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Política e Economia

Argentina: novo ministro aplica 'tarifaço' para cumprir metas do FMI; mercado quer 'ver para crer'

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Analistas criticam falta de precisões das medidas de Sergio Massa e classificam os anúncios como meras expressões de desejo

Márcio Resende

RFI RFI

Buenos Aires (Argentina)
2022-08-04T14:45:00.000Z

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Sergio Massa tomou posse como ministro da Economia da Argentina e anunciou medidas para reduzir o déficit fiscal e para fortalecer as escassas reservas do Banco Central, mas analistas criticam a falta de precisões das medidas e classificam os anúncios como meras expressões de desejo.

O novo ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, anunciou um forte aumento nas tarifas de energia elétrica e de gás, como principal medida de redução do déficit fiscal, e um acordo com os setores exportadores para anteciparem exportações, como principal medida para fortalecer as escassas reservas do Banco Central e, consequentemente, estabilizar o mercado cambial.

As medidas, anunciadas na noite desta quarta-feira (03/08), formam parte da estratégia para cumprir com as metas do acordo financeiro fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em março, mas analistas e economistas consideram que os anúncios são "expressões de desejo" porque não indicam "nem como nem quando" serão implementadas.

"Sergio Massa anunciou objetivos, mas não explicou como vai implementá-los nem quando serão atingidos. Sem isso, são meras expressões de desejo", definiu à RFI o analista econômico Damián Di Pace, diretor da consultora Focus Market.

"Quais são os fundamentos para que os anúncios sejam cumpridos? Como e quando o déficit será reduzido? Essas são as perguntas que os agentes econômicos fazem", apontou Di Pace.

Tarifaço

A medida mais concreta é uma redução nos subsídios nas tarifas de energia que vai implicar um forte aumento nas contas de luz em todos os domicílios que consumirem mais de 400 kWh por mês. O mesmo vai valer para as contas de gás, mas não foi especificado o limite de consumo nem de quanto será o aumento nem quando começará a reger.

Economistas calculam um aumento entre 300% e 600% no excedente e advertem para o impacto desse incremento na inflação que deve fechar o ano ao redor de 100%.

"É um 'tarifaço' gigantesco que terá efeito sobre os preços da economia. Foi a única medida concreta de contenção do gasto público para reduzir o déficit fiscal, mas é uma redução que afeta as pessoas. Não há nenhum corte no gasto do setor público", criticou o economista e deputado, José Luis Espert.

Massa garante cumprir metas do FMI

Sergio Massa garantiu que o governo vai cumprir as metas do acordo com o FMI que estabelecem um déficit fiscal primário de até 2,5% do PIB (atualmente está próximo de 4%), uma emissão monetária não maior do que 1% do PIB (essa meta já está estourada) e o aumento de reservas do Banco Central em torno de seis bilhões de dólares (atualmente as reservas disponíveis estão em 1,5 bilhão de dólares).

"Vamos cumprir a meta de 2,5% de déficit fiscal (primário). Vamos fazer tudo o que for preciso para honrar a palavra empenhada", prometeu o ministro Massa.

Para cumprir a meta de déficit, além do aumento nas tarifas, o ministro anunciou que não serão mais contratados novos servidores públicos, mas não anunciou um corte de pessoal. Também anunciou uma auditoria nos planos de assistência social para detectar falsos beneficiários.

Casa Rosada Argentina
Sergio Massa tomou posse como ministro da Economia da Argentina e anunciou medidas para reduzir o déficit fiscal

Para cumprir a meta de emissão monetária, Massa garantiu que, até o final do ano, o governo não vai mais se financiar com emissão do Banco Central.

"Não vamos mais pedir emissão para nos financiarmos. Vamos nos virar com o que tivermos e com financiamento privado", garantiu.

Para aumentar, urgentemente, as escassas reservas do Banco Central, o governo vai criar condições especiais para o investimento nos setores de petróleo e gás, minérios e agropecuária. Também vai conceder um benefício para que os exportadores dos setores agropecuários, de pesca e de minérios antecipem exportações por um total de US$ 5 bilhões em agosto. Outros US$ 2 bilhões viriam de organismos multilaterais de crédito.

Medidas insuficientes

"Esses US$ 5 bilhões são uma cifra pequena se considerarmos que, mensalmente, a Argentina exporta US$ 7 bilhões, sendo metade disso do setor agropecuário. Portanto, é um montante que já seria exportado de qualquer forma", relativiza Daniel Artana, economista chefe da Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (FIEL).

"Os 2,5% de déficit são de muito difícil cumprimento, porque já estamos em agosto. Restam apenas quatro meses para o ministro realizar essa mágica. Sobre o governo não se financiar mais com emissão monetária, é uma expressão de desejo porque, se o déficit não for reduzido a 2,5%, tal como o mercado prevê, o governo vai precisar emitir para financiar a diferença com um déficit maior", considera o economista Andrés Borenstein.

Sergio Massa tomou posse no começo da noite desta quarta-feira (03/08) na Casa Rosada, sede do governo argentino. Duas horas depois, já no Ministério da Economia, anunciou as medidas que geraram forte expectativa desde quinta-feira passada, quando Massa foi confirmado como "superministro" no lugar de Silvina Batakis que durou apenas 24 dias no cargo, após substituir Martín Guzmán.

"Li que sou salvador, bala de prata ou superministro. Não sou um mago nem um salvador. Vim para trabalhar", minimizou Sergio Massa

Segundo os analistas políticos, a chegada de Sergio Massa ao governo altera a relação de forças, deixando o presidente Alberto Fernández como uma mera figura protocolar para questões burocráticas, como assinar as decisões tomadas pelo ministro da Economia.

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20 Minutos

Breno Altman: esquerda deve deixar o 7 de setembro nas mãos dos bolsonaristas?

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Jornalista alerta para risco de fortalecimento da extrema direita às vésperas das eleições, se puder ocupar as ruas e controlar o Bicentenário da Independência; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-08-09T20:24:00.000Z

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A esquerda se arrisca a alimentar o confronto desejado por Jair Bolsonaro se for às ruas no dia 7 de setembro. No contraponto, deixar o caminho livre para os manifestantes bolsonaristas pode trazer consequências eleitorais perigosas e imprevisíveis. 

Assim o jornalista Breno Altman avalia, no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (09/08), o dilema das forças progressistas diante da frenética mobilização bolsonarista para ocupar as principais cidades do Brasil nas celebrações do bicentenário da Independência. 

“O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas. A intimidação desorganiza, referenda o medo que o fascismo quer provocar e pode levar a um avanço político vitaminado do fascismo, que passa a ser assim capaz controlar as ruas e pode afetar as urnas”, afirmou o fundador de Opera Mundi.

São riscos embutidos nas várias alternativas de que o campo democrático dispõe para fazer frente a um momento decisivo para a extrema direita brasileira. A possibilidade de Bolsonaro colocar dezenas ou centenas de milhares nas ruas, sem um contraponto de esquerda, deve afetar de modos distintos os militantes bolsonaristas e os antifascistas. Por outro lado, é imprevisível o efeito desmoralizante que a hipótese de mobilizar menos gente que o bolsonarismo teria sobre a esquerda.

Uma alternativa para evitar o confronto seria a convocação de uma forte mobilização progressista para o dia 10 de setembro (sábado), por exemplo, e não para o dia 7 (quarta-feira). Isso embutiria o duplo risco de um desgaste por ter deixado as ruas livres para o bolsonarismo e da chance de o dia 10 ter menor participação popular, até por conta do recuo no dia 7. 

“O campo democrático popular teria realmente forças para uma mobilização superior à do bolsonarismo? Seria razoável chegar a uma conclusão derrotista sem colocar todo empenho para impedir que a extrema direita domine o Bicentenário? Esse derrotismo não poderia ser um problema eleitoral ou pós-eleitoral?”, questiona Altman.

Outra alternativa passaria pelo Grito dos Excluídos, ato tradicionalmente articulado no dia 7 de setembro pelos movimentos populares. "Não seria o caso dos partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares fazerem uma convocação ampliada desse evento, jogando todas as suas energias?”, cogita. 

Altman menciona uma solução de meio termo, nem de confronto aberto, nem totalmente apaziguadora: “Não seria o caso de ser organizado no próprio dia 7 de setembro um ato em Ouro Preto (MG), com a presença de Lula, para homenagear os Inconfidentes e Tiradentes e lançar um manifesto histórico por uma nova Independência, disputando espaço na mídia e nas redes contra o bolsonarismo?”. 

Nessa hipótese, o dia 10 de setembro se caracterizaria como uma grande concentração eleitoral dentro do calendário de campanha, sem ter deixado um vácuo que venha a ser inteiramente ocupado pela extrema direita no dia 7 de setembro.

Wikimedia Commons
O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas para a esquerda, defende Breno Altman sobre ato do 7 de setembro

Em busca de referências históricas, Altman contrasta o momento que se aproxima com dois fatos passados, a começar pela ascensão fascista na Itália do pós-Primeira Guerra Mundial. Num primeiro momento, os grupos liderados por Benito Mussolini eram marginais, mas se exibiam dispostos a romper os limites da democracia liberal, ao contrário dos socialistas, cujo discurso revolucionário estava contido dentro desses limites. 

A burguesia italiana entendeu que a violência poderia lhe ser útil e passou a financiá-la para intimidar rebeliões de trabalhadores impulsionadas pela Revolução Russa de 1917. Mussolini e seus partidários se lançaram nesse cenário numa escalada violenta cada vez mais acelerada, enquanto os socialistas, eleitoralmente majoritários na Itália, não eram capazes ou não tinham vontade política para enfrentar a violência fascista.

“O que se viu em seguida foi uma intimidação sem fim, com os socialistas sendo abatidos pelos fascistas e fugindo, entregando suas próprias organizações para os seguidores de Mussolini, enquanto os liberais cruzavam os braços, satisfeitos com a possibilidade de o fascismo derrotar qualquer período revolucionário”, documenta o jornalista.

O segundo fato se deu em 7 de outubro de 1934, em São Paulo, quando partidos de esquerda viveram dilema semelhante, embora fora do período eleitoral. Os integralistas de Plínio Salgado, fascistas da época, convocaram uma grande manifestação na praça da Sé, apoiados por parte da Igreja Católica e das Forças Armadas. Seu slogan, similar ao do bolsonarismo atual, era “Deus, pátria e família”.

A maioria da esquerda daquele momento optou pelo confronto, formando uma frente única entre comunistas, trotskistas, anarquistas  e outros grupos para impedir a manifestação dos fascistas, num episódio que ficou conhecido como batalha da praça da Sé ou revoada dos galinhas verdes (em referência à cor dos uniformes integralistas). A militância antifascista colocou para correr os seguidores de Plínio Salgado, e o integralismo, intimidado, nunca mais tentou uma mobilização daquele porte.

De volta a 2022, o jornalista fala sobre a aposta da esquerda (e da sociedade brasileira de modo geral) na solução pela via institucional e eleitoral. “O problema é que o bolsonarismo está rompendo e possivelmente tenha forças para romper essa cultura. Vão testar isso no dia 7. Não nos iludamos, eles possuem condições de uma forte mobilização”, pondera. “A esquerda deve jogar parada, esperando apenas pelas urnas? Não ter uma cultura de disputar as ruas com o bolsonarismo, limitando a disputa às urnas, não pode acabar virando um tiro no pé?”, indaga.

“Tenho para mim que recuar da mobilização do dia 7 é uma má saída”, responde Altman à pergunta de um espectador que compara a desmobilização social durante os anos petistas com a desmobilização para o 7 de setembro de 2022. "Muitas vezes a saída mais inteligente é o confronto, e não a omissão”, afirma, voltando ao exemplo da revoada dos galinhas verdes em 1934. 

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