“Trata-se de uma forma de guerrilha comunicacional”, define Vanessa Delgado, de 33 anos, coordenadora da Barrio TV, um novo canal de Caracas criado há pouco mais de sete mês e que pretende romper com os esquemas tradicionais dos meios de comunicação predominantes na Venezuela. No país, a grande maioria do espectro televisivo aberto está nas mãos de canais privados e muitos são acusados de alimentar uma “guerra de informação” contra o governo.
Leia especial do Opera Mundi sobre a Era Chávez
Gustavo Borges/Opera Mundi
Equipe da Barrio TV cobre último comício da campanha do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em Caracas
Nesta quinta-feira (05/10), equipes formadas em sua maioria por jovens entrevistavam com entusiasmo apoiadores do presidente Hugo Chávez durante o último comício da campanha, em Caracas. “É a primeira experiência desse grupo fora das oficinas. Eles estão explodindo de felicidade”, conta Vanessa, sorridente.
Um integrante da equipe de filmagem, vestido com a cor vermelha da cabeça aos pés, justifica o partidarismo como forma de equilibrar a brecha que existe no meio privado venezuelano. “Queremos fomentar informação de qualidade dentro dos bairros. É uma forma de mostrar o que está acontecendo dentro desses lugares. É pura contra-informação”, diz.
Conforme explica a comunicadora venezuelana, diversas comunidades mais humildes de Caracas participam do projeto, que é patrocinado pelo governo. Até o momento oito delas trabalham com a Barrio TV, que constrói antenas de televisão e escolas de produção audiovisual. A transmissão é feita por sinal aberto, via concessão, e há oito equipes fixas, com ao menos seis profissionais cada uma.
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A criação da Barrio TV, assim como a Catia TV e outros veículos comunitários, vem na esteira da democratização da comunicação na Venezuela. Oitenta por cento do espectro televisivo aberto é explorado, segundo dados do Ministério da Comunicação, por empresas privadas. Para competir com essa hegemonia, o governo Chávez acrescentou uma proposta de democratização, aprovada pela Assembleia Constituinte de 1999.
Uma série de leis regulamentou o tema. Uma das mais importantes foi a que normatizou o funcionamento das rádios e televisões comunitárias, de 2002, criando um marco regulatório que permitiu a expansão de emissoras locais, criadas por conselhos comunais, movimentos sociais ou outras entidades associativas. Esses canais, com amplitude limitada de onda, formam uma malha disseminada para difusão de programas culturais, debates políticos e prestação de serviços.
A Barrio TV oferece programas como o “Transições”, em que é explorado o tema da habitação popular nos bairros e também a realidade dos abrigos para sem-teto, assim como reportagens especiais, como uma que abordou a situação carcerária do país – um dos temas mais debatidos durante a campanha eleitoral após rebeliões que deixaram dezenas de mortos. Todas as matérias produzidas pelas equipes de comunicadores podem ser acessadas no canal da Barrio TV no YouTube.
Como se autodefine, a Barrio TV quer “desmistificar a comunicação como área exclusiva dos meios tradicionais e a tecnologia como um saber obscuro, destinado somente a especialistas e profissionais”. Outra prioridade é dar “respostas coletivas a uma grande diversidade de comunidades que historicamente vem recebendo um tratamento midiático que difere de suas realidades e com a qual não se sentem identificados.”
“Falamos dos excluídos, daqueles que por muito tempo não tiveram voz nos canais. É hora de aparecermos na tela da TV de todos os venezuelanos”, conclui Francisco Pérez, integrante da Barrio TV.