O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, julgado por corrupção, fracassou nesta quarta-feira (04/05) na tentativa de formar um governo no prazo previsto, o que abre o caminho aos seus adversários que querem tirá-lo do poder.
O Likud conquistou 30 assentos nas eleições parlamentares de março, as quartas em menos de dois anos, e recebeu a missão de formar o próximo governo. Para isso, Netanyahu, que atualmente é alvo de um processo judicial por corrupção, precisava de uma maioria de 61 dos 120 membros da Knesset, o Parlamento de Israel. Mas após semanas de negociações, o primeiro-ministro não conseguiu reunir a maioria necessária.
“Pouco antes da meia-noite, Netanyahu informou a Presidência que foi incapaz de formar um governo”, anunciou, em curto comunicado, o gabinete do presidente Rivlin.
“Chegou o momento”
O que acontece agora? O presidente israelense fará contato, a partir da manhã desta quarta-feira, com os parlamentares para abordar a próxima etapa. Todos os olhares estão voltados para o líder da oposição, Yair Lapid, enquanto o país continua de luto pela avalanche humana que matou 45 pessoas na sexta-feira (30/04), durante uma peregrinação de dezenas de milhares de judeus ortodoxos no monte Meron, no norte do país.
Lapid disse que “esta tragédia poderia ter sido evitada” e acusou Netanyahu de ter mantido aberto o local de peregrinação. Ele pediu na segunda-feira (03/05) a formação de um governo “responsável”.
“Chegou o momento de um novo governo. Este governo não será perfeito, mas vai assumir suas responsabilidades e centralizar a gestão do país”, disse Lapid, afirmando que tem como reunir partidos de direita, esquerda e centro para alcançar os 61 deputados necessários.
Kobi Gideon/GPO
Se oposição não conseguir formar governo será o quinto processo eleitoral desde 2019
O bloco da mudança
Nas últimas semanas, o primeiro-ministro tentou formar um “governo de direita” com seus aliados dos partidos judeus ultraortodoxos, a formação de direita radical Yamina e a extrema direita Sionismo Religioso, somando 59 deputados, dois a menos que a maioria absoluta.
Para consegui-lo, tentou sem sucesso recuperar os dissidentes da direita que haviam deixado o Likud para formar o partido conservador “Nova Esperança” e cortejou até o partido islamita Raam de Mansour Abas, o que irritou a extrema direita.
Mas os opositores vão conseguir o que Netanyahu não conseguiu? Em primeiro lugar, o líder da oposição deve receber a tarefa de formar o governo.
Neste sentido, o ex-chefe do Exército Benny Gantz disse nesta terça (04/05) que “tinha falado com todos os líderes dos partidos favoráveis à mudança para pedir que recomendem que Lapid receba o encargo de formar o governo” e depois formá-lo “em algumas horas”.
Entretanto, o grupo “anti-Netanyahu” da esquerda, do centro e da direita, só teria 51 deputados. Será preciso obter mais dez assentos dos partidos árabes ou da formação de direita radical Yamina, dirigida por Naftali Bennett, a quem Netanyahu propôs nesta segunda – sem sucesso – o posto de primeiro-ministro em uma alternância de poder.
Se a oposição conseguir formar o governo, será virada uma página da história de Israel com a saída de Netanyahu, que passou os últimos 12 anos no poder. Se não, os israelenses teriam que voltar às urnas pela quinta vez em pouco mais de dois anos.