John Forster, diretor do Centro da Segurança nas Telecomunicações do Canadá (CSE), acusado de espionar o governo brasileiro, disse nesta quarta-feira (09/10) que todas as atividades do órgão são legais e estão de acordo com as leis canadenses. Porém, ele se negou a responder se o centro espionou as autoridades do Brasil.
“Tudo o que o CSE faz cumpre as leis canadenses. Não vigiamos canadenses no Canadá ou o estrangeiro”, afirmou.
A declaração de Forster ocorreu no mesmo dia em que o jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem em que afirma que o CSE se reúne periodicamente (e em segredo) com empresas canadenses do setor minerador e energético para passar informações. Segundo o texto, as reuniões são centradas em temas como ameaças à infraestrutura energética, ações de grupos ambientalistas contrários a projetos do setor e “espionagem econômica e corporativa”.
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Documentos vazados por Edward Snowden afirmam que Canadá espionou Ministério de Minas e Energia brasileiro
O CSE teria espionado as comunicações do Ministério de Energia e Minas do Brasil, de acordo com documentos vazados pelo ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, da sigla em inglês), Edward Snowden, e exibidos pelo programa “Fantástico”, da TV Globo.
Investimentos
Só no Brasil operam 55 companhias canadenses dedicadas à exploração, 45 de equipamento e 20 de serviços relacionados com o setor. Os investimentos diretos do Canadá no Brasil estão estimados em cerca de US$ 10 bilhões, a maior parte nesses dois setores.
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Na segunda-feira (07/10), a presidente Dilma Rousseff exigiu de forma pública que o Canadá explicasse as denúncias de espionagem e disse que, se confirmadas, eram inaceitáveis. Até o momento, as autoridades canadenses não confirmaram, nem negaram as acusações.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, convocou também a o embaixador do Canadá no país, Jamal Khokhar, a quem transmitiu a “indignação” do governo pelo suposta espionagem a empresas e instituições brasileiras.
Hoje, o líder da oposição canadense, o socialdemocrata Thomas Mulcair, declarou durante uma entrevista coletiva que a espionagem ao Brasil tinha sido um erro e se mostrou convencido de que o CSE realizou atividades de espionagem industrial. “As provas são claras de que o CSE participou de espionagem industrial, e isso é totalmente inaceitável”, disse Mulcair.
A organização canadense Mining Watch apontou que um dos objetivos da espionagem canadense ao Ministério de Minas e Energia do Brasil poderia ser a mudança legislativa proposta pelo Brasil. Segundo a ONG, uma nova proposta de lei quer duplicar os royalties pagos pelas mineradoras.
“Embora não seja muito, isto poderia ser bastante para incitar o pânico em um setor tradicionalmente contrário a impostos e royalties e que recentemente lançou ameaças exageradas em resposta à proposta do México de taxar royalties em 7,5%” disse a organização.
O Mining Watch também denunciou que registrou 12 oportunidades em que as embaixadas canadenses no mundo todo “defenderam de forma incondicional os interesses de companhias mineiras que encaram oposição das comunidades e decisões de administrações públicas que não as agradam”.