Desde 1974, o Chipre está dividido em
dois país: um ao Sul, cujo governo é reconhecido pela maior parte dos
países, e outro ao Norte, a República Turca do Chipre do Norte,
reconhecida apenas pelo governo turco.
Foi a Turquia que, em 1974, ocupou a
parte norte da ilha mediterrânea, impedindo que um golpe militar
apoiado pela Grécia impusesse um novo governo para todo o território.
Como na antiga Berlim, um muro divide
a principal cidade do Chipre, Nicósia, com pouco mais de 300 mil
habitantes. Como na Coreia de hoje, há uma zona de proteção (buffer zone), separando os dois territórios.
Para evitar confrontos entre
greco-cipriotas e turco-cipriotas, uma missão de paz da ONU, a UNFICYP
(Missão das Nações Unidas para a Manutenção da Paz em Chipre), atua na
ilha.
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O almirante Mario Sánchez Debernardi, peruano, é o atual chefe da missão da UNFICYP. Nesta entrevista ao Opera Mundi, ele descreve como é a atuação da missão no país.
A amizade entre o ex-presidente Mehmet
Ali Talat (da República Turca do Chipre Norte, que governou o país até
o último mês de abril) e o greco-cipriota Dimitris Christofias teve
influência política de fato ou foi só uma coincidência?
Foi um fator importante, mas sem influência política no processo. A
“química” entre os líderes permitiu um ambiente de camaradagem e
franqueza nas reuniões. Mesmo assim, antes de eles irem à mesa de
negociações com os assessores e membros da ONU, reuniam-se em
particular por 60 a 90 minutos para discutir. Não sabíamos do que
estavam falando, mas normalmente saíam sorridentes e prontos para as
plenárias.
Em março, houve uma declaração de boas intenções entre as duas partes.
Desde setembro 2008, com o lançamento oficial do novo processo de
negociação, os líderes dos dois lados dezenas de reuniões. Ao final
delas (não em todas, mas sim na maioria delas), divulgaram-se
declarações de boas intenções e resumo dos tratados.
Que medidas de confiança de caráter militar foram aplicadas desde a retomada das negociações em 2008?
Uma das principais tarefas do componente militar na UNFICYP é manter o
status quo na zona de proteção. Mas um passo importante foi tomado em
2009: entregar às forças em confronto (turcas no norte e a guarda
nacional grega no sul) um pacote com 20 medidas de confiança mútua, a
maioria sobre a desativação de postos de observação. O documento ainda
está em estudo pelas partes porque são temas muito sensíveis para eles.
As forças turcas no norte têm facilitado os trabalhos da Comissão de
Pessoas Desaparecidas em áreas reservadas, classificadas como “zona
militar”. Também avançamos com um novo acordo para que as forças turcas
e a guarda nacional deem informação e autorização para trabalhos de
remoção de minas terrestres na zona de proteção. Outro fato importante
no meu período foi obter o cancelamento, em 2008, 2009 e 2010, dos
exercícios militares que as forças adversárias faziam anualmente. Os
exercícios traziam como consequência demonstrações de força e tensões
que não fazem bem ao processo de paz.
A UNFICYP informa que ocorrem mil incidentes por ano. Quais foram os mais comuns e os mais graves em 2008-2009?
Em 2008, houve 700 incidentes militares menores e, em 2009, foram 600.
O único grave ocorreu ao final de 2008, quando uma granada foi parar no
sul por erro durante um exercício do exército do norte e caiu em uma
casa em Nicósia, mas sem causar vítimas. Os turcos apresentaram uma
desculpa formal e ficou tudo bem. Mas há mais incidentes civis. Os
cidadãos penetram na zona de proteção sem autorização para semear ou
colher, construir casas ou caçar.
A missão tem avançado na remoção de minas terrestres?
Há progressos, sim. Dos 72 campos minados, em 59 houve desativação e
foram destruídas mais de 20 mil minas. Em maio, as forcas turcas
autorizaram a desativação de mais doze campos minados (nove na zona de
proteção e três fora dela). As forças em confronto colaboram com as
Nações Unidas com informações e permitindo o acesso às zonas minadas.
Os campos minados estão sinalizados, mas há civis que entram nas áreas
sem autorização. A UNFICYP supervisiona o trabalho de remoção que é
feito por outras equipes contratadas.
Até agora são encontradas valas comuns e procuradas pessoas desaparecidas.
O conflito no Chipre começou em 1963, com o confronto entre as
comunidades greco-cipriota e turco-cipriota. Desde os episódios de
violência, houve relatos de pessoas desaparecidas. Durante a
intervenção da Turquia, em 1974, os relatos aumentaram. Oficialmente, a
Comissão de Pessoas Desaparecidas recebeu relatos de 502
turco-cipriotas e 1.493 greco-cipriotas desaparecidos.
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