O Ministério de Energia e Minas da Nicarágua anunciou um plano de curto e médio prazos ambicioso, que pretende mudar de forma radical a matriz energética do país, reduzindo, até 2016, a geração de energia a partir de combustíveis fósseis dos atuais 65% para 10% da geração total.
Para alcançar esse objetivo, o governo nicaraguense promoverá nos próximos anos vários projetos de energia renovável, entre eles a hidroelétrica de Tumarín. É um projeto cuja construção e operação ficará a cargo da sociedade público-privada Centrais Hidroelétricas da Nicarágua (CHN), sendo que os sócios principais são os brasileiros Queiroz Galvão e Eletrobras.
Giorgio Trucchi
Imagem aérea da localização das obras da hidroelétrica de Tumarín, no Rio Grande de Matagalpa
Atualmente, a geração de energia na Nicarágua é fortemente vinculada ao petróleo e o aproveitamento de seu potencial energético de fontes renováveis é muito baixo. Além disso, sua Intensidade Energética – quantidade de energia utilizada por mil dólares produzidos – está entre as mais elevadas do continente latino-americano e 50% da energia consumida ainda têm como fonte a biomassa.
“Temos um potencial, entre hidroelétrico, geotérmico e eólico, de 4.500 MW, e só estamos explorando 250 MW, ou seja, menos de 6%”, disse ao Opera Mundi o ministro de Energia e Minas, Emilio Rappaccioli.
A situação piorou durante os primeiros anos do novo século, quando a obsolescência das usinas térmicas e o alto custo do petróleo provocaram racionamentos sistemáticos de energia e graves danos à economia nacional. Segundo o titular do MEM, uma das prioridades do novo governo foi enfrentar a crise energética e estudar um plano que resolvesse o problema.
Nos últimos quatro anos o governo sandinista concentrou sua ação em três linhas de trabalho: aumentar a capacidade de geração e mudar a matriz energética, ampliar a cobertura do serviço de eletricidade no país e melhorar a eficiência e a economia de energia.
Graças ao apoio solidário de países como Venezuela, Cuba e Taiwan, foram instaladas novas plantas que geraram 280 MW. A cobertura do serviço de eletricidade aumentou de 54% a 67%, enquanto a produção de energia a partir de combustíveis fósseis diminuiu de 74% a 65%.
“Pusemos fim aos racionamentos de energia e levamos a eletricidade a 895 comunidades, 44 mil lares, beneficiando 262 mil pessoas. Além disso, foram instalados dois mil quilômetros de linhas elétricas, 5,7 mil painéis fotovoltaicos e micro e pequenas centrais hidroelétricas em regiões onde não foi possível chegar com a rede”, disse Rappaccioli.
“É obvio”, continuou ele, “que não podemos resolver o problema com uma varinha mágica, mas a Nicarágua caminha rumo a esses objetivos”. Em quatro anos (2007-2010), o governo instalou 343 MW, ou seja, uma média de quase 90 MW por ano. “É um resultado muito importante se comparado com os 16 MW por ano instalados pelos governos neoliberais nos 16 anos anteriores”, lembrou o ministro.
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Projeto Tumarín
Rappaccioli também observou que o país já está no rumo de uma mudança definitiva da matriz energética. Segundo os planos do governo, até 2016, mais de 90% da geração de energia será a partir de fontes renováveis.
No período 2011-2016, serão gerados 600 MW, principalmente com projetos geotérmicos (San Jacinto-Tizate) e hidroelétricos (Tumarín, Larreynaga, Hidro-Pantasma, Ye-Ye). Além disso, no período 2017-2025, serão somados mais 290 MW, o que significará a independência em relação ao petróleo.
Entre os projetos a desenvolver destaca-se a hidroelétrica de Tumarín, cuja construção começará no final de março de 2011 e terminará no quarto trimestre de 2014. A realização da obra e a administração estarão a cargo da CHN, cujos sócios principais são a Centrais Hidroelétricas da América Central (CHC), liderada pelo grupo Queiroz Galvão, a Eletrobras e a Empresa Nicaraguense de Eletricidade (Enel), subordinada ao MEM.
Esse importante projeto, que será desenvolvido sobre as águas do Rio Grande de Matagalpa, na Região Autônoma do Atlântico Sul (RAAS), prevê um investimento de mais de 1,1 bilhão de dólares, que serão aportados por diferentes entidades financeiras, entre elas o brasileiro BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o BCIE (Banco Centroamericano de Integração Econômica).
“O interesse do Brasil em investir em nosso país surgiu em 2007, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a Nicarágua”, confirmou o presidente Daniel Ortega durante a apresentação do projeto. “Tumarín é um projeto que trará consigo programas de construção de estradas, ampliação do sistema nacional de distribuição de energia, programas sociais e ambientais, e conta com o apoio do povo, governo e duas empresas do Brasil.”
Giorgio Trucchi
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, apresenta o projeto da hidroelétrica de Tumarín a jornalistas
Segundo Marcelo Conde, presidente da CHN, a hidroelétrica de Tumarín terá uma potência instalada de 253 MW, com uma geração anual estimada em 1.162 GWh. Contará com uma subestação com uma linha de transmissão de 70 quilômetros de extensão, uma represa de 55 quilômetros quadrados e uma barragem de 60 metros de altura.
“Isso significará uma mudança efetiva na matriz energética do país, representando 27% da geração de energia. Além disso, garantirá uma economia média de 50 milhões de dólares por ano para os consumidores e 117 milhões para o Estado. Em dez anos, a Nicarágua economizará 2,15 bilhões de dólares de compras de petróleo”, explicou Conde em entrevista coletiva.
O projeto já conta com a aprovação e as licenças de todas as instituições regionais e centrais da Nicarágua. A CHN obteve uma Licença de Geração Hidroelétrica e outra de Aproveitamento da Água por um prazo de 30 anos, sob o modelo BOT (Build, Operate and Transfer, ou Construir, Operar e Transferir), pelo qual a Enel obterá de imediato pelo menos 10% do pacote acionário da sociedade e a usina será transferida ao parque gerador estatal nicaraguense depois de concluído o período da concessão. O início da operação está previsto para o quarto trimestre de 2014.
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Desafios futuros
Para 2011, o MEM prevê a extensão da rede elétrica para mais 293 comunidades e o desenvolvimento, em 42 pontos do país, do programa Eurosolar, financiado pela União Europeia (1,7 milhão de euros) e com 10% de recursos nacionais.
“Também continuaremos os projetos geotérmicos e hidroelétricos e promoveremos o Programa Nacional de Eletrificação Sustentável e Energia Renovável (Pneser), financiado pelo BID e outras organizações internacionais”, afirmou o ministro Rappaccioli. “No total, planejamos investir dois bilhões de dólares nos próximos anos para alcançar a independência do petróleo.”
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