Macron culpa videogames por manifestações na França contra racismo e violência policial
Protestos começaram após execução de jovem de 17 anos pela polícia; ONU pede fim do racismo nas forças de segurança
Pela terceira noite seguida, protestos terminaram em violência e prisões na França. Manifestantes foram às ruas pedir justiça após a morte de uma adolescente de 17 anos, executado por um policial durante uma abordagem de trânsito.
Em resposta aos saques e incêndios que ocorreram durante as manifestações, a polícia prendeu mais de 870 pessoas. Nesta sexta-feira (30/06), o presidente Emmanuel Macron subiu o tom. Anunciou reforço em medidas de segurança, disse que as famílias precisam se responsabilizar pelos jovens que participam dos protestos e culpou as redes sociais e os videogames pela situação.
“Temos a sensação de que alguns deles vivem nas ruas os videogames que os enebriaram”, afirmou o presidente. Ele disse também que as plataformas digitais precisam colaborar com as autoridades para apurar a identidade de quem organiza as manifestações pelas redes.
O jovem Nahel M. foi assassinado com um tiro no peito. Inicialmente, os agentes envolvidos disseram que o rapaz tentou jogar o carro contra eles e que agiram em legítima defesa. No entanto, imagens do crime desmentiram a narrativa. O adolescente foi executado em plena luz do dia, na terça-feira (27/06).
Desde então, manifestantes têm ocupado ruas das principais cidades do país, pedindo o fim do racismo e da violência nas abordagens policiais. No ano passado, pelo menos 13 pessoas foram mortas em ocorrências semelhantes.

Wikimedia Commons
Macron disse que as famílias precisam se responsabilizar pelos jovens que participam dos protestos
Pouco antes das afirmações de Macron, o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos divulgou um apelo para que o governo Fancês resolva “seriamente” os problemas de racismo e discriminação na polícia.
“Apelamos às autoridades para que garantam que o uso da força pela polícia para enfrentar elementos violentos durante as manifestações respeite sempre os princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, não discriminação, precaução e responsabilidade”, disse Ravina Shamdasani, porta-voz da iniciativa.
Em resposta, o Ministério de Relações Exteriores afirmou que “Qualquer acusação de racismo sistêmico ou discriminação pela aplicação da lei na França é completamente infundada”. Segundo a pasta, “a França e suas agências de aplicação da lei lutam com determinação contra o racismo e todas as formas de discriminação. Não há dúvidas sobre esse compromisso”.
A porta voz da ONU destacou ainda que as ações também representam riscos para a própria polícia. Segundo o governo, mais de 240 agentes foram feridos na madrugada de quinta para sexta-feira. Algumas horas após o apelo da organização global, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, elogiou a atuação dos agentes de segurança.
Ele afirmou que a polícia tem apoio “inabalável” do governo para conter as manifestações. “Prioridade absoluta é dada ao restabelecimento da ordem republicana, à proteção das pessoas e da propriedade pública e privada”, disse Darmanin.
Além disso, o Governo francês pediu que governos municipais e estaduais suspendam a circulação do transporte público a partir das 21h desta sexta-feira (16h, no horário de Brasília). Também foi requisitada a proibição da venda de fogos de artifício, galões de gasolina e produtos inflamáveis.