O presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, declarou nesta quarta-feira (19/06) que seu país está oficialmente em uma situação de “emergência nacional demográfica” devido ao declínio populacional. O chefe de Estado asiático prometeu fazer todos os esforços possíveis para combater o problema, incluindo a criação provisória do Ministério da Estratégia e Planejamento Populacional que se dedicará exclusivamente à questão.
A Coreia do Sul é o país com a pior taxa de natalidade do mundo. O número médio de filhos por mulher caiu para 0,72 em 2023, configurando um nível bem abaixo dos 2,1 necessários para manter sua população de 51 milhões de pessoas.
“Hoje declaro oficialmente uma emergência nacional demográfica. Ativaremos um sistema de resposta abrangente do governo até que a questão da baixa taxa de natalidade seja superada”, disse Yoon durante uma reunião realizada em uma creche no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da HD Hyundai, em Seongnam, no sul da capital de Seul.
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Presidente Yoon Suk Yeol durante a ‘Reunião do Comitê de 2024 sobre Envelhecimento e Baixa Taxa de Natalidade’, realizada na HD Hyundai, em Seongnam
Trabalho, educação e habitação
O presidente sul-coreano delineou três áreas-chave como possíveis soluções para o problema social, sugerindo o equilíbrio entre trabalho e família, criação dos filhos e habitação.
No âmbito do trabalho, as medidas incluem o aumento dos subsídios de licença parental, a implementação de horários de trabalho flexíveis, e a concessão de subsídios aos empregadores que contratem substitutos temporários para os trabalhadores em situação de licença parental.
“Vamos possibilitar que todos, independentemente do tamanho da empresa ou do tipo de emprego, trabalhem, pausem e criem filhos ao mesmo tempo, quando for necessário”, prometeu Yoon.
O mandatário também falou sobre um maior apoio aos cuidados infantis e expansão de programas pós-escolares nas instituições primárias para aliviar a carga educacional dos pais.
“Durante meu mandato, fornecerei educação e cuidados gratuitos para crianças de 3 a 5 anos de idade, e garantirei que crianças de todas as séries em todas as escolas primárias do país possam acessar os programas que desejem”, afirmou.
Já as famílias com recém-nascidos terão prioridade na locação de moradias e empréstimos com juros baixos para a compra de casas. Além disso, os benefícios fiscais para aqueles que tiverem filhos serão ampliados.
Para garantir a implementação dos planos, o presidente sul-coreano declarou a criação do Ministério da Estratégia e Planejamento Populacional, uma pasta provisória que será responsável pela elaboração de táticas relativas ao controle da população, incluindo a baixa taxa de natalidade, o envelhecimento da sociedade e as políticas de imigração.
“Se quisermos resolver fundamentalmente o problema da baixa natalidade com um longo fôlego, temos que trabalhar com pessoas”, afirmou, pedindo cooperação da Assembleia Nacional para que o novo ministério possa ser lançado o mais rápido possível.
Na última década, foram diversas as iniciativas tomadas pela Coreia do Sul para tentar controlar sua população. No entanto, problemas com raízes mais profundas contribuem para a piora do cenário demográfico. Em entrevistas à imprensa, mulheres argumentam que um dos maiores impeditivos se deve ao sistema patriarcal estabelecido no mercado de trabalho, o qual tende a oferecer mais e melhores oportunidades aos homens.
“Os coreanos têm essa mentalidade de que se você não trabalhar continuamente no auto aperfeiçoamento, você vai ficar para trás e se tornar um fracasso. Esse medo nos faz trabalhar duas vezes mais.” contou a sul-coreana Yejin à rede britânica BBC, acrescentando que “há uma pressão implícita das empresas de que, quando temos filhos, devemos deixar nossos empregos”.
Uma iniciativa polêmica
O Instituto Coreano de Finanças Públicas (KIPF, por sua sigla em inglês), um centro de pesquisa financiado pelo governo da Coreia do Sul, dedicado a avaliar o sistema tributário e os gastos públicos do país, divulgou no fim de maio um polêmico relatório defendendo que enviar meninas para a escola um ano antes que os meninos poderia auxiliar no aumento das taxas de fertilidade.
A organização apontou que mulheres relativamente mais jovens são atraídas por homens mais velhos, e que, portanto, a medida poderia torná-los “mais atraídos uns pelos outros” quando atingirem a “idade para o casamento”.
“Considerando que o desenvolvimento dos homens é mais lento do que o das mulheres, permitir que as mulheres entrem na escola um ano mais cedo pode contribuir para tornar homens e mulheres mais atraentes uns para os outros no futuro, quando atingirem a idade certa para o casamento”, observou o relatório em sua seção intitulada “Política de Apoio a Relacionamentos de Sucesso”, que aborda recomendações fiscais e medidas para responder ao declínio da população trabalhadora do país.
Na primeira semana de junho, o líder da oposição pelo Partido Democrata, Lee Jae Myung, criticou a proposta e a classificou como uma “solução absurda”.
“Precisamos de medidas fundamentais e a nível macro. Um corpo consultivo de partidos do poder e da oposição é essencial para questões específicas e importantes”, defendeu o deputado.