Pelo menos dois mapuches foram presos no domingo (24/04) durante uma missa de Páscoa na Catedral Metropolitana de Santiago, no Chile. A detenção aconteceu quando um grupo de cinco dirigentes protestava para que os quatro mapuches que estão presos e em greve de fome há 41 dias sejam libertados.
Logo após o fim da celebração, os mapuches ergueram uma bandeira no altar da igreja em que estava escrito “libertem os presos políticos mapuches”. De acordo com a porta-voz do grupo, Natividad Llanquileo, policiais invadiram o local e os retiraram violentamente da catedral.
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“Os quatro mapuches condenados à 20, 25 anos de prisão estão há mais de 40 dias em greve de fome e até agora nada foi feito. A igreja tem desempenhado um papel extremamente passivo diante dessa situação mesmo sabendo das condições em que os presos estão”, disse Llanquileo.
Para o arcebispo Ricardo Ezzati, presidente da Cech (Conferência Episcopal do Chile), mediador do conflito entre os mapuches e o governo da Sebastián Piñera, a manifestação dos dirigentes na igreja foi “uma forma expressar o sofrimento pelos companheiros presos”.
“Interpreto essa atitude como um apelo ao Senhor. Que nós todos vivamos a Páscoa pensando também naqueles que sofrem. Eu sei que os mapuches presos estão em greve de fome e que esta situação voltou a se complicar e está muito difícil”, afirmou.
Segundo a rede de notícias TeleSur, os dois dirigentes mapuches detidos no final de semana continuam presos e serão submetidos a interrogatórios.
Os protestos eram relativos aos mapuches Ramón Llanquileo, Héctor Llaitul, José Huenuche e Jonathan Huillical que estão na prisão de Lebu por conta de acusações de ataque a um promotor em 2008, durante um conflito por terras.
Histórico
Após conflitos entre mapuches e governo, em março foi proposto um novo julgamento para avaliar o caso. Porém, a iniciativa culminou em uma nova greve de fome, já que os mapuches exigem um julgamento “justo” que não inclua testemunhos secretos e que seja julgado por um “tribunal competente”.
Os mapuches, que se consideram presos políticos, exigiam que não lhes
fosse aplicada a lei antiterrorista, que não fossem submetidos a um
duplo julgamento – em tribunais civis e militares.
Para eles, o Tribunal de Cañete chegou a esta condenação baseado unicamente em declarações de testemunhas secretas e boatos, apresentando provas que seriam “inaceitáveis em qualquer outro lugar do mundo”.
Llanquileo, por sua vez, acredita que “as penas às quais estão expostos são muito altas e eles não estão dispostos a passar 30 ou 40 anos na prisão, por isso continuaram [com o processo] até o final”.
Ela acrescentou que “o Ministério Público faz o que quer”, usando “testemunhas encobertas”, enquanto o governo “lava suas mãos, algo que não estamos dispostos a aceitar”.
No mesmo mês, a Cchdh (Comissão Chilena de Direitos Humanos) considerou as penas impostas contra os mapuches como uma “condenação política”. Para o presidente da comissão, Gonzalo Taborga, a condenação foi uma forma de silenciar “os melhores representantes políticos do povo mapuche no seu histórico de demanda para o retorno de sua terra”.
Durante anos os mapuches tentam recuperar seus territórios perdidos após a ocupação de empresas florestais e proprietários particulares.
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