A Venezuela assume nesta sexta-feira (12/07) pela primeira vez a presidência do Mercosul, após ter sido incorporada oficialmente ao bloco em julho de 2012. Tanto o país como seus outros membros — Brasil, Uruguai e Argentina — têm pela frente uma série de desafios e expectativas. “O Mercosul é o futuro econômico da América Latina e Caribe”, disse o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao chegar a Montevidéu nesta quinta-feira (11/07) à noite.
Avn (Agencia Venezolana de Noticias)
Maduro chega com comitiva presidencial a Montevidéu para a posse da Venezuela na presidência do Mercosul, um ano após adesão
O primeiro deles será a reintegração do Paraguai, suspenso após a deposição do presidente Fernando Lugo, em junho do ano passado. Argentina, Brasil e Uruguai pretendem cancelar a sanção em agosto, depois que o presidente eleito Horacio Cartes tomar posse. O novo governante paraguaio, no entanto, mudou o posicionamento que adotou durante a campanha eleitoral e disse que não aceita voltar ao bloco sob a liderança venezuelana.
Após a reunião entre os chanceleres sul-americanos, nesta quinta-feira (11/07), Antonio Patriota não detalhou qual a solução para acabar com esse problema. “Ainda estamos debatendo a melhor fórmula [para o retorno do Paraguai]. Mas os primeiros passos já foram dados quando todos os presidentes ligaram para cumprimentar Cartes pela vitória e a Unasul [União das Nações Sul-Americanas] considerou a eleição transparente e democrática. O fato é que a presidência do Mercosul será transmitida amanhã [hoje] para a Venezuela e o Paraguai terá que se adaptar. A partir do dia 15 de agosto veremos qual a posição oficial do novo presidente”, afirmou, deixando no ar a chance de Cartes poderá recuar novamente.
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No entanto, a cerimônia de posse da Venezuela enterra de vez as aspirações do Paraguai de voltar ao bloco no comando semestral, após uma suspensão de um ano.
Espionagem
Outro problema a ser discutido hoje em Montevidéu é a possibilidade do ex-agente da CIA e da NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana, na sigla em inglês) Edward Snowden, responsável pelo vazamento dos programas de espionagem dos Estados Unidos, aceitar a oferta de asilo de Venezuela ou Bolívia, países sul-americanos que aceitam recebê-lo.
Vitor Sion/Opera Mundi
O Brasil não cogita oferecer abrigo a Snowden e, por isso, o Mercosul não deve referendar uma resolução a favor dessa iniciativa. Patriota chegou a dizer que “uma decisão à parte” do repúdio à espionagem norte-americana está sendo discutida pelo bloco sobre o ex-agente. Ao chegar na capital uruguaia na noite de quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff falou que “qualquer país que se considere democrático deve repudiar ações de espionagem”
[A presidente Dilma Rousseff chegou à capital uruguaia pela noite]
Além disso, os chanceleres da Venezuela, Elias Jaua, e do Uruguai, Luis Almagro, disseram que os presidentes dos países do Mercosul irão emitir uma declaração sobre denúncias de espionagem, direito a asilo e o incidente envolvendo o avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Em 2 de julho, Morales foi impedido de sobrevoar o espaço aéreo de Portugal, da Espanha, França e Itália por causa da suspeita de que Snowden estaria a bordo do avião do presidente boliviano.
Contribuições venezuelanas
Exceto pela crise diplomática com Paraguai, a chegada da Venezuela ao bloco promete ser positiva, tanto do ponto de vista comercial, social, como político, ajudando com a entrada de novos sócios plenos. “A liderança venezuelana poderá ser um facilitador para o ingresso de Bolívia e Equador devido à afinidade ideológica entre esses governos”, afirma Pedro Mota Veiga, diretor do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento).
Veiga também argumenta que, por ser uma economia de tamanho intermediário, menor que o Brasil, mas maior que Uruguai e Paraguai, a Venezuela poderá minimizar as reclamações de assimetria dentro do bloco. Essa análise também é feita por José Antonio Marcondes de Carvalho, embaixador do Brasil em Caracas.
“Com mais países aumenta a possibilidade [de diminuir o desequilíbrio comercial no Mercosul]. Os passos estão sendo dados agora para a entrada da Bolívia e do Equador [como membros plenos], e ainda da Guiana e do Suriname pelo menos como associados. Um mercado tão importante como a Venezuela, um país importantíssimo dentro do esquema econômico, social e político da América do Sul, pode e deve trazer aportes para o Mercosul”, argumentou a Opera Mundi em Caracas.
Além da incorporação de novos países, a agenda que a presidência venezuelana pretende desenvolver também prevê o estreitamento de laços com o Caribe, conforme afirmou o chanceler Elías Jaua em Montevidéu. “Queremos aproximar o Mercosul do Caribe e de seus grupos, como a Petrocaribe e a Caricom [Mercado Comum e Comunidade do Caribe]. Nossa agenda propositiva também prevê a maior presença de trabalhadores no bloco, assim como dar prioridade para questões sociais, como o fim do analfabetismo.”
De acordo com Maduro, a Venezuela ainda quer desenvolver uma “parceria vantajosa” entre o Mercosul e a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América). Em sua primeira visita ao Brasil como presidente da Venezuela, em maio, ele declarou que o bloco será o “motor da economia sul-americana”. Com a Venezuela, o Mercosul contará com 270 milhões de habitantes (70% da população da América do Sul), um PIB de US$ 3,3 trilhões (83,2% do PIB sul-americano) e um território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). Em 1990, o intercâmbio entre os membros do bloco era de US$ 4,1 bilhões, valor que chegou a US$ 105 bilhões em 2011, sem contar a Venezuela.
* Com colaboração de Luciana Taddeo, de Caracas