Na reunião de abertura da Cúpula Rússia-África, nesta quinta-feira (27/07) em São Petersburgo, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que seu país deseja ampliar suas relações com o continente africano e torná-lo um “parceiro preferencial no novo mundo multipolar”.
O encontro reuniu as principais autoridades da Rússia e 12 chefes de Estado africanos. A delegação do continente foi liderada por Azali Assaumani, presidente das Ilhas Comores e da União Africana (UA).
O mandatário russo fez o discurso de abertura do evento, no qual afirmou que Moscou considera a UA como “a principal organização regional do planeta, que está moldando a arquitetura de segurança moderna do continente e criando as condições para garantir o lugar de direito da África em um novo sistema econômico global”.
“A Rússia está pronta para ajudar a fortalecer a soberania dos Estados africanos de todas as maneiras possíveis, e transformar a África em um dos polos da ordem mundial emergente”, enfatizou Putin.
Por sua vez, Assoumani disse que a Rússia “é o parceiro estratégico mais importante da União Africana na atualidade”, e destacou os investimentos russos nos países da região para o desenvolvimento de novas tecnologias e infraestruturas.
“Moscou tem estado ao lado de África no enfrentamento dos desafios que o continente vem superando nos últimos anos, e estamos profundamente gratos por isso”, comentou o líder africano.
Apesar de a reunião inicial contar com apenas 12 chefes de Estado, a organização do evento espera receber mais de 30 mandatários africanos durante os dois dias do evento.
A ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, também está participando da cúpula, como representante do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, por sua sigla em inglês), entidade que ela dirige desde abril passado.
Grãos gratuitos
Segundo a agência russa TASS, entre os acordos propostos por Moscou aos países da UA está o que cria um plano de ação conjunta até 2026, que inclui a cooperação em temas relacionados à tecnologia da informação, segurança, combate ao terrorismo e proteção de fronteiras; além de possibilitar a participação dos países africanos em futuras missões espaciais russas.
GCIS
Encontro reuniu as principais autoridades da Rússia e 12 chefes de Estado africanos
Também será discutido um acordo para a provisão gratuita de grãos e fertilizantes aos países do continente africano por parte da Rússia, medida que foi destacada por Putin em seu discurso.
Segundo o mandatário russo, os Estados Unidos e a União Europeia (UE), através das sanções contra o seu país, “criaram obstáculos” para o envio de produtos da Rússia às nações da África.
“Cerca de 262 mil toneladas de nossos fertilizantes foram bloqueadas nos portos europeus. Conseguimos enviar apenas dois lotes à África este ano: 20 mil toneladas para o Malawi e 34 mil toneladas para o Quênia. O resto está nas mãos dos europeus”, reclamou Putin.
O presidente anfitrião completou dizendo que “é preciso reforçar os projetos para criação de redes de comércio internacional que não estejam sujeitas a sanções, para que evitemos medidas como essa, que acabam por obstaculizar até mesmo ações de caráter humanitário”.
Outra queixa de Putin contra os países do Ocidente foi relacionada ao acordo para a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro, abandonado recentemente pela Rússia. O mandatário alegou que um dos problemas do tratado foi que as pressões norte-americanas e europeias distorceram o intuito original do documento em favor desses países, e em detrimento de regiões mais necessitadas.
“O acordo de grãos pretendia garantir a segurança alimentar mundial, reduzir a ameaça da fome e ajudar os países mais pobres, inclusive na África, mas se voltou para outros interesses quando a pressão do Ocidente chegou. Durante quase um ano, como parte desse acordo, 32,8 milhões de toneladas foram exportadas da Ucrânia, das quais mais de 70% foram para nações de renda alta e média-alta, sobretudo da União Europeia, enquanto países como Etiópia, Sudão, Somália, entre outros, receberam menos de 3% do total, ou seja, menos de um milhão de toneladas”, acusou o presidente russo.
A delegação russa afirmou que o país espera ter “uma nova colheita recorde este ano”. A partir desse dado, Putin garantiu que “a Rússia está pronta para fornecer grãos aos países mais carentes da África gratuitamente, e substituir os cereais ucranianos tanto comercialmente como na forma de assistência gratuita aos países mais necessitados”.
Pressão do Ocidente
Os representantes da Rússia também utilizaram a reunião para acusar os países do Ocidente, especialmente os Estados Unidos e a França, de exercer uma “pressão sem precedentes” para convencer os chefes de Estado africanos a não comparecer à cúpula em São Petersburgo.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, o comportamento dos países ocidentais “não permite o direito soberano dos Estados africanos de escolherem de forma independente os parceiros com os quais pretendem ampliar sua cooperação e interação em vários aspectos, e discutir questões importantes da atualidade”.