O navio Ocean Viking, operado pela ONG SOS Mediterrâneo, será recebido sexta-feira (11/11) em Toulon, um porto no sul de França, “de forma excepcional”, anunciou o governo francês. Paris criticou a “escolha incompreensível” da Itália de não acolher a embarcação, com 230 migrantes a bordo.
A queda de braço entre a França e a Itália sobre o destino dos migrantes do Ocean Viking já dura vários dias. Nesta quinta-feira (10/11), o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, indicou que o navio será acolhido excepcionalmente, “levando em conta os quinze dias de espera no mar que as autoridades italianas fizeram passar os passageiros”. Ele também classificou de “incompreensível” a decisão da Itália de não receber a embarcação.
Em protesto, a França decidiu suspender “com efeito imediato” a recepção prevista para este verão de 3.500 refugiados atualmente na Itália. Além disso, o governo francês pretende analisar as consequências desta atitude para as relações bilaterais entre os dois países, reiterou Darmanin.
Parte dos migrantes serão recebidos pela França
“Um terço” dos migrantes a bordo será recebido pela França, segundo o ministro. Aqueles que não cumprirem os critérios como requerentes de asilo “serão devolvidos diretamente”, acrescentou Darmanin, sem fornecer mais detalhes.
Na quinta-feira, quatro migrantes do navio foram retirados por helicóptero por motivos de saúde, e encaminhados à ilha da Córsega, no Mar Mediterrâneo. Um dos pacientes, em estado grave desde 27 de outubro, corre risco de vida, indicou a ONG SOS Mediterrâneo.
Twitter/SOS Mediterrâneo
Queda de braço entre França e a Itália sobre destino dos migrantes do Ocean Viking já dura vários dias
Os migrantes foram resgatados há quase três semanas pelo navio, entre a costa da Líbia e da Itália. Eles tentavam chegar à Europa em embarcações improvisadas. Após 20 dias pedindo autorização a países europeus para atracar, a SOS Mediterrâneo afirmou sentir “um alívio misturado à amargura” após o anúncio da França.
“A situação do Ocean Viking mostra que é urgente que os Estados europeus coloquem em prática um mecanismo de repartição perene” para os migrantes resgatados no Mediterrâneo, declarou a diretora da ONG, Sophie Beau, denunciando o “calvário vivido pelas pessoas resgatadas” pelo barco humanitário.
Tragédia humanitária
Na tarde desta quinta-feira, o Ocean Viking se aproximava da costa leste da Córsega. A Comissão Europeia disse na quarta-feira (9) que “a situação a bordo do navio atingiu um nível crítico e deveria ser resolvida urgentemente para evitar uma tragédia humanitária”.
Cerca de 800 pessoas de outros três navios puderam desembarcar na ilha italiana da Sicília e na Calábria (sul) na terça-feira (08/11). Primeiramente, a Itália aceitou receber apenas as mulheres, crianças e doentes. Roma afirmou que essa é uma forma de pressionar a União Europeia a repassar mais ajudas para gerenciar o acolhimento de migrantes.
Desde o último mês de junho, um sistema de realocação de migrantes – que já havia passado por uma primeira fase em 2019 – prevê que uma dezena de países da UE, entre eles França e Alemanha, recebam voluntariamente 8.000 migrantes de países como a Itália, próximos à costa líbia. No entanto, apenas 164 migrantes foram transferidos em 2022 da Itália para outros estados-membros, incluindo 117 sob o mecanismo adotado em junho.
Para a Itália, esse número é insuficiente. O país afirma que mais de 88 mil migrantes desembarcaram em seu litoral desde 1º de janeiro, dos quais apenas 14% por meio de navios humanitários.