''Tomar o poder não é construir poder'', diz vice de Evo no Brasil
''Tomar o poder não é construir poder'', diz vice de Evo no Brasil
A Bolívia "refundada" desde a primeira posse de Evo Morales, em 2006, é um exemplo de processo histórico em que a sociedade assumiu o controle do Estado, e não o contrário, garantiu o vice-presidente do país, Alvaro Garcia Linera, nesta segunda-feira (13/12) no Rio de Janeiro, onde esteve para lançar seu livro A Potência Plebeia: ação coletiva e identidades indígenas, operárias e populares na Bolívia (Boitempo, 2010).
“A sociedade inteira precisa se unir e acompanhar o governo. Tomar o poder não é construir poder”, afirmou.
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Para ele, a Bolívia já é “um país plurinacional e os indígenas são nacionalidade étnica”. No país andino, 62% dos habitantes se identificam como parte de um dos chamados "povos originários" - em sua maioria, quéchua e aimará. Segundo o vice-presidente, o reconhecimento político desses grupos étnicos faz parte do complexo processo político e social iniciado em 22 de janeiro de 2006, quando Evo tomou posse na presidência pela primeira vez (ele seria reeleito quatro anos depois). Além de questões especificamente bolivianas, o livro também debate outros movimentos sociais na América Latina, reunindo novos e antigos ensaios escritos por García Linera, também reconhecido como importante intelectual de seu país.
Ana Helena Tavares/Opera Mundi
O vice-presidente da Bolívia, em palestra no Rio: "A sociedade inteira precisa se unir"
García Linera, que se definiu como “um idealista radical, obcecado pelo marxismo”, contou que, quando adolescente, já militava pela causa indígena, tentando entender o potencial político e cultural deste movimento.
Sobre o processo de declínio dos movimentos operários latino-americanos, inspiração para o livro, ele disse sentir “falta do movimento comunista e da presença mobilizada do mundo indígena”, e ressaltou a necessidade de que sindicatos “controlem o Estado”. Mas evitou fazer previsões sobre como será a organização operária no futuro.
“Não há uma resposta marxista para isso. Na Bolívia, dizia-se que os operários haviam desaparecido, dando espaço a micro-empresários. Mas essa tese nunca foi suficiente para mim. Eu precisava pesquisar mais a fundo”, justificou.
Bloqueio de ideias
Citando Karl Marx, García Linera lembrou que “o Estado é um coletivo imaginário, é crença, é símbolo”. E completou: “Tem que se dar vida a isto. Não adianta ter diploma e não pensar coletivamente”. Já do pensamento de Robespierre, uma de suas grandes inspirações, o vice boliviano pinçou a afirmação de que “a crise do Estado é marcada pelo bloqueio de ideias e a espera de novas propostas”.
Ana Helena Tavares/Opera Mundi
O sociólogo Emir Sader, professor da UERJ, também participou da conferência com García Linera
O evento, realizado na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), foi promovido pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), responsável pela edição em português junto com a editora Boitempo. Pablo Gentilli, diretor da FLACSO no Brasil e ex-professor de Linera, compôs a mesa de honra com o sociólogo Emir Sader. professor da UERJ.
Ao chegar, García Linera recebeu a “ordem do mérito latino-americana”, a homenagem da FLACSO que, segundo Gentilli, o intelectual e político merece por dar “espaço ao progresso político-social” tanto em sua obra acadêmica quanto em seu governo. Mas garantiu que chegar a ser vice-presidente , ou “co-piloto de Evo”, como define no livro, não estava em seus planos.
Assista a vídeo com trecho da palestra:
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'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final
Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular
Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país.
"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros.
Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.
O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.
"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.
No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro.
Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric
"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo.
Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.
Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.
"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.
A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.
Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas.
"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.