Atualizada às 15h35
Chavistas e opositores saem às ruas novamente neste sábado (22/02), na capital venezuelana. Ambas as marchas, uma convocada pela aliança partidária de oposição MUD (Mesa da Unidade Democrática), que pede o desarmamento de grupos “paramilitares”, e outra convocada por mulheres apoiadoras do governo, em combate ao “fascismo”, reivindicam a “paz”.
Ontem, mais uma morte sensibilizou o país. Um motociclista foi degolado em uma armadilha feita com arame, de acordo com meios locais. Santiago Enrique Pedroza, de 29 anos, passava por uma barricada, chamada localmente de “guarimba”, armada por manifestantes na região metropolitana de Caracas.
Em contato telefônico com a emissora, o ministro de Interior e Justiça do país, Miguel Rodríguez Torres, contou que o trabalhador conduzia uma moto e não viu que havia um cabo esticado de um lado ao outro da avenida. Mais cedo, a fiscal da promotoria geral da república, Luisa Ortega Díaz, informou que o número de mortes durante manifestações já chegava a oito, em diferentes estados do país.
Protestos perdem força
Após as nove da noite,no horário local, diversas vias da cidade estavam cortadas por lixo incendiado. Em muitas, já não havia manifestantes e o fogo no material usado nas barricadas diminuía. Os protestos na capital perderam força nos últimos dois dias e incidentes isolados foram registrados, após uma intensa manifestação na última quarta-feira em diferentes pontos da cidade.
Na tarde da última quinta, na Praça Altamira, localizada em uma região nobre ao leste de Caracas, estudantes, alguns sentados e outros em pé, sobre papel picado, bloqueavam a circulação de veículos de uma avenida. Fitas amarradas de um lado a outro da via também evidenciavam o corte da avenida, a metros de uma pichação “Venezuela em chamas” em uma esquina.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Manifestantes opositores formam barricada em rua do município de Chacao, em Caracas. Protestos perderam força
“Viemos para ser escutados e defender nossos direitos. Aqui neste país temos que usar uma camiseta vermelha para sermos escutados, queremos imparcialidade, que nos tratem a todos por igual”, disse a Opera Mundi Haimet Amundarain, de 18 anos, uma das estudantes que estava sentada no meio da avenida. “Aqui faltam alimentos, mas os meios de comunicação só escutam os apoiadores do governo, não a nós”, disse.
Mais adiante, uma nova barreira com sacos negros com lixo, onde alguns estudantes em pé carregavam uma faixa na qual se lia “os estudantes são a revolução”, com um “x” vermelho sobre o “r” da última palavra. Um grupo formava uma barricada em uma avenida mais ao sul com o que encontravam pela frente: um pedaço de portão, escombros de um terreno baldio, galhos de árvores, uma cadeira velha.
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A alguns passos, um homem arrancava com um pedaço de madeira o arame farpado sobre o muro do terreno, para inclui-lo à barricada. Na altura da praça, um grupo rodeava um policial do município – cujo prefeito, Ramón Muchacho, é opositor – que pedia aos manifestantes que mantivessem o protesto pacífico, sem queimar lixo. Neste momento, alguns dos presentes lideram o debate, pedindo o fechamento de algumas vias.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Barreira com sacos negros com lixo nas ruas de Caracas. Alguns manifestantes usaram escombros de um terreno baldio
“Já temos bastante feridos, temos que fechar essa rua que dá acesso à praça”, disse uma das manifestantes. No dia anterior, membros da guarda nacional dispersaram o protesto com bombas de gás lacrimogêneo, e alguns dos estudantes tiveram que se refugiar em edifícios da região. Durante a noite de quinta, no entanto, o pedido policial de que os manifestantes não usassem fogo na barricada não foi cumprido.
“Quero escolher entre diferentes marcas”
Um homem sentado em um canteiro da praça durante a tarde contou que há quatro anos trabalha como funcionário de um ministério, e preferiu não se identificar. Morador da região popular de Petare, contou que houve panelaço nos últimos dias perto de sua casa. “Estamos cansados, se este governo chega até o fim do ano, o país vai quebrar”, falou, reclamando da escassez de produtos.
Quando questionado sobre iniciativas governamentais de acesso a alimentos a preços subsidiados como o Mercal, afirmou que é necessário enfrentar horas de filas para adquirir os produtos. “E eu também quero poder ir ao mercado e poder escolher entre diferentes marcas”, disse, admitindo, porém, temer pelo que possa acontecer no país com o incremento dos protestos.
Nesta sexta, protestos diante de sedes de diferentes Ouvidorias do Povo do país foram realizados pelo movimento estudantil. A dirigente Gabriela Arellano afirmou a Opera Mundi que na da região de Caracas estiveram reunidas cerca de 300 pessoas, e que um documento foi entregue ao organismo com provas de desrespeito aos direitos humanos.