O legendário serviço “Mundo” da BBC, a British Broadcasting Corporation, foi a primeira vítima das reduções drásticas de orçamento exigidas pelo governo do Reino Unido. Depois de ter anunciado uma diminuição das verbas de 16% para os próximos quatro anos, Mark Thompson, o diretor-geral da empresa, anunciou um esforço adicional de 4% para economizar no total 400 milhões de libras (cerca de R$ 1,07 bilhões).
Cinco de seus 32 serviços de línguas serão definitivamente fechados (trata-se dos serviços macedônio, albanês e sérvio, assim como os serviços em inglês para o Caribe e em português para a África). Além disso, serão encerradas as transmissões de rádio em ondas curtas de seis outros departamentos – hindi, indonésio, quirguize, nepalês, swahile e o serviço para a Região dos Grandes Lagos na África, que transmite para Ruanda e Burundi. Programas de rádio em sete outras línguas – azeri (Azerbaijão), mandarim, rússo, espanhol para Cuba, turco, vietnamita e ucraniano – também sofreram cortes. O serviço em árabe não terá mais transmissão à noite.
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Daqui a 2014, isso significa uma redução de 650 postos de trabalho, ou seja, um terço dos 2.400 funcionários do Serviço Mundo. O orçamento da BBC Brasil também será reduzido de 10% nos próximos três anos.
O Serviço Mundial começou suas transmissões em 1932 e ganhou rapidamente muito prestigio. Por meio das frequências da BBC, o general Charles de Gaulle fez seu apelo, em 18 de junho de 1940, convocando o povo francês à resistência contra a ocupação nazista.
“O serviço mundial tem um valor incalculável para promover a imagem britânica no mundo”, consideram os especialistas de Oxford Analítica. Eles acreditam que o fato do Serviço passar a focar mais em internet não poderá compensar a perda.
Os sindicatos de jornalistas concordam. Jeremy Dear, o secretário-geral da União Nacional de Jornalistas (NUJ, na sigla em inglês), afirmou que o Serviço Mundial era “vital” e devia “ser protegido”. Pedindo a intervenção do presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Comuns, Richard Ottaway, o NUJ assegura que a decisão da BBC vai “prejudicar de forma severa os interesses nacionais da Grã-Bretanha”.
A avaliação do ex-ministro do partido trabalhista Denis MacShane é ainda mais dura: “O governo está conseguindo o que nenhum ditador fez antes, silenciar a BBC, a voz da Grã-Bretanha, a voz da democracia e do jornalismo independente, no momento no qual é mais importante que nunca”. Até o deputado conservador Andrew Tyrie, da maioria governamental, sugeriu usar os fundos da ajuda ao desenvolvimento – um dos únicos orçamentos que aumentaram este ano – para evitar os cortes na BBC.
Apesar de algumas manifestações em frente à empresa, a resignação parece prevalecer. Não é a primeira reestruturação, e a situação econômica do Reino Unido não deixa muita esperança. Uma ano após a saída da recessão, o produto interno bruto voltou a cair, -0,5%, no último trimestre de 2010. As condições meteorológicas, com um frio muito mais intenso que o de costume, não explicam sozinhas o resultado negativo, que surpreendeu os economistas.
Paralelamente, a inflação atingiu 3,7% em dezembro, o que pode impedir o Banco Central de adotar juros mais baixos, para tentar dinamizar o crédito e o consumo apesar de todos os cortes nos gastos públicos. Estabilizado durante 2010, o desemprego voltou a aumentar, afetando 2,5 milhões de pessoas, o que representa 7,9% da população ativa.
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