A falta de combustível vem provocando enormes filas de carros em postos de gasolina da Argentina. A razão para a escassez, no entanto, ainda não foi suficientemente explicada ao consumidor.
Enquanto a principal petrolífera do país, a ex-estatal YPF – hoje controlada pela espanhola Repsol –, acusa a concorrência (Esso, Shell e Petrobras) de ter diminuído a produção do combustível, as empresas respondem que estão trabalhando a todo vapor e batendo recordes de vendas.
“Todo mundo distribuiu menos combustível para o mercado, menos a YPF”, afirmou ontem (9) o diretor de Comunicação da YPF, Sergio Resumil, à radio Mitre, segundo o jornal Critica. Ele disse que o combustível da concorrência, “que entre janeiro e fevereiro foi de cerca de 200 mil metros cúbicos”, foi comprado da YPF.
Cézaro de Luca/Efe (04/03/2010)
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O aumento da demanda explica, em parte, a falta de gasolina, que já se estende por duas semanas. Segundo dados da Secretaria de Energia, em janeiro as vendas de combustível cresceram na média de todas as empresas 6,5% se comparadas com janeiro de 2009, sendo que as da Esso e YPF aumentaram 11,85% e 9,9% respectivamente.
Na mesma comparação, verificou-se que a Shell vendeu 1,83% a mais, enquanto as vendas da Petrobras diminuíram 6,6%. A Esso trabalhou com 88% da capacidade, a Shell a 86% e a Petrobras, a 75%. A YPF controla 57% do setor e é líder de mercado, sendo o preço do litro do combustível por volta de 30 centavos de peso mais barato que das concorrentes.
Um sintoma da gravidade da situação é que pela primeira vez na história a YPF irá importar combustível. Ontem, Resumil anunciou que a petrolífera vai importar 50 milhões de litros de gasolina premium do Golfo do México na próxima semana.
A cadeia petrolífera reagiu ao desabastecimento e há possibilidade de greve. A Federação de Empresários de Combustíveis afirmou em nota que não descarta convocar uma paralisação caso o abastecimento de gasolina nos postos independentes não seja normalizado. Por sua vez, o sindicato dos frentistas ameaçou iniciar uma greve de 72 horas caso os donos de postos se neguem a aumentar em 30% os salários.
Concorrência
As empresas concorrentes responderam às críticas da YPF. O diretor de Assuntos Públicos da Esso, Tomás Hess, afirmou que “em janeiro a empresa colocou 9% a mais de combustível no mercado; em fevereiro, 13% e em março, 20%” e que “não há razões para o desabastecimento”. Em sua opinião, “a situação é pontual que precisa ser resolvido nos próximos dias, no máximo em uma semana”.
A Petrobras comunicou que não registra qualquer desabastecimento e que “suas refinarias estão operando com normalidade e processando a totalidade de sua produção de petróleo cru” na Argentina. A Shell ressaltou que sua refinaria opera “à máxima potência, o que permite a oferta do óleo aos consumidores”.
Poços de petróleo
O envelhecimento dos poços de petróleo é outro fator apontado para o desabastecimento por especialistas. A produção caiu entre 8% e 10% ao ano no último quinquênio. Há poucas alternativas e cada vez mais as empresas precisam explorar mar adentro, sendo que os resultados são incertos e os custos, elevados. Dessa forma, o reajuste dos preços na bomba de gasolina (40% em dólares desde 2007 até hoje) não é suficiente. “É um problema estrutural. A gasolina seguirá subindo”, afirmou Emilio Apud, ex-secretário de Energia.
“A extração de petróleo na Argentina existe há 100 anos e a produção de muitos poços está diminuindo”, explicou Luciano Gremone, da consultora Standard & Poor’s, a BBC Mundo.
“Ninguém, nem governo nem empresas, investiu no setor para repor as reservas e agora estamos tocando o fundo do poço”, disse o presidente da Associação de Estações de Serviço Independentes, Manuel García. As reservas comprovadas da Argentina estão em 2,042 bilhões de barris – o suficiente para atender plenamente só oito anos da demanda interna.
A Petrobras, em associação com a YPF e com a Pan American Energy (PAE), começou a fazer trabalhos de prospecção em dezembro na Bacia das Malvinas, em águas territoriais argentinas que não estão em disputa com o Reino Unido. Com investimento inicial de 100 milhões de dólares, as três petrolíferas buscam petróleo a quase 300 quilômetros da costa argentina e a dois mil metros de profundidade. A YPF é operadora e detém 33,5% da área, assim como a PAE, enquanto a Petrobras tem 33%.
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