Um relatório interno da CIA revela que os esforços da agência de inteligência norte-americana em armar e treinar clandestinamente movimentos de insurgência em diversos países do mundo têm sido, na maior parte das vezes, em vão.
O documento secreto — que faz um balanço das práticas adotadas pela CIA ao longo dos seus 67 anos de existência — ao qual o jornal The New York Times teve acesso foi comissionado entre 2012 e 2013 pelo governo de Barack Obama em meio aos intensos debates por conta da guerra civil na Síria. Segundo fontes militares entrevistadas pelo jornal, o relatório interno influenciou na decisão do presidente de não fornecer, tão diretamente, suporte aos opositores sírios contra o governo de Bashar al Assad.
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Agência Efe (20.out.2012)
Membros do Exército Livre da Síria, grupo de oposição, mostram armas e gritam palavras de ordem contra Assad
Passando por casos como Angola, o fomento aos antissandinistas na Nicarágua ou a invasão da Baía dos Porcos em Cuba, o documento interno concluiu que muitas das tentativas passadas de fornecer secretamente assistência a grupos “rebeldes” estrangeiros tiveram, a longo prazo, impacto mínimo no resultado do conflito. Em especial, foram mais ineficazes ainda quando as milícias opositoras não contam com o apoio direto de tropas norte-americanas no território — como era o caso, por exemplo, da crise síria.
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O próprio presidente Barack Obama já havia mencionado passageiramente o relatório da CIA, em uma entrevista à revista The New Yorker. Obama defendia-se de acusações de que seus esforços em ajudar os opositores sírios não vieram rápido nem forte o suficiente:
“Na verdade, eu cheguei a pedir que a CIA analisasse exemplos em que os EUA tivessem financiado e fornecido armas a insurgentes em um país onde isso tenha realmente dado certo. E eles não conseguiram encontrar muita coisa.”
Caso dos mujahidin
No relatório, a única vez em que um esforço de armar e treinar grupos insurgentes sem o suporte de tropas norte-americanas no terreno teve relativo sucesso foi no Afeganistão nos anos 80, quando os combatentes mujahidin tiveram suporte da CIA e conseguiram resistir contra as forças soviéticas: em 1989, a União Soviética deixou o país.
Talvez seja difícil, entretanto, enquadrar o cenário afegão no rol dos “casos de sucesso” para a CIA. Terminada a ocupação soviética, o Afeganistão viu o crescimento do grupo talibã no país, abrindo terreno para que, anos depois, surgisse a Al Qaeda de Osama bin Laden, responsável pelos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.