Alan Israel Cerón Moreno desapareceu em 24 de dezembro de 2011 em Cuernavaca, conhecida como a “cidade da eterna primavera”, pelo clima e qualidade de vida. Ele tinha 20 anos no dia em que um grupo armado de assassinos de aluguel chegou para lhe pedir uma “informação”. Alan estava sentado com alguns amigos ao lado da quadra de futebol em Colonia Plan de Ayala, zona popular da cidade.
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Arquivo pessoal
Alan Cerón tinha apenas 20 anos quanto foi sequestrado na véspera da noite de Natal, em Cuernavaca. Ele nunca mais voltou
Segundo a reconstituição feita pelo pai, José Alfredo Cerón, sete caminhonetes com homens armados chegaram por volta das 19h30, procurando o dono da quadra: queriam matá-lo. “Quando Alan e os três colegas que estavam com ele se recusaram a dizer onde era a casa da pessoa, os assassinos os levaram”, conta. Ele diz que no meio da tarde conversou com Alan e lhe disse para que colocasse garrafas de refresco na geladeira. “’Trouxe a garrafa para que brindemos [na ceia de Natal]?’”, ele me perguntou. Bem, aí está a garrafa. Ninguém tocou nela. Aí está a garrafa que ele tinha me pedido, para que brindássemos naquele dia”, lamenta.
Os assassinos encontraram a casa e começaram a metralhá-la. Em poucos minutos, chegaram algumas patrulhas da polícia municipal e teve início um dos tiroteios mais violentos de Cuernavaca, deixando dois mortos e 11 feridos. Os dois eram policiais ministeriais a serviço do estado vizinho de Guerrero.
Os companheiros de Alan viajavam em uma das caminhonetes, mas conseguiram escapar. Alan, que estava sozinho em outra, desaparece na véspera de Natal. Dois dias depois, em 26 de dezembro de 2011, Rosa María Moreno, mãe do rapaz, recebe uma ligação. Do outro lado da linha está o filho.
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“’Mãe, sou eu, Alan’. Nesse momento, senti que minha vida voltava. Disse-lhe: ‘Onde você está, meu amor, onde você está?’ Ele respondeu ‘mãe, bateram em mim, mas estou bem’. Filho, você sabe onde está? ‘Estou no Ministério Público de Chilpancingo, Guerrero. Mãe, mande dinheiro para eu voltar a Cuernavaca e uma muda de roupa, porque estou muito molhado. Falei ‘para onde mandamos o dinheiro? Só ouvi depois ‘Mãe, me ajude’. Depois, pedi para que chamasse um funcionário do Ministério Público. Disse-lhes para que o mantivessem lá. E eles: ‘Sim, senhora, aqui cuidaremos dele’”.
Os pais de Alan seguiram para Chilpancingo, a duas horas de carro de Cuernavaca. No MP, souberam que ele “havia se cansado e ido embora”. Depois de semanas de investigações, conseguiram descobrir que o garoto foi sequestrado de dentro do MP, com a ajuda dos funcionários. Alan ficou desaparecido por seis meses. Seus pais tiverem que se acorrentar em frente ao palácio do governo do estado de Morelos, organizar marchas e contatar os meios de comunicação para chamar a atenção das autoridades.
Arquivo pessoal
Os pais do rapaz descobriram que ele foi sequestrado de dentro do Ministério Público de Chilpancingo, com a ajuda dos funcionários
Graças ao depoimento de um envolvido no segundo desaparecimento de Alan, descobriram que, naquele 26 de dezembro, homens armados relacionados com a polícia ministerial do estado de Guerrero levaram o rapaz das instalações do MP, onde ele ia denunciar seu primeiro desaparecimento. De lá, ele foi levado para os arredores de Chilpancingo, na estrada que leva a Iguala. Obrigaram-no a escavar um buraco e, após ser espancado e ter as pernas quebradas, recebeu um tiro na cabeça. O corpo ficou semi-enterrado até ser encontrado.
No dia do enterro, Rosa María era outra pessoa. “Você não sabe o que significa para mim tê-lo aqui, comigo. Pode parecer uma loucura, mas saber que o mataram me faz dormir. É o fato de não saber que te mata em vida, estar todo o tempo se perguntando por que o levaram, onde está, se está bem, se sofre. Nós vivemos isso durante meses. Há pessoas que estão há anos nessa incerteza que não te deixa descansar. Agora que sabemos que o que aconteceu, podemos enterrá-lo. Vir rezar por sua alma.”