Sob o sol escaldante do começo da tarde em Caracas, chega ao bairro de 23 de Enero a caravana “rojo, rojita” de Khodros, carros de fabricação iraniana chamados de “anti-Bush” pelos venezuelanos e fabricados no país desde 2008. A multidão, que aguardava desde as onze da manhã contida entre cavaletes e filas de soldados, grita e agita com força as bandeiras do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela): “Presidente! Presidente!”. Do primeiro veículo da sequência de carrões, ajeitando o tradicional conjunto esportivo estampado com a bandeira venezuelana, sai o motorista: Hugo Chávez. O primeiro pé para o lado de fora, e logo se ouve o barulho de rojões e de música caribenha em alto volume.
Chávez é acompanhado por uma numerosa comitiva integrada por filhos, netos e candidatos a deputado pela Assembleia Nacional, dentre eles, Robert Serra, postulante ao cargo pelo circuito 2 do Distrito Capital, o mesmo onde o presidente vota. Chávez ingressa na escola municipal Manuel Palacio Fajardo em uma atmosfera de festa. Enquanto os repórteres o esperam em uma espécie de cercado do lado de fora das salas de aula, o presidente cumpre a extensa trajetória do voto, com algumas paradas no caminho para cumprimentar com beijos e abraços mesários. No final, sai com o dedo mindinho pós-mergulhado em tinta roxa, exultante. “Urgente, votou neste momento o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Rafael Chávez Frias”, transmite ofegante uma repórter da rádio venezuelana. Escuta-se palmas.
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“Aqui estão meios de comunicação de todo o mundo. Escutem: não há processo eleitoral como o nosso, sabem? Escrevam isso em suas reportagens. Digam também que a revolução triunfará. O povo está falando e, mais uma vez, vai se impor a voz do povo”, vaticina Chávez, enquanto lhe é entregue uma pequena xícara de metal cheia de café, de um dos leais soldados boinas vermelhas. Ele entorna alguns goles, conforme escuta as perguntas. Parece não prestar atenção em nenhuma delas, mas as responde. Por dois minutos. Nos 15 seguintes, constrói a defesa de seu projeto nacional.
“Aqui o povo não acreditava em política. A revolução bolivariana recuperou um nível alto de credibilidade e o povo está amadurecendo. É estranho que alguns analistas digam que estou balançando e sem apoio popular. Então que convoquem um revogatório. Busquem as assinaturas no lugar de esperar que Chávez seja partido por um raio”, diz às gargalhadas.
Marina Terra
Chávez entre os jornalistas que compareceram à coletiva
Não tão distante do posto designado para a entrevista, o mais contente dos candidatos chavistas do país observa de canto de olho o presidente. De estatura mínima, cabelos negros arquitetonicamente penteados para o céu e trajado de revolução vermelha, Robert Serra está ao lado de outras figuras destacadas do chavismo, como Aristóbulo Isturiz e Cilia Flores, presidente da atual formação da Assembleia. Serra não consegue esconder o júbilo por ter o nome impresso na cédula de Chávez – e de outros milhares de caraquenhos, por supuesto. Conforme o presidente se alonga sobre o sucesso das eleições parlamentares a repórteres nacionais e internacionais, Serra escancara os dentes, feliz.
Divulgação/PSUV
O candidato venezuelano Robert Serra
Os minutos e as respostas se passam, para então o presidente decidir partir, sem antes se explicar: “me disseram que eu tinha somente 30 minutos, dale”. Pouco tempo para a quantidade de questionamentos, percebe-se. Câmeras e microfones correm em pelotão atrás de Chávez que, em um movimento de “vou, não vou”, volta, e estende a mão para um dos jornalistas. Assim que finaliza o cumprimento, alcança a mão da repórter do Opera Mundi. “Sou do Brasil, presidente”, ao que responde: “Uau, Brasil? Adoro o Brasil!”
Momentos antes, o líder da revolução bolivariana havia reservado alguns segundos para falar do país. “A coisa vai bem no Brasil. Há bons ventos por lá e faltam apenas alguns dias” para a eleição, em referências às eleições gerais de 3 de outubro. “Lula parte da presidência do Brasil com 80% de apoio do povo brasileiro, e quem chega terá igualzinho 80% para continuar governando o Brasil pelo mesmo caminho, criando a união sul-americana e a libertação do nosso povo”, diz.
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