O governo boliviano descartou nesta quinta-feira (23/08) a possibilidade de recorrer à ajuda da Polícia Federal do Brasil para erradicar os cultivos de coca, matéria-prima da cocaína, como ocorreu em outros países.
A negativa ocorre no mesmo dia em que foram registrados confrontos entre cocaleiros e erradicadores no povoado de Machu Yungas, próximo a Cochabamba, com um saldo de dois feridos e três presos. Também foi anunciado um exercício militar entre as marinhas dos dois países em Puerto Busch, fronteira boliviana com o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, envolvendo 440 militares, entre os dias 27 e 30 de agosto. A imprensa boiliviana veiculou essa possibilidade em razão de um acordo similar entre a PF brasileira e o Peru, além da crise envolvendo os cultivos de coca.
“Temos uma predisposição a um trabalho conjunto de responsabilidade compartilhada, mas considerar a possibilidade que a Polícia Federal do Brasil entre em território boliviano para realizar tarefas de erradicação não procede”, disse o ministro de Governo, Carlos Romero, em entrevista coletiva.
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Segundo Romero, a Bolívia quer seguir trabalhando com o Brasil na troca de tecnologias, de informação e no controle de fronteiras, mas a política do governo boliviano “não permite considerar a presença de organismos externos operando em território nacional”.
“Se no Peru houve uma ação desse tipo com os agentes brasileiros, como constam nos relatos da imprensa em La Paz, na Bolívia eles não serão realizadas”, completou.
Uma fonte da embaixada do Brasil declarou à Agência Efe que oficialmente não houve nenhuma oferta da Polícia brasileira à Bolívia para erradicar cultivos ilegais de folha de coca. O que “o que existe são intercâmbios de informação e capacitação técnica de policiais, que, por sinal, vai muito bem, principalmente em nível de fronteiras”.
Um acordo entre ambos os países, que também inclui os EUA, já está sendo articulado desde março para controlar, por satélite, o avanço da erradicação de cultivos de coca na Bolívia, uma ação que não conta com a presença física de agentes brasileiros.
Romero também disse que a situação geográfica da Bolívia, situada no centro da América do Sul, faz com que o país seja uma zona de passagem para a produção peruana de cocaína que chega ao Brasil. Segundo o ministro boliviano, até 60% da cocaína que circula na Bolívia provém do Peru.
“Se houve alguma ação conjunta entre Peru e Brasil (em erradicação), seguramente tem seus fundamentos razoáveis no sentido que é do Peru fundamentalmente de onde provém a cocaína que passa pela Bolívia e chega ao Brasil”, defendeu o ministro.
De acordo com os números fornecidos recentemente pelo Escritório para a Política Antidrogas dos Estados Unidos, o Peru lidera a produção mundial de cocaína com 324 toneladas anuais, seguido pela Bolívia, com 265 toneladas, e Colômbia, com 195 toneladas. No entanto, o governo boliviano rejeita os resultados desse relatório.