Agência Efe
Nir Barkat, considerado da direita secular de Israel, conseguiu a reeleição em vitória sob candidato ultraortodoxo em Jerusalém;
Os prefeitos das principais cidades israelenses (Jerusalém, Tel Aviv e Haifa) foram reeleitos nas eleições municipais realizadas nesta terça-feira (22/10) em todo o país, segundo resultados divulgados nesta quarta (23/10).
O prefeito de Jerusalém, o empresário independente e da direita Nir Barkat, assegurou seu segundo mandato com mais de 51% dos votos, enquanto seu principal adversário, Moshé Lion, apoiado pelo partido ultra-direitista Yisrael Beiteinu e pelo ultra-ortodoxo Shas, alcançou 45% dos sufrágios.
Em Tel Aviv, Ron Huldaí, que é prefeito desde 1998, obteve 53% dos votos e confirmou seu quarto mandato à frente da cidade, já que seu mais direto rival, o deputado homossexual Nitzan Horowitz, do partido de esquerda Meretz, alcançou somente 38%.
Na cidade de Haifa, de maioria operária, Yona Yahav também confirmou seu terceiro mandato após alcançar 51% dos votos.
Prefeitura x Conselho
Os eleitores escolheram os prefeitos e os membros dos conselhos municipais (que desempenham papel semelhante à câmara de vereadores), além de outras autoridades locais. O pleito, marcado pela baixa participação eleitoral, contava com cédulas diferentes para cada voto.
Isso criou um cenário interessante em muitas cidades que elegeram prefeituras e conselheiros de partidos da oposição. Esse foi o caso de Jerusalém, por exemplo, onde o empresário independente Nir Barkat venceu seu principal adversário, Moshé Lion, ligado à extrema-direita judaica, mas terá de governar com um conselho repleto de representantes de sua oposição.
Tendências nacionais, reflexo local
Apesar de não desempenhar um papel tão determinante na política nacional como em outros tempos, quando os partidos Likud e Trabalhista usavam as plataformas para concorrer, as eleições municipais ainda apresentam importantes paralelos com o pleito nacional.
Mais uma vez, a questão palestina permaneceu de fora dos principais debates políticos, não exercendo tanta influência na decisão dos eleitores nem na distinção dos candidatos. A ocupação israelense do território palestino, bem como a existência do estado de Israel, são pontos de convergência entre grande parte dos partidos, salvo as poucas exceções do Hadash, Balad e Ta’al.
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Ao que tudo indica, os israelenses estiveram mais preocupados com questões consideradas internas ao país, como crise econômica e problemas sociais, assim como durante o pleito presidencial em janeiro deste ano. Medidas de austeridade, justiça social, privatização dos serviços, direitos dos judeus ortodoxos e de minorias foram os principais temas discutidos e que dividiram os candidatos e seus eleitores.
No entanto, especialistas afirmam que os problemas socioeconômicos, que despertaram protestos ao redor de todo o país em 2011, não influenciaram tanto essas eleições municipais quanto às passadas, em 2008. Candidatos da esquerda israelense não tiveram papel de destaque, ao contrário de quatro anos atrás. Basta lembrar que Dov Khenin, do Hadash, ficou próximo de vencer a prefeitura de Jerusalém.
Uma novidade: disputa entre os ultraortodoxos
Mas as eleições municipais parecem indicar uma nova e importante tendência da política nacional israelense, que não chegou a refletir no pleito presidencial de janeiro: o enfraquecimento de forças tradicionais ultraortodoxas e a consolidação de novos líderes.
Os principais candidatos do Shas, partido ultraortodoxo de quase três décadas, perderam em suas cidades, dando espaço aos membros do United Torah Judaism, que eram seus antigos aliados. Como relatou o jornal israelense Haaretz, “a pequena cidade de Elad, a leste de Tel Aviv, se tornou a arena para uma luta nacional entre mizhari (judeus de origem árabe) do Shas e ashkenazi (judeus de origem europeia) do United Torah”.
Os resultados mostraram fragmentação e rivalidade internas no bloco, que costumava ser unido e coerente, indicam articulistas israelenses.
A morte do líder espiritual do Shas, o rabino Ovadia Yosef, no início deste mês, é atribuída como principal causa para o enfraquecimento e desestruturação do partido. Desde o ocorrido, o presidente do grupo, Aryeh Deri, que voltou à atividade pública há apenas um ano depois de uma pausa de 13 anos, ataca a comunidade judaica, agravando a crise política interna.
Em uma convenção na cidade de Elad, Deri atacou a família do candidato opositor, Yisrael Porush, dizendo que “judeus europeus não podem melhorar a cidade; apenas um ashkenazi conseguirá”, segundo o Haaretz. A estratégia parece não ter funcionado: apesar dos judeus árabes serem maioria no local, o candidato do Shas, Tzurial Krispel perdeu pela pequena margem de 500 votos.
Porush, de origem lituânia, também recebeu o apoio do partido Habayit Hayehudi liderado por Naftali Bennett, que cada vez mais, se consolida como líder nacional.
Palestina: protesto e esquecimento
A vitória de Barkat em Jerusalém significou a derrota da ultradireita religiosa israelense para grupos seculares, mas inseridos também no espectro da direita nacional e sionista. Apesar de não prometer a destruição de casas palestinas em Jerusalém Oriental, como seu opositor Lion, Barkat está longe de conceder direitos aos palestinos que vivem na parte oriental da cidade, de direito palestino, mas atualmente, ocupada por Israel.
Na administração de Jerusalém desde 2008, o prefeito reeleito esteve à frente de diversas iniciativas do governo municipal para expulsar a população árabe da cidade, que representa cerca de 40% dos habitantes do local, e já deixou claro ser contra a partilha acordada de Jerusalém.
“Está no DNA de Jerusalém estar sob o mando de Israel”, disse ele em agosto deste ano. “Se a comunidade internacional nos pressionar em direção à partilha, será apenas questão de tempo, as coisas começarem a desmoronar”, acrescentou ele.
A modificação dos nomes árabes de praças e ruas também está entre os projetos já executados de sua prefeitura.
Diferentemente das eleições nacionais, os palestinos que vivem na cidade têm o direito de votar em seus representantes municipais. Mas, como de costume, eles boicotaram o pleito, pois sua participação seria um reconhecimento da anexação de Jerusalém oriental a Israel.