Agência Efe
Ao lado da esposa de Leopoldo López, Capriles, líder da oposição, discursou em marcha neste sábado em Caracas
“Na segunda-feira em Miraflores, Nicolás, espero que você ponha o microfone para falar em rede [nacional] de rádio e televisão, senão, vou embora de Miraflores”. Com esta frase, o líder opositor e ex-candidato presidencial Henrique Capriles anunciou neste sábado (22/02) que participará da reunião do Conselho Federal de governo convocada pelo presidente Nicolás Maduro com governadores de todos os estados do país.
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Diante de milhares de opositores que se reuniram no leste de Caracas, Capriles afirmou que “Nicolás é um erro na história”. Posteriormente afirmou a jornalistas: “Não podemos sair deste erro para cair em outro erro”.
Ao lado de Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López – dirigente opositor acusado pelo chavismo como autor intelectual da violência em protestos – Capriles fez ainda uma série de exigências ao governo, de acordo com a pauta do movimento estudantil. “Liberdade aos detidos no protestos e de López, além da anistia para os que saíram com medidas cautelares, fim da repressão e “desarmamento imediato dos paramilitares”, foram alguns dos pedidos do opositor.
Em relação a López, preso na última terça-feira (18), Capriles afirmou, efusivo, que fará “tudo o que tenha que fazer” para vê-lo nas ruas e disse que os venezuelanos que pensam diferente não são fascistas. “Pegue essas palavras e as esconda você sabe onde”, disse o ex-candidato, dirigindo-se ao presidente, que, por sua vez, afirma que há um golpe em desenvolvimento contra sua gestão. O opositor voltou a afirmar que há tortura no país e, com um papel na mão, citou quatro casos de denúncias.
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Já a deputada opositora María Corina Machado, que iniciou com López uma campanha denominada “A Saída”, na qual se propunha a presença nas ruas até uma mudança de governo, afirmou que o país está “aos prantos, em ruínas”. A parlamentar pediu que os venezuelanos “mantenham a luta nas ruas”. “A solução é a mudança política da Venezuela, só assim vamos ter um país de liberdade e de oportunidades”, afirmou.
“Roubaram de nós o futuro da Venezuela e já é hora de reconquistar nosso futuro (…) a Venezuela está decidida a lutar pacificamente até vencer, até conseguir conquistar a democracia e a liberdade”, afirmou a deputada, que duas semanas antes das mortes registradas na marcha no dia 12 de fevereiro tinha chamado a “acender as ruas” em uma “luta cívica e responsável (…) em todos os lugares, nos mercados, nas escolas, universidades e nas praças”, reiterou Capriles.
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O ato opositor foi realizado depois de dois dias tímidos de protestos na capital venezuelana, após uma expressiva manifestação na última quarta-feira. A multidão que se reuniu no leste da cidade mostrou, no entanto, que o movimento opositor não perdeu o fôlego. Com bonés das cores da Venezuela, grupos cantavam: “e vai cair, e vai cair, este governo vai cair” e “e não, e não, e não temos vontade de uma ditadura igualzinha — como cubana”.
Muitos bonés com as cores da bandeira venezuelana eram vistos em meio a milhares de pessoas que se dirigiam à concentração sob o sol e o som agudo de cornetas insistentes. Cartazes expressavam queixas sobre a escassez de alimentos, falta de cobertura dos protestos por emissoras televisivas do país, suposta ingerência cubana na Venezuela, entre várias reclamações.
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Vozes da oposição
Aluno de Direito da UCV (Universidade Central da Venezuela), Eddie Argotti, de 21 anos, disse a Opera Mundi estar no protesto para pedir justiça pelas mortes durante manifestações e detenção de estudantes. “Não se pode justificar de nenhuma maneira mortes em um protesto. Estamos aqui para que estes assassinatos não fiquem impunes. O governo tem que respeitar o pluralismo político no país, não é possível que haja que pedir autorização para protestar”, disse.
Para Argotti, os cantos que pedem a queda do governo manifestam o descontentamento deste setor da população. A dona de casa Aura Mena, de 60 anos, por sua vez, explicou estar se manifestando “pela liberdade” no país. “Não queremos os cubanos aqui na Venezuela, vieram muitos cubanos para cá”, disse ela, em consonância com muitos dos cartazes na manifestação, queixando-se também da escassez de alimentos e produtos básicos em supermercados venezuelanos. Quando questionada sobre os convênios governamentais para que profissionais dessa nacionalidade atuem em áreas pobres, nas áreas de saúde e cultura, disse querer todos os cubanos fora.
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Uma senhora, por sua vez, carregava um rolo de papel higiênico, uma lata de leite em pó e um saco de “harina pan”, a farinha de milho pré-cozinha utilizada nas arepas, comida tradicional do país. “Trouxe isso para demonstrar que estamos cansados, este leite eu não consigo há muito tempo. Essa é uma representação do que está em falta no país e estou aqui para que o governo nos escute, que entendam e percebam que nós também sofremos com isso”, contou ela, que afirma viver em uma comunidade pobre do estado de Miranda, chamada Filas de Mariche.
Já o advogado Gabriel Jesús, de 31 aos, disse não ter perspectivas de avanços. “Meu país não vai bem, há muita insegurança e más políticas, e este governo é um abismo. Mas acho impossível que isso mude, de certa forma o Maduro está mais radical que [Hugo] Chávez, porque eles querem se manter no poder. Com uma marcha não se consegue nada e quem poderia fazer alguma coisa são as forças armadas, que têm as armas da república, mas eles estão muito cômodos com este governo porque controlam tudo”, concluiu.