David L. Reamer
Nong Poonsukwattana do Nong's Khao Man Gai: cardápio famoso por pratos com frango de inspiração tailandesa
Em um meio-dia ensolarado em Portland, Oregon, no que há pouco tempo era um terreno vago, clientes perambulam entre carrinhos de comida coloridos, lendo atentamente menus que anunciam churrasco vegetariano, comida sulista, culinária coreano-mexicana e sucos feitos na hora.
O cheiro de fritura e as mesas sob tendas fazem pensar em algo carnavalesco, mas vários carrinhos de comida em Portland servem pratos bastante saudáveis. O The Big Egg, por exemplo, serve sanduíches e wraps feitos de ovos orgânicos recém-chegados da fazenda, cebolas caramelizadas com vinagre balsâmico e rúcula. Suas embalagens para levar são recicláveis e, ao lado da janela onde são feitos os pedidos, há uma lista das fazendas locais de onde vêm seus ingredientes.
“Não temos um abridor de latas. Fazemos tudo sozinhos, e isso toma muito tempo. E é desse jeito que queremos que seja”, diz Gail Buchanan, que gerencia o The Big Egg junto com sua parceira, Emily D. Morehead.
“Nós normalmente vendemos tudo o que trazemos”, diz Buchanan, enquanto passa para um cliente o último sanduíche do dia, feito com champignons temperados. E, nos fins de semana, clientes fazem fila no quarteirão todo, chegando a esperar 45 minutos pela comida.
Buchanan e Morehead sonharam com a ideia de abrir um restaurante por vários anos. Eles tinham experiência culinária, economizaram dinheiro e gastaram seu tempo livre desenvolvendo pratos para seu menu. “Então, veio 2008”, disse Buchanan. As dificuldades em conseguir empréstimos para negócios após a recessão convenceram os dois a readequarem seu sonho, o que os levou a considerar os carrinhos de comida personalizados. Quando um empresário anunciou que estaria criando um novo parque de “food trucks”, Buchanan e Morehead entraram de cabeça.
Tom Hilton
Movimentação na concentração de food trucks em Portland: cidade na lista de destinos turísticos
Destino turístico
A regulamentação liberal quanto ao uso de terrenos em Portland admite que os comerciantes abram seus negócios — como praças de alimentação com carrinhos de comida — em áreas privadas, como aquela em que o The Big Egg está instalado. O jornal local “Willamette Week” estima que há cerca de 440 carrinhos de comida na área metropolitana.
A cena de carrinhos de rua decolou em Portland de uma maneira que nunca ocorreu em outras cidades, transformando lotes vagos em espaços comunitários e tornando a vizinhança mais habitável e receptivas aos pedestres.
Artigos recentes em publicações como “Sunset”, “Bon Appétit”, “Saveur” e “Food Network” colocaram os carrinhos de comida de Portland na lista de destinos turísticos. Há até mesmo tours a pé visitando os carrinhos de comida.
Apesar do sucesso, Buchanan e Morehead descobriram que gerenciar um carrinho de comida não significa dinheiro fácil. Ambos trabalham 70 horas por semana, passando a maior parte do tempo preparando itens do menu; sua “salsa poblano” [molho de tomate condimentado], por exemplo, demora três horas para ficar pronta. Mas eles são gratos pela experiência. Eles planejam abrir um restaurante brevemente, assim como um número crescente dos vendedores de comida de rua mais populares da cidade. Muitos deles, imigrantes de primeira geração que encontraram uma maneira de ganhar a vida compartilhando tradições culinárias.
Reprodução Facebook
Cardápio saudável no The Big Egg: sem abridor de latas e com ingredientes de fornecedores locais
Intercâmbio cultural
A poucas quadras do The Big Egg, o Wolf and Bear's serve pratos israelenses, da terra natal de Jeremy Garb. Mas trata-se de cozinha israelense com uma influência de Portland, diz sua sócia, Tanna TenHoopen Dolinsky. “É inspirada na comida de Israel, mas plantamos nosso próprio grão-de-bico e assamos tudo na grelha, sem usar uma fritadeira.”
Wolf and Bear's espalhou-se para dois outros lugares e emprega 12 pessoas; Garb e Dolinsky pensam em abrir um restaurante. “Há um sentimento de novas oportunidades em Portland, e eu acho que a ascensão da cultura dos carrinhos de comida é representativa disso”, diz Dolinsky.
Nong Poonsukwattana aproveitou ao máximo essa oportunidade com seu carrinho, Nong's Khao Man Gai, famoso pelo arroz e pratos com frango. Ela descreve seu negócio como o melhor tipo de fast food: “Serviço rápido, mas cozinhado com calma. É fresco. Eu sirvo felicidade”.
Poonsukwattana chegou em 2003 de Bangkok, na Tailândia, com US$70. Ela trabalhou como garçonete em cinco restaurantes diferentes, todos os dias e noites da semana, antes de comprar seu próprio trailer em 2009. Agora, é proprietária de dois carrinhos e uma cozinha comercial de alvenaria, empregando 10 pessoas. Recentemente, começou a engarrafar e vender seu próprio molho.
Poonsukwattana gosta da atmosfera de comunidade dos carrinhos de comida, “mesmo que a concorrência seja intensa”, mas o que lhe agrada particularmente é o intercâmbio cultural com seus clientes, muitos dos quais ela chama pelo nome.
“Eu acho que é sempre bom apoiar o comércio local, negócios familiares ou pequenos negócios, com ideias novas. É bonito ver as pessoas lutarem por conta própria por um futuro melhor para si mesmas”.
Tradução Henrique Mendes
*Texto originalmente publicado em Yes, revista impressa e on-line dedicada à análise dos grandes problemas contemporâneos e possibilidades de solução.
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