Alunos, funcionários e pessoas de fora da Universidade de São Paulo (USP) deram continuidade com as manifestações de solidariedade aos palestinos nesta quarta-feira (08/05) no acampamento montado no pátio da faculdade de História e Geografia da instituição.
Um desses manifestantes era Noah Seligmann Silva Brandsch. Estudante de história da universidade e integrante do movimento Faísca Revolucionária, estava desde o primeiro dia do acampamento ajudando na mobilização e minimizou as provocações sionistas que a manifestação recebeu, afirmando que elas fazem parte de uma aliança de grupos de extrema direita e sionistas que querem “destruir” o ato.
“Para evitar esse tipo de ataque, nos articulamos para fazer uma auto-organização em aliança com os trabalhadores aqui no acampamento com missões para garantir a segurança da mobilização”, disse.
De família judaica, Brandsch afirmou que é contra a ideologia sionista ao se juntar em defesa da Palestina, mas argumenta que na comunidade judaica há a “sensibilidade” de entender que os ataques do governo de Benjamin Netanyahu fazem parte de um “projeto político do imperialismo”.
Na mesma linha que o estudante, por exemplo, o Coletivo Vozes Judaicas por Libertação marcou presença no acampamento, sendo um dos movimentos que apoiaram a realização do ato.
Brandsch declarou que está ali por também não acreditar no que a mídia hegemônica “propaga sobre a guerra” e que faz parte do acampamento por isso, mesmo “colocando minha vida pessoal e acadêmica em risco” para “poder defender o povo palestino”.
“Temos o acampamento que foi bastante inspirado nos atos de fora, principalmente nos Estados Unidos, para justamente exigir esse rompimento [das universidades com instituições israelenses] e também se conectar com a causa palestina”, declarou.
Acampamento na USP
O ato na Universidade de São Paulo teve início após a ação semelhante que ocorreu em diversas universidades nos Estados Unidos e também na Europa. No caso brasileiro, além das demandas de solidariedade e cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, os estudantes exigem o fim das parceiras acadêmicas das faculdades do país, com a USP inclusa, com programas estudantis israelenses.
Nesse sentido, cartazes expostos durante o acampamento pedem o fim da relação com Israel, falando em uma USP “livre de apartheid e genocídio”, “liberdade para os palestinos presos”, “pelo fim do genocídio palestino” e ainda a exigência que o governo Lula deixe de “alimentar” a guerra ao comprar armas de Tel Aviv.
Por mais que o ato de quarta-feira tenha sido pacífico, com mesa de debate e apresentação artística, um receio de novas provocações pró-Israel rondava o espaço. Isso por que, no dia anterior, que marcou a primeira noite do acampamento, um aluno contrário à manifestação foi retirado do local aos gritos de “fora sionista”.
O episódio resultou em um esquema mais sólido de segurança, com os próprios alunos ali presentes realizando escoltas durante a programação, que contou inclusive com a participação do jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi.
Já para Adriana *, que faz parte da comunidade libanesa palestina, a mobilização na USP é uma forma de “expor a necessidade de cortar relações com Israel”.
A Opera Mundi, a ativista, que não é estudante da USP mas acompanhava o ato, fez questão de corroborar que o acampamento era uma espaço “pacífico” com o intuito somente de somar forças para prestar solidariedade aos palestinos e pedir o corte com Tel Aviv.
“O objetivo é educar as pessoas para que elas saibam a verdade desta guerra de Israel contra os palestinos”, disse.
Ato como propulsar de novas mobilizações
O fundador de Opera Mundi, Breno Altman, foi um dos convidados a participar da mesa de debates que ocorreu na noite de quarta no acampamento. O jornalista expressou sua solidariedade aos estudantes que realizam a mobilização, incentivando que o ato seja o primeiro de outros nas universidades brasileiras.
Altman disse que as manifestações fazem parte de uma pressão para que o governo Lula rompa relações com Israel. Para ele, uma decisão do mandatário brasileiro pode “impulsionar a América Latina a colocar Israel como párea na comunidade internacional”.
“Cada um tem sua responsabilidade para que a adesão da causa palestina aumente. Há risco de repressão, mas tem que estar pronto para não cair nas armadilhas que tentam colocar, como relacionar antissionismo com antissemitismo”, afirmou.
(*) Nome fictício para preservar a imagem da entrevistada.