O senador Luis Carlos Galán, candidato favorito às eleições presidenciais de 1990 na Colômbia, é assassinado em 18 de agosto de 1989 pela máfia dos narcoterroristas.
Em resposta, o governo ordena a prisão de numerosas propriedades pertencentes aos chefões do cartel de Medellin e o fechamento da fronteira para impedir a fuga dos traficantes. A máfia, por sua vez, dinamita as sedes dos partidos Liberal e Conservador e multiplica as ameaças de morte. Uma nova guerra entre o governo colombiano e a máfia da droga estava começando.
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Em 1982, Pablo Escobar, um homem muito rico, nascido em Antióquia e de antecedentes desconhecidos, era inicialmente membro do Partido Novo Liberalismo de Galán. O senador conhecia detalhes sobre suas atividades ilegais e publicamente o rejeitava diante dos milhares de apoiadores de Antioquia e de toda a Colômbia.
Veja o anúncio do atentado contra Galán na televisão colombiana, em 1989:
Galán continuava com sua ascendente carreira, abstendo-se, porém, de concorrer às eleições de 1986 a fim de evitar as divisões dentro do seu partido, sendo, no entanto, reeleito uma vez mais como senador. Isso permitiu ao Partido Liberal reconquistar a presidência com a eleição de Virgílio Barco, mas com um terrível custo:o partido perdeu 50% dos votos conquistados na eleição anterior.
[Galan, de vermelho, em foto de arquivo. Imagem: Ivan Marulanda/FlickrCC]
Foi somente com a mediação do ex-presidente Julio César Turbay que Galán retornou ao partido em 1987 tentando ganhar a indicação para candidato presidencial. Galán estava crescentemente incomodado com a violência e a corrupção que os cartéis da droga, chefiados por Escobar e Gonzalo Rodriguez, impunham à Colômbia. Ele tentava respaldar o débil governo de seu correligionário buscando contrabalançar o poder de seus perigosos inimigos.
Início das ameaças
De acordo com relatos, as primeiras ameaças de assassinato foram chamadas telefônicas feitas diretamente para a residência de Galán. Folhetos foram deixados na caixa de correio ameaçando matar ou sequestrar seus filhos. Uma tentativa de matar Galán com uma lança-granadas fracassou quando visitava Medellin em 4 de agosto de 1989. A tentativa foi frustrada pelos homens de Waldemar Quintero que foram avisados. Quintero era o comandante da Polícia Nacional Colombiana em Antióquia e, como Galán, havia sido prefeito de Medellin.
Após esses acontecimentos, Galán e sua família restringiram seus deslocamentos especialmente durante a noite. Dias depois, o staff de Galán recebeu informação da inteligência colombiana alertando-o da presença em Bogotá de um grupo de sicários com a intenção de matá-lo. A equipe o aconselhou a não viajar à cidade de Soacha e que o deslocamento para Valledupar era mais recomendável, uma vez que também estava agendado para participar de um jogo de futebol do qual a seleção estava participando. No último momento, Galán mudou de ideia e ordenou que seus assessores preparassem a viagem para Soacha.
Galán foi morto enquanto caminhava em direção ao palanque, prestes a falar a uma multidão de 10 mil pessoas. O cartel da droga estava preocupado com a possível aprovação no Congresso de um tratado de extradição com os Estados Unidos e imaginava que com o atentado afastaria da votação os inimigos políticos de Galán temerosos de seu crescente poder.
Wikicommons
Palanque em Soacha, Colômbia, no momento do tiroteio que tirou a vida de Galán
Acusados
Segundo John Jairo “Popeye” Velásquez e Luis Carlos “El Mugre” Aguillar, ex-sicários de Escobar, o assassinato foi planejado numa fazenda pelo narcotraficante Gonzalo “El Mexicano” Rodríguez, o líder do Partido Liberal, Alberto Santofimio e outros. Velásquez afirmava que Santofimio tinha certa influência sobre as decisões de Escobar e que o ouviu exclamar “mate-o Pablo, mate-o!”. Outros potenciais bandidos foram mencionados por um membro desmobilizado do grupo paramilitar “Ernesto Baez” das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) que testemunharam que o assassinato de Galán havia sido organizado pela máfia com a participação de elementos corruptos do exército e da DAS (Departamento Administrativo de Segurança), a polícia política.
Em 2004, numa carta escrita por um dos sicários que havia se infiltrado entre os guarda-costas de Galán sugeriu que o assassinato foi executado com a ajuda de um policial corrupto e alguns membros de seu corpo pessoal de segurança, que haviam sido comprados pelos chefões do cartel das drogas, inclusive Escobar. A maioria dos presumíveis sicários presos foram mortos na cadeia ou logo após sua libertação, supostamente para silenciá-los.
Em 13 de maio de 2005, o ex-ministro da Justiça e congressista pelo Partido Liberal, Alberto Santofimio, conhecido por suas estreitas ligações com Escobar durante os anos 1980, foi preso e acusado de ser o autor intelectual do assassinato de Galán.
De acordo com novos depoimentos do chefe do bando de Escobar, John Jario Velásquez, Santofimio teria abertamente sugerido a eliminação de Galán durante um encontro secreto, a fim de eliminar seu rival, para também, no caso de Galán ser eleito presidente, evitar a provável extradição de Escobar. Em 11 de outubro de 2007, Alberto Santofimio foi condenado a 24 anos de reclusão.
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