A apenas um dia das primeiras eleições do Egito após a queda do ex-ditador Hosni Mubarak (1981-2011), o clima nas ruas do Cairo é um misto de euforia, esperança, ansiedade e dúvida. Após uma nova onda de protestos – dessa vez contra os militares que tomaram o poder –, dois adiamentos na data das eleições parlamentares, mudança de ministros e nomeação de novo primeiro-ministro, os 50 milhões de eleitores parecem ainda não entender nem a formação dos partidos nem o programa de cada bloco que concorre nas eleições de segunda-feira (28/11).
Efe (24/11/2011)
Há oito dias os manifestantes se reúnem na Praça Tahrir contra o governo da Junta Militar
O cenário político não poderia ser mais complicado. São 47 partidos, a grande maioria formada depois da revolução iniciada em 25 de janeiro. Durante sua administração, Mubarak acabou com a oposição e colocou na ilegalidade qualquer partido político baseado em fundamento religioso, como a Irmandade Muçulmana. Nas eleições de 1987, 1993, 1995 e 1999, Mubarak foi o único candidato. Em 2005, pela primeira vez, outros partidos puderam participar, mas o veto à Irmandade foi mantido. Houve dez candidatos e o governo saiu vitorioso, com 88,6% dos votos.
Esse panorama agora mudou. No Egito, o Parlamento é bicameral – Assembleia do Povo (câmara baixa) e Conselho Shura (câmara alta) – e as eleições acontecem em três etapas, divididas pelos “governorates” (Estados). Em cada etapa, nove Estados são convocados às urnas. A primeira etapa, que acontece na segunda-feira, inclui as duas maiores cidades do Egito: Cairo e Alexandria. A segunda etapa acontecerá em 14 de dezembro e a terceira, em 3 de janeiro. As eleições do Conselho Shura começam em 29 de janeiro e terminam em 11 de março, também divididas em três etapas. O resultado de cada consulta é divulgado exatamente uma semana depois de cada sufrágio.
Os partidos estão, em sua maioria, alinhados com uma das quatro principais alianças formadas para disputar as eleições.
A primeira grande força política é o “Bloco Egípcio”, ideologicamente de centro-esquerda e liberal e composto pelos partidos “Egípcios Livres”, “Partido Social-Democrata Egípcio” e o “Tagammu”, partido de oposição da era Mubarak. A formação liberal conta com 233 candidatos que competem em 64 distritos eleitorais.
A segunda grande coalizão é a “Aliança Islamista”, liderada pelo Partido Salafista Nour. A aliança inclui quatro partidos principais – Partido Nour, Asala (Partido Autenticidade), Corrente Salafista e Partido da Construção e Desenvolvimento, este último sendo o braço político de Al-Jamaa Al Islamiya.
Efe (22/11/2011)
Manifestantes afetados por gás lacrimogêneo são atendidos em posto improvisado na Praça Tahrir
Emad Abdel Ghafour, presidente do Partido Nour, afirmou que a Aliança Islamista “tem grandes chances de vitórias por todo o país, porque a Corrente Salafista tem um grande eleitorado em Alexandria e no Delta do Nilo, enquanto Al-Jamaa Al Islamiya conta com apoio no Alto Egito (sul do país)”.
A terceira aliança que concorre nas eleições egípcias é o bloco “A Revolução Continua”, que representa os socialistas e ativistas da revolução e inclui o “Partido Socialista Egípcio”, a “Coalizão Revolução Juventude”, o “Liberdade Egito”, a “Aliança Popular Socialista”, entre outros grupos de esquerda.
O último bloco se apresenta como “Aliança Democrática” e representa a faceta política da Irmandade Muçulmana. São 12 partidos políticos, liderados pelo “Partido da Liberdade e da Justiça” e apresenta como tema da campanha “Islã é a solução”.
Luta por votos
Dada a quantidade de opções, a disputa por cada voto tem chegado a limites quase anedóticos. Os grupos islamistas, organizados por todo o país, saíram às ruas oferecendo serviços diversos à população carente. No Cairo, por exemplo, membros da Irmandade Muçulmana montaram barracas nas esquinas de bairros pobres vendendo carne pela metade do preço de mercado. Em Alexandria, voluntários salafistas tomaram as grandes avenidas para organizar o trânsito da cidade.
Os votos desta segunda-feira determinarão quem controlará o parlamento que terá a função de eleger um comitê de 100 membros para escrever a nova Constituição. O parlamento eleito trabalhará em conjunto com o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF, na sigla em inglês), que está à frente do poder desde a queda de Mubarak.
De acordo com pesquisas do DEDI (Instituto de Diálogo Dinamarca-Egito), na metade de novembro, o número de indecisos chegava a 51% dos entrevistados.
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