Uma década de crescimento e de políticas sociais não foi o suficiente para acabar com as grandes diferenças de renda na América Latina. O continente é considerado, ainda hoje, como o mais desigual do mundo, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), apresentado ontem (19) no Rio de Janeiro.
“Apesar de todas as melhorias, calculamos que mais de 100 milhões de pessoas moram em favelas”, afirmou o coordenador da pesquisa, Eduardo López Moreno. Isso significa que 22% dos latino-americanos moram em condições precárias.
O coordenador da pesquisa, Eduardo López Moreno
Esta pobreza urbana contribui para manter um nível de desigualdade muito alto. A medida é feita através o coeficiente de Gini, que consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade de renda – onde todos têm a mesma renda – e 1 corresponde à completa desigualdade – onde poucos detém a renda, e a maioria nada tem.
Grupo latino-americano
O relatório mostra que o grupo de paises considerado “extremadamente desigual”, – chamado grupo 6, com um índice de Gini superior a 0,6 – é constituído somente pela Namíbia, a Zâmbia e a África do Sul. No entanto, no grupo 5 – classificado como “muito desigual”, com um índice Gini entre 0,5 e 0,59 – a maioria dos países é latino-americano.
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Republica Dominicana, Equador, Guatemala, e Nicarágua fazem parte desse grupo considerado como “muito preocupante” pelo ONU-HABITAT, já que “pode contrariar o investimento e provocar rebeliões urbanas”.
Segundo Moreno, “as cidades brasileiras e as colombianas estão entre as mais desiguais do mundo”. Enquanto Joanesburgo, na África do Sul, é a cidade que tem o pior índice de Gini (0,75), seguida por Goiania (0,65). Logo depois, encontram-se Fortaleza (0,61), Belo Horizonte (0,61), Brasília (0,60), Curitiba (0,59), Rio de Janeiro (0,53) e São Paulo (0,50).
Com um numero semelhante ao de Fortaleza, Bogotá, a capital colombiana, também faz parte das cidades mais desiguais do mundo, seguidas por outras metrópoles do país andino – Baranquilla (0,57), Calí (0,54), e Medellín (0,51).
A evolução, porém, é positiva: “em 9 de 17 paises estudados na região, temos notado uma pequena diminuição do índice Gini”, reconhece Moreno. Na América Latina, o Brasil, a Argentina, o México e a Colômbia representam juntos 79% da melhora na qualidade de vida conquistada pela região no período.
“Destes países, Argentina e Colômbia foram os que tiveram mais sucesso, reduzindo sua população de habitantes de favelas em 40% graças a melhores moradias e a um melhor acesso ao abastecimento de água e nos serviços de saneamento”, disse o coordenador da pesquisa.
Programas de transferência de renda
Moreno lembrou que em número absoluto, é no Brasil onde a transformação é a mais visível. Segundo ONU-Habitat, cerca de 10,4 milhões de pessoas deixaram de morar em favelas no país nos últimos dez anos. Isso significa que a população das favelas foi reduzida em 16%, um número inferior ao progresso médio da América Latina, que reduziu em 19,5% a população das favelas. “Hoje, 26,4 % da população brasileira mora em assentamentos precários, contra 31,5% no começo da década”, explicou.
O pesquisador demonstrou otimismo em relação ao futuro, já que o avanço maior foi registrado, segundo ele, a partir de 2005. Ele atribui a melhoria a programas de transferência de renda como Bolsa Família, que “aumentaram a renda dos pobres urbanos”. Segundo ele, a quantidade de pessoas em favelas deverá diminuir de maneira expressiva nos próximos anos em razão de novos investimentos, como o lançamento ainda recente do plano “Minha Casa, Minha Vida”, que facilita o financiamento habitacional para famílias de baixa renda.
“Estes programas vão ter um alto sucesso por causa da magnitude dos recursos envolvidos, do número de cidades e do número de pessoas que estão sendo beneficiadas por eles”, afirmou Moreno. O relatório ressalta também a criação do ministério das Cidades, a adoção de uma emenda constitucional afirmando o direito do cidadão à moradia e os subsídios de materiais de construção, terrenos e serviços.
* Texto e foto.
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