O governo do Paraguai decidiu retirar o pedido de entrada da Venezuela no Mercosul diante da iminente derrota no Senado e evitou, assim, um mal-estar diplomático e possíveis consequências sobre a dívida com a petroleira venezuelana PDVSA, de cerca de 290 milhões de dólares, que estava sendo negociada.
As ações do presidente venezuelano, Hugo Chávez, contra a imprensa foram determinantes para que os setores mais conservadores do Legislativo paraguaio manifestassem, de antemão, sua decisão. Agora, a situação se torna mais complicada para o governo paraguaio, tendo em conta os interesses políticos e econômicos com a Venezuela.
Para a analista política Milda Rivarola, as relações entre Paraguai e Venezuela seguirão normais, porque, de fato, não há muita troca entre os países. “Não haverá nada importante nesse sentido”, assinalou. Rivarola diz ainda que Lugo sabia que não teria votos suficientes no Senado para aprovação e, por isso, retirou o pedido. “Não é a primeira vez que [Lugo] faz isso. Já o fez em um caso de designação de embaixador, entre outros”, afirmou.
Leia também:
Paraguai retira do Senado pedido de adesão da Venezuela ao Mercosul
Posicionamento dos senadores
Atitudes recentes de Chávez, como o fechamento de rádios que operariam ilegalmente no país, e fatos violentos como a invasão à rede de televisão Globovisón por seguidores do presidente venezuelano, afloraram o já existente antichavismo dos senadores das bancadas majoritárias da Associação Nacional Republicana (ANR), do Partido Colorado e da União Nacional de Cidadãos Éticos (Unace), liderada por Lino César Oviedo, além de alguns liberais.
Diante da pouca probabilidade de que o pedido obtivesse votos suficientes para aprovação em plenário, Lugo e seus assessores optaram por retirá-lo do Congresso, através de carta enviada ao presidente do Senado, Miguel Carrizosa (Partido Pátria Querida).
“O chanceler [Héctor Lacognata] havia me consultado sobre a situação e a eventualidade de retirar o pedido, e isso aconteceu”, disse Carrizosa. Ele afirmou que o governo possui o pleno direito de retirar seus requerimentos no momento em que considerar oportuno, como o fez nesta ocasião. “Considero que foi o melhor em vista da situação; é um direito que tem o Executivo. Acredito que, politicamente, foi o melhor”.
Carrizosa afirmou ainda que, pessoalmente, sua postura era simplesmente não tratar o tema no Senado até que se visualizasse os acordos no rumo político. O senador também criticou a atuação do presidente Chávez com relação ao fechamento das rádios e emissoras de televisão e à promoção da emenda constitucional que permite a reeleição indefinidas vezes.
Por sua vez, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Miguel Abdón Saguier (Partido Liberal Radical Autêntico), vê como uma conveniência econômica a entrada da Venezuela no Mercosul, apesar das críticas dos colegas. “A Venezuela pode ser um grande mercado para os produtos paraguaios”, disse Saguier. Ele lamentou as posições extremas dos senadores que impediram a aproximação com os venezuelanos e que obrigaram o governo paraguaio a retirar o pedido que deveria ser votado na última sessão do Senado.
A dívida da Petropar
O presidente do congresso paraguaio, Miguel Carrizosa, também expressou desacordo com a crescente dívida da empresa estatal Petróleos Paraguaios (Petropar) com a PDVSA pela compra de petróleo, pois acredita que a situação, no futuro, pode abrir caminho para a interferência da Venezuela na política paraguaia.
Consultado a esse respeito, o presidente da petroleira estatal paraguaia, Juan González Meyer, disse que as negociações com a PDVSA se realizam na esfera técnica, porém, sem dúvida, a questão política tem sua importância dentro das reuniões. Ele também não descartou que a possibilidade de haver represálias por parte do governo de Chávez, tendo em conta que a empresa venezuelana é a principal fornecedora de carburante (combustível usado nos motores a explosão ou de combustão interna) ao mercado paraguaio e, ao mesmo tempo, sua credora.
A dívida que a Petropar mantém com a estatal de petróleo da Venezuela chega a aproximadamente 295 milhões de dólares, dos quais mais de 25 milhões estão em atraso. Há algumas semanas foi entregue a proposta paraguaia para pagamento da conta, cujos interesses são considerados muito elevados. Com este novo panorama político, a questão não se mostra muito favorável para os interesses paraguaios.
NULL
NULL
NULL