Eles e elas cresceram falando alemão e espanhol, italiano e turco, francês e sueco: são os chamados bebês “binacionais”, frutos de casamento entre pessoas de diferentes países. Se os encontros eram antes casuais, aumentaram de maneira impressionante com a entrada em vigor do programa de intercambio universitário Erasmus, organizado pela Comissão Europeia.
A Comissão acabou de publicar um estudo, cuja abrangência é inédita, revelando que 27% dos estudantes Erasmus encontraram um parceiro durante o intercâmbio, que pode durar entre três meses e um ano. Em 27 anos de historia, estes casais teriam tido mais de um milhão de bebês “Erasmus”. Lançado em 1987, com apenas 3.244 estudantes, o programa integra hoje 90% das universidades de 32 países – inclusive quatro não pertencentes à UE, como Turquia e Noruega.
De maneira geral, os antigos integrantes do programa acabam tendo muito mais “relações transnacionais” – que às vezes começaram depois do intercambio, no próprio país ou durante outra viagem –, já que 33% deles têm hoje um parceiro de nacionalidade diferente. Em comparação, é o caso de apenas 13% dos estudantes que ficaram no seu país durante os estudos.
É basicamente a situação de Xavier, o herói do filme francês L’Auberge Espagnole (O Albergue Espanhol), que acabou casando com Wendy, uma britânica com quem dividiu o apartamento durante um intercambio em Barcelona.
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O estudo da Comissão Europeia vai muito além da vida pessoal dos antigos estudantes, para dar atenção às questões da empregabilidade e da mobilidade profissional. A possibilidade dos Erasmus sofrerem uma situação de desemprego de longa duração é 50% menor em relação àqueles que não estudaram fora do país. Cinco anos após a obtenção do diploma, a taxa de desemprego desses estudantes é 23% menor – uma diferença notável, quando se lembra de que o desemprego juvenil atinge 23,3% dos europeus, em um índice que atinge 37,2% em Portugal.
Os jovens que estudam fora não só adquirem conhecimentos em disciplinas específicas como desenvolvem competências transversais que são muito procuradas. Segundo a comissão, 92% dos empregadores vão atrás de características de personalidade que são favorecidas e desenvolvidas pelo programa, como a tolerância, a confiança, a curiosidade, e a capacidade de decisão. Alguns testes realizados antes e depois dos períodos de intercâmbio mostram que os estudantes Erasmus pontuavam melhor em relação a estas capacidades, antes mesmo de iniciarem o intercâmbio, e as características ficam muito mais amplas quando eles regressam, em comparação com os outros estudantes.
Comissão Europeia
Apresentação do programa Erasmus+ na Itália; 27% dos participantes formaram casais no intercâmbio
O estudo destaca outro fato: 64% das pessoas que contratam consideram que a experiência internacional é importante. Este critério mudou muito nos últimos anos, já que, em 2006, apenas 37% dos empregadores o citava como importante.
Além de melhorar as perspectivas de carreira, Erasmus acabou abrindo o horizonte de muitos estudantes, já que 40% mudaram de país de residência ou de trabalho, pelo menos uma vez desde a graduação — é o dobro do resto dos estudantes que não estudaram fora.
“As conclusões da avaliação de impacto do Erasmus são extremamente significativas, dado os níveis inaceitavelmente elevados de desemprego juvenil na UE. A mensagem é clara: quem estuda ou recebe formação no estrangeiro tem maiores possibilidades de encontrar um emprego”, resumiu Androulla Vassiliou, Comissária Europeia responsável pela Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude.
A meta da UE para a mobilidade dos estudantes foi fixada em pelo menos 20 % até 2020. Hoje, 10 % dos estudantes da União estudam ou recebem formação num país estrangeiro, com o apoio de meios públicos ou privados. Segundo o instituto de estatísticas Eurostat, cerca de 5% recebem uma bolsa Erasmus.