Fergana.ru/EFE
Manifestantes aglomerados no jardim do palácio do governo quirguiz, onde enfrentaram a polícia
A oposição anunciou ter assumido o poder no Quirguistão após a fuga do presidente Kurmanbek Bakiev, que teria abandonado a capital, Bishkek, palco de confrontos violentos entre manifestantes e polícia.
“O poder da república está controlado pela oposição. Não se sabe onde o presidente está”, disse Rosa Otunbaieva, ex-chanceler e agora chefe do governo provisório formado pela oposição à agência de notícias russa Interfax.
O Ministério da Saúde do Quirguistão confirmou 40 mortos e mais de 400 feridos nos distúrbios. Já de acordo com Omurbek Tekebaiev, líder da oposição, há cerca de 100 mortos nos protestos pelo país. Ele deu a informação na televisão estatal, ocupada pelos oposicionistas.
Manifestantes da oposição tomaram o prédio do Parlamento, segundo um repórter da agência de notícias francesa France Presse. Também era possível ver fogo no térreo de um prédio de quatro andares da promotoria em Bishkek.
O governo quirguiz havia decretado estado de emergência no país. Os policiais jogaram gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os manifestantes, que usaram um caminhão para tentar derrubar as barreiras em torno do prédio. Em seguida, abriram fogo contra a multidão.
Relatos ainda não confirmados indicam que o ministro do Interior, Moldomussa Kongantiev, estaria entre os mortos.
A agência de notícias quirguiz Kabar informou que uma coluna densa de fumaça preta ainda sai da janela do prédio da promotoria. No parlamento, os manifestantes teriam entrado sem resistência, depredado gabinetes e saqueado equipamentos de escritório. O prédio já havia sido abandonado pelos deputados momentos antes.
Vídeos divulgados pelo website neweurasia.net, especializado em cobertura da Ásia Central, mostram que alguns dos manifestantes estavam armados. Outros usaram capuzes para não serem reconhecidos (veja abaixo).
Os oposicionistas exigiam a renúncia do governo e do presidente Bakiev, no poder desde 2005. Eles abriram passagem até a praça em frente à sede governamental em meio a enfrentamentos com os guardas.
As imprensas quirguiz e russa informam que muitas lojas e escritórios
no centro da capital fecharam as portas. Os locais com acesso à
internet retiraram seus computadores com medo de saques. A polícia
reforçou hoje a vigilância das sedes do governo, do parlamento, da
prefeitura da capital, Bishkek, e de outros edifícios administrativos.
A sede do governo quirguiz fica na esquina entre as ruas Panfilova e Tchuy e é circundado por um
parque e pelo estádio do Spartak Bishkek (mapa acima). A poucos metros,
encontra-se a sede regional da Fundação George Soros, que financia políticas liberais e pró-mercado em países da antiga esfera socialista.
De tulipas a espinhos
Bakiev, engenheiro de profissão, foi vereador, governador provincial e primeiro-ministro de 2000 a 2002, aliado ao então presidente quirguiz, Askar Akaiev. No entanto, depois que policiais mataram jovens manifestantes que protestavam contra o governo, renunciou e passou a liderar o oposicionista Movimento Popular do Quirguistão, até assumir o poder à força, em 2005, na chamada “Revolução das Tulipas”.
Nesta terça-feira (6/4), o país já tinha sofrido distúrbios na cidade de Talas, perto da fronteira com o Cazaquistão. Cerca de 500 manifestantes fizeram o governador local como refém por algumas horas, até serem dispersados por policiais – agindo sob ordens do ministro Kongantiev.
Localização do Quirguistão, antiga república soviética, no continente asiático
O país fica no coração da Ásia Central, região estratégica por abrigar
os maiores volumes de petróleo ainda a serem explorados no mundo e
cercada por um conjunto de instalações militares tanto da Rússia (que
manteve parte da esfera de influência da União Soviética) quanto dos
Estados Unidos. O país abriga a base aérea norte-americana de Manas,
usada como apoio para as tropas em guerra no Afeganistão.
A antiga República Socialista Soviética Quirguiz tornou-se independente com a dissolução da URSS, em 1991, e foi governada de então até 2005 por Askar Akaiev, reeleito duas vezes. Naquele ano, distúrbios orquestrados pela oposição resultaram na chamada “Revolução das Tulipas” – um entre os vários golpes de Estado em repúblicas ex-soviéticas no início da década, como a a “Revolução das Rosas” na Geórgia, em 2003, e a “Revolução Laranja” na Ucrânia, em 2004.
neweurasia.net
Jipe incendiado em frente à sede do parlamento do Quirguistão
neweurasia.net
Vítima do confronto entre manifestantes e policiais é removida do local
(atualizado às 10h30, às 11h30, às 12h30 e às 16h)
*Com Agência Efe.
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