O partido A Esquerda, considerado o mais socialista dentre todas as legendas na Alemanha, passa por um momento delicado nas eleições de 2011. Divisões internas e um cenário externo pouco favorável gera dúvidas sobre o futuro do partido, criado em 2007.
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Nas eleições parlamentares que acontecem neste domingo (20/03) no estado da Saxônia Anhalt, existe uma grande expectativa de que A Esquerda seja a segunda legenda mais votada. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Infratest, a CDU (União Democrata Cristã), no governo desde 2002, tem 36,3% das intenções de voto. A Esquerda, 26% e o SPD (Partido Social Democrata), 23%. Verdes e Lliberais estão próximos dos 5% – o mínimo necessário para que haja representação, o que transforma essa eleição em uma disputa de três partidos .
O bom desempenho da Esquerda no estado tem uma justificativa. Apesar da queda física do muro de Berlim, a mentalidade política no país ainda está dividida. “A explicação do bom desempenho da Esquerda é o fato da Saxônia fazer parte da antiga Alemanha Oriental (RDA). Políticas socialistas, como a ideia de um Estado provedor, ainda tem grande popularidade nessas regiões, o que não acontece do lado Ocidental, afirmou ao Opera Mundi Frieder Wolf, do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Heidelberg.
É esse também o motivo das divisões internas do partido. Uma ala defende o endurecimento das políticas socialista, enquanto a outra sugere uma flexibilização nas políticas, para que o partido possa crescer e se consolidar como uma alternativa razoável – e não radical – no lado Ocidental. O resultado da falta de consenso é que o partido ainda não possui um manifesto de governo, o que leva a um questionamento sobre a capacidade de governabilidade da chapa.
Coalizões e cautela
Se A Esquerda se consolidar como o segundo partido mais votado, o cenário mais óbvio seria de uma coalizão entre esquerdistas e social-democratas, deixando os conservadores de fora. No entanto, o SPD só aceitaria a parceria se pudesse eleger um governador de seu partido.
“Embora os ideias políticos do SPD e da Esquerda se assemelhem, existem questões históricas que impedem que o SPD aceite o partido como líder. Vamos fazer de tudo para que esse cenário mude e que possamos fazer uma parceria justa, preferencialmente com o SPD”, disse o gerente do partido na Saxônia Anhalt, Jenni Schulz.
Se SPD e A Esquerda não chegarem a um acordo, é possível que sociais-democratas se unam mais uma vez aos conservadores da CDU.
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Contexto nacional
O bom desempenho da Esquerda na Saxônia, entretanto, é um caso isolado para o partido. No contexto nacional, a situação está bem mais complicada. Em uma pesquisa publicada pela emissora ARD nesta sexta-feira (18/03), se as eleições nacionais fosse hoje, A Esquerda teria menos de 5% dos votos. Portanto, sem representação no Parlamento, ficaria fora da tomada de decisões políticas em âmbito nacional.
Schultz ressalta que o principal objetivo não é brigar para eleger governadores. ”Eleger governador é importante. Mas acima disso está a necessidade de conseguir assentos no Parlamento. É essa a nossa principal batalha”, afirmou.
Histórico e futuro
A Esquerda foi formada em 2007, como resultado da fusão entre dois partidos. De um lado, o PSD (Partido do Socialismo Democrático) – sucessor do Partido Socialista Unificado da Alemanha, que governou a Alemanha Oriental durante seus quarenta anos de existência. Do outro, a WASG (Alternativa Eleitoral para o trabalho e Justiça Social), que foi fundada por militantes da ala mais radical do SPD.
Apesar de ter se transformado em um partido único, A Esquerda sempre teve duas representações: a Oriental e a Ociental. E em cada uma delas, dois líderes extremamente carismáticos e com uma importante trajetória na política nacional: Gregor Gysi, ex-membro do PSD na facção Oriental, e Oskar Lafontaine, ex-membro do SPD na facção Ocidental. La Fontaine já havia sido líder do SPD, chegou a ser governador de Saarland e ministro das Finanças do país.
Com duas figuras publicamente conhecidas e admiradas, A Esquerda teve um bom desempenho nas eleições e conseguiu entrar no Parlamento. O partido continuou em ascenção, até que dois fatos levaram a legenda à crise atual. O primeiro foi o afastamento de La Fontaine da política nacional. Após ser diagnosticado com um câncer, o político decidiu reduzir sua atividade para níveis locais. O segundo foi a crise financeira. No momento de incertezas, os eleitores alemães preferiram a segurança do atual governo do que uma mudança radical.
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Enfrentando a pior crise desde a sua fundação, o partido tenta se reerguer. Roman Denter representa uma nova geração que tem ganhado destaque no partido. Envolvido com questões abientais, ele atrai jovens para o partido, na briga para acabar com a energia nuclear.
”Assuntos relacionados ao meio ambiente já são vistos pelas gerações mais jovens como o principal assunto para o desenvolvimento do planeta. Eu acredito que devemos lutar por isso é uma maneira de fazer justiça, principalmente após os acontecimentos no Japão. Nós defendemos a suspenção imediata e irreversível de fontes de energia nuclear. Acredito que a Esquerda está no caminho certo e esta causa nos trará resultados positivos”, disse Roman.
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