Na manhã de 5 de setembro de 1661, o então todo-poderoso ministro das Finanças da França, Nicolas Fouquet (à esquerda/Wikicommons), cai em desgraça e é preso em Nantes. Sua brutal queda sobreveio seis meses após a morte de seu mentor, o primeiro ministro Jules Mazarin, que deixou o campo livre ao jovem rei Luis XIV, 22 anos, para dirigir como bem entendesse os negócios do reino.
Filho de um armador bretão que se passou para a magistratura, Fouquet servira com diligência ao cardeal Mazarin.
Organizou as finanças do Estado após a guerra civil da Fronde em 1649 e a guerra contra a Espanha de 1635 a 1659, ambas ruinosas para o país. Mas se aproveitou do cargo para enriquecer bastante, como Mazarin. Assumindo funções complementares de Procurador-Geral e membro do Conselho do rei, tornou-se, aos 46 anos, o homem mais influente e o mais rico do reino.
Apresentava-se, naturalmente, como o provável sucessor de Mazarin na chefia do governo. Todavia este, em seu leito de morte, preferiu recomendar ao rei o intendente de Finanças, Jean-Baptiste Colbert, 43 anos. Este também se havia enriquecido mas, ao contrário de Fouquet, se distinguia pelos seus modos austeros.
A morte de Mazarin ocorreu em em Vincennes, 9 de março de 1661. Alguns dias depois, Luis XIV encarrega Colbert de auditar as contas do ministro Fouquet. Descobriu que este desviara, em proveito próprio, um total de 11 milhões de libras. As receitas anuais do Estado eram da ordem de 100 milhões de libras.
Ambicionando ocupar a pasta de Fouquet, Colbert não se faz de rogado em denunciar ao rei as malversações. O monarca indignado exclama ‘‘como pode um homem tornar-se árbitro soberano do Estado?’’.
Dotado de bom gosto e grande mecenas, Fouquet fez-se rodear dos maiores talentos de sua época. Seu trato agradável e mais ainda sua generosidade lhe garantiam numerosos e fieis apoios entre as pessoas influentes da corte, entre elas a rainha-mãe Ana da Áustria. Ele se acreditava intocável.
No entanto, em 14 de maio de 1661, Colbert sugere ao rei nada menos que a prisão de Fouquet. Lis XIV o escuta com interesse.
Por volta de 15 de junho, o rei toma conhecimento de um plano secreto do ministro que, para responder a um eventual defenestramento, visava nada menos que colocar em pé de guerra diversas fortalezas. Tratava-se de um retorno à guerra civil.
O rei via em Fouquet uma ameaça à monarquia e decide dele se desfazer sem perda de tempo. Porém, devia tomar algumas precauções pois os numerosos amigos de Fouquet poderiam apoiá-lo se desconfiassem de algo.
Mal avaliando a precariedade de sua situação, Fouquet continua comportando-se com fausto. Lança um convite ao rei e à corte ao seu castelo de Vaux. A festa é extraordinariamente suntuosa . O ministro, contudo, percebe sua falsa manobra.
Luis XIV prende-se à sua decisão inicial e prepara o golpe na maior discrição. No começo de setembro, viaja com a corte a Nantes a pretexto de presidir os Estados Gerais da Bretanha. Na manhã de 4 de setembro, após a reunião do Conselho, retém Fouquet consigo para uma conversa informal a fim de dissipar eventual desconfiança.
Fouquet era proprietário de uma vasta área de Belle-île e lá mandara construir uma fortaleza onde pudesse se refugiar em caso de necessidade, e se aprestou a instalar regimentos de mercenários alemães.
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À porta do gabinete do rei esperavam alguns mosqueteiros sob as ordens do sub-tenente Charles de Batz-Castelmore, senhor d'Artagnan – exatamente o herói, muito tempo depois, do escritor Alexandre Dumas. O rei dera ordem a d'Artagnan de prender Fouquet discretamente, já que o capitão do corpo de guardas não era muito confiável devido aos muitos favores recebidos do ministro.
Assim que Fouquet atravessou a porta de seu gabinete foi assediado por uma multidão de solicitantes, de modo que os mosqueteiros não puderam fazer seu trabalho. Só mais tarde, na catedral é que foi alcançado e interpelado.
Levado preso à Bastilha em Paris, seu processo só teve início três anos depois, em novembro de 1664. Instruido por uma corte especial nomeada pelo próprio rei, o julgamento iria durar outros três anos, totalmente por escrito e com base no dossiê compilado por Colbert.
O procurador pede a morte na forca por crime de alta traição, porém os amigos de Fouquet pressionam a corte e o ministro é condenado a um simples banimento.
Luis XIV teria preferido a morte, mas ainda assim valeu-se de seu direito real para agravar a pena, transformando o banimento em prisão perpétua. Fouquet passaria os 16 derradeiros anos de sua vida na sinistra prisão de Pignerol, nos Alpes Piemonteses.
Também nesse dia:
1887 – Chefe sioux Cavalo louco é morto durante tentativa de prisão em Camp Robinson
1970 – Jochen Rindt morre no GP da Itália para tornar-se único campeão póstumo da F-1
1972 – Setembro Negro sequestra atletas de Israel na Olimpíada de Munique
1977 – Hans Schleyer é sequestrado pelo Baader-Meinhof
1997 – Morrie Madre Teresa de Calcutá