-Marie, no coração de Paris, anunciou a Utopia 56 na rede social X (ex-Twitter). Com os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximando, a associação falou com o rádio FranceInfo para denunciar a “limpeza social” que está ocorrendo e o número crescente de acampamentos de migrantes que estão sendo removidos.
A associação alega que foi oferecida aos migrantes a transferência para instalações específicas para acolher desabrigados em Lyon (cidade ao leste da França a mais de 400 km da capital). Mas a maioria deles se recusou a ser transferido para outra cidade e não aceitou entrar no ônibus disponibilizado pela polícia. Segundo a associação Utopia 56, agora esses jovens “estão mais uma vez vagando pelas ruas” da capital.
‘Risco terrorista’ usado para justificar a operação
O Utopia 56 também acusa o Ministério do Interior de usar indevidamente o “risco terrorista’ para justificar a operação.
Segundo apuração da FranceInfo, a ordem original da polícia de Paris foi dada em 25 de maio, afirmando a necessidade do endurecimento do dispositivo Vigipirate combinado com as mudanças na situação de ameaça na França. O Vigipirate é o nome do plano de luta contra atentados terroristas da França, que existe desde 1978. No total, ele inclui mais de 300 medidas e muitas são confidenciais.
Ainda de acordo com a ordem policial, o fortalecimento das medidas Vigipirate significa que um “esforço especial está sendo feito para garantir a segurança de locais de culto, edifícios públicos e institucionais e seus arredores”. Conforme o texto, o acampamento de migrantes estaria localizado perto dos “edifícios do Tribunal Administrativo de Paris, da Cidade Internacional das Artes e da Igreja de Saint-Gervais”.
O decreto também se refere a “condições sanitárias precárias” e “riscos à saúde pública e à saúde dos ocupantes”, devido, em particular, ao fato de que os “banheiros públicos instalados perto do acampamento estão saturados e fora de ordem” e que não há “acesso à água, instalações sanitárias ou sistema de eliminação de resíduos” no local onde ficavam as barracas dos ocupantes.