O chanceler Celso Amorim comentou em entrevista publicada ontem (1/8) pela imprensa argentina a possibilidade de “ajudar” nas negociações entre as grandes potências e o Irã sobre o programa nuclear deste país, e disse que a questão “é imediata porque afeta a paz mundial”.
O ministro recordou ao jornal Clarín que no último domingo esteve em Istambul com seus homólogos de Turquia, Ahmet Davutoglu, e Irã, Manouchehr Mottaki, e que há “vários sinais que levam a pensar” que a nação árabe poderia suspender o enriquecimento de urânio a 20%, como pede a comunidade internacional.
“Sou muito otimista a respeito do progresso que pode haver agora”, afirmou Amorim, lembrando que na segunda-feira a República Islâmica escreveu à Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica) assegurando estar “pronta para negociar sem condições e sobre a base da declaração firmada” pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e pelo premier da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, em maio.
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O chanceler comentou uma possível retomada das conversas entre o país e os Estados Unidos, dizendo que a iniciativa seria “muito positiva”. Sobre a alegação norte-americana de que o Irã deveria entregar mais do que 1,2 tonelada de urânio enriquecido a 3,5%, para recebê-lo de volta enriquecido a 20% — conteúdo do acordo entre as três nações –, o ministro lembrou que a quantia foi estipulada em outubro de 2009, e que na época era “suficiente”.
“Claro que depois de outubro o Irã produziu mais. Naquele momento, 1.200 quilogramas eram 80% do material disponível. Hoje é 60%. E se a negociação não avançar, esse volume representará entre 30% e 40% daquela quantidade inicial. Nestas circunstâncias, se perde o controle”, explicou.
De acordo com Amorim, o lado positivo do acordo é a claridade das mediações, já que a quantidade, o lugar e o prazo de entrega ficaram claros na declaração. “Quanto a se o Irã cumpre ou não, sempre está disponível o remédio que foi usado no princípio do processo”, disse ele, em alusão às novas sanções aplicadas contra o país.
O chanceler também refutou que o Brasil busque cooperar com o Irã tendo como objetivo o desenvolvimento nuclear, uma iniciativa que, segundo ele, “não existe nem foi proposta”. “Sem deixar de ter em conta a importância da questão da Palestina, o mais imediato no que pode afetar a paz no mundo é o problema do plano nuclear iraniano e a maneira como é percebido no Ocidente. Se podemos ajudar nesse aspecto, seria muito importante”, rebateu.
Divergências
Sobre discordâncias entre a postura brasileira e a argentina em relação à nação árabe, Amorim assinalou que a próxima cúpula de presidentes do Mercosul, marcada para a terça-feira, será uma “boa ocasião” para que Lula explique à mandatária Cristina Kirchner sua “posição” sobre o caso. “Fiz no meu nível [com o chanceler Héctor Timerman] e creio que fui compreendido. Claro, não pedi à Argentina que assine o que escrevemos. É preciso respeitar as condicionantes de cada país, as memórias, os traumas”, contrapôs.
Em 1994, a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), em Buenos Aires, foi alvo de uma ação terrorista que resultou na morte de 85 pessoas e feriu outras 300. Entre os acusados pelo ataque, requeridos pelo governo local para serem julgados no país, está Ahmad Vahidi, atual ministro da Defesa do Irã.
Questionado pelo Clarín sobre “concepções distintas” às da Argentina não só quanto ao país de Ahmadinejad, mas em “questões do desenvolvimento nuclear”, Amorim rechaçou a afirmação. “A cooperação na área nuclear é um pilar da relação estratégica, e isso é compreendido pelos dois lados”, disse ele, apontando que o governo brasileiro tem a intenção “de manter e reforçar essa cooperação com a Argentina”.
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