Um monumento à ruína, para uns. Um emblema que manterá viva a história, para outros. O “novo” Neues Museum decididamente não passa despercebido. Nos dias 6, 7 e 8 de março último, o museu, ainda vazio, abriu suas portas para se submeter ao escrutínio dos berlinenses. Na ocasião, a imprensa alemã, em geral, se mostrou benevolente com o resultado.
O jornal semanal Die Zeit assegurou que “Não há outro centro de arte em Berlim mais emocionante que este”; o Frankfurter Rundschau destacou “o heroico espírito de síntese” de Chipperfield, e o Tagesspiegel ressaltou o gosto com que os berlinenses descobriram esse novo espaço. Até o ministro da Cultura alemão, Bernd Neumann, qualificou de “maravilhosa” a preservação do museu e elogiou a “restauração arqueológica feita pelo arquiteto inglês.
“Ele representa o símbolo da reunificação das coleções da Ilha dos Museus, mas também a restauração da identidade política no vigésimo aniversário da queda do muro”, comentou Dietrich Wildung, diretor do Museu Egípcio, em 5 de março. No mesmo dia, Chipperfield devolveu as chaves do espaço ao prefeito de Berlim, Klaus Wowereit.
Patrimônio cultural reunificado
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o patrimônio cultural da Alemanha também foi dividido. A Ilha dos Museus ficou no território controlado pela República Democrática Alemã (RDA ou Alemanha Oriental) e as coleções dos cinco museus foram repartidas. Veio então um período de abandono que deteriorou ainda mais o já maltratado Neues Museum. E embora tenha havido uma tentativa de colocá-lo em pé, a falta de orçamento a impediu.
Com a unificação das duas Alemanhas em 1990, iniciou-se o projeto de recuperação da Ilha. A intenção do governo alemão era devolver a majestade e a importância cultural que esse complexo de museus teve em suas origens, quando os reis da Prússia mandaram construí-lo no final do século 19.
Com um orçamento próximo de 1 bilhão de euros, os cinco museus estão agora abertos ao público: o Museu de Pérgamo, o Altes Museum (Museu Antigo), a Alte Nationgalerie (Antiga Galeria Nacional) e o Museu Bode.
Os cinco espaços abrigam 6 mil anos de história e expõem as maiores coleções de arte antiga. O Altes Museum tem uma impressionante coleção de antiguidades na qual se destaca a rotunda de dois andares de Friedrich Schinkel – o arquiteto alemão mais proeminente do neoclacissismo do século 19 – e o acervo egípcio, cuja joia principal é o busto de Nefertiti. A Alte Nationalgalerie exibe pinturas e esculturas do século 19. Já o Museu do Pérgamo guarda as coleções do museu do Oriente Médio e de Arte Islâmica, onde se pode admirar a Porta de Ishtar que servia da entrada para a Babilônia. O Museu Bode expõe a mais importante coleção sobre o desenvolvimento da escultura européia. E, por fim, há o Neues Museum, que a partir de outubro receberá o museu egípcio e a coleção de papiros além do museu de Pré-História Antiga.
Uma grande peregrinação
Em 1939, quando a Segunda Guerra Mundial era iminente, o Terceiro Reich decidiu salvar as valiosas coleções que o Neues Museum abrigava. Não se tratava de uma coleção qualquer. Entre os valiosos tesouros encontrados pela arqueologia alemã no Egito antigo e depositados neste local, destacava-se o busto da rainha Nefertiti. Quando as bombas caíram sobre Berlim, o belo busto estava guardado por ordens de Hitler numa mina da Turíngia, no leste da Alemanha. Foi ali que as tropas aliadas o encontraram. No território do Ocidente, a joia egípcia foi exibida fora do setor controlado pelas tropas americanas e, em 1967, as autoridades a colocaram num museu do bairro de Charlottenburg, no lado ocidental de Berlim.
Com a reunificação do país, Nefertiti peregrinou de um local para outro até ser finalmente colocada no Altes Museum. A rainha do Nilo realizou o que parece sua última viagem neste mês de outubro. Foram apenas 500 metros de distância até voltar ao lugar ao qual chegou pela primeira vez direto do Egito: o Neues Museum.
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