Para além dos grandes contratos de infraestrutura, a grande aposta brasileira na relação com a Venezuela é o comércio. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as exportações brasileiras destinadas à Venezuela cresceram sete vezes desde que Chávez se tornou presidente, passando de US$ 706 milhões em 1998 para US$ 5,1 bilhões em 2008.
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Nesse mesmo tempo, a participação da Venezuela nas exportações brasileiras quase dobrou, passando de 1,38% para 2,60%. O Brasil se beneficia da boa relação política, da proximidade geográfica e, mais recentemente, das relações ruins com a Colômbia, historicamente o primeiro parceiro comercial do país.
Em 1998, o último ano antes de Chávez se tornar presidente, o Brasil teve um saldo negativo de US$ 49 milhões no comércio com o país. Em 2008, o Brasil registrou um excedente comercial de US$ 4,6 bilhões, um dos maiores do país. Isso se explica pela diminuição de importações de produtos petroleiros, graças à autossuficiência brasileira, e pela diversificação das exportações.
Agência Brasil
Preparação de frango brasileiro para exportação
No começo da década, os principais produtos vendidos à Venezuela eram automóveis. Em 2008, mais de um bilhão de dólares de exportações ao país proveio de alimentos, especialmente carne de frango.
A Venezuela importa a grande maioria dos alimentos que consume, e a política social do governo Chávez permitiu o acesso das classes sociais mais humildes aos produtos nobres, como a carne. Em consequência disto, os principais produtos brasileiros exportados são bovinos vivos, carnes de gado e de galinha em pedaços congelados, açúcar e carne desossada. São seguidos por terminais portáteis de telefonia celular, pneus, tratores, e peças para veículos.
As importações se concentram em derivados petroleiros e mineiros: nafta para a petroquímica, coque de petróleo não calcinado, energia elétrica, óleos brutos, metanol e diesel.
O ano passado houve uma redução do comercio bilateral de 26%, por causa da crise econômica mundial. “Mas não é nada especial, é a mesma tendência observada para o conjunto do comercio brasileiro, que diminui de 25% em 2009”, insiste Carlos Santana, o adido comercial da embaixada brasileira em Caracas.
De acordo com as estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, os valores totais para o ano de 2009 foram :
Intercâmbio total | 4,191* |
Exportações brasileiras para a Venezuela | 3,610 |
Importações brasileiras para a Venezuela | 581 |
Superávit comercial | 3,028 |
Participação da Venezuela no total
das importações do Brasil |
0,46% |
Participação da Venezuela no total
das exportações do Brasil |
2,36% |
Participação da Venezuela no total
do superávit comercial brasileiro |
11,9% |
Intercâmbio total entre 2008 e 2009 | – 26,5% |
Exportações brasileiras entre 2008 e 2009 | – 29,9% |
Importações brasileiras entre 2008 e 2009 | 7,95% |
*Valores em bilhões de dólares
“A Venezuela chegou a ser o quarto importador de frango, com 350 mil toneladas por ano. O aumento começou no inicio da década 2000”, diz Francisco Turra, o presidente executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef). Ele confirma que 2009 foi um ano ruim, já que as vendas caíram de 45%. “A crise foi muito dura lá. Quando cai o consumo do frango, significa que cai o consumo de todas as carnes, já que é bem mais barato que a carne bovina ou suína”, precisa.
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Apesar de achar que a recuperação da crise não está ainda em marcha no país vizinho, Turra é otimista. “A nossa estratégia é esperar, não tentar forçar as vendas agora. Temos uma excelente relação com o governo e queremos que continue assim”, afirma, destacando “os pagamentos regulares, com poucos atrasos”.
Agência Brasil
Os presidentes Hugo Chávez e Luiz Inácio Lula da Silva e suas delegações durante o último encontro oficial
Segundo ele, os esforços venezuelanos pela autossuficiência na produção de frangos – com a ajuda do Embrapa – não vão acabar com as exportações brasileiras. “É muito difícil eles chegarem a nosso nível de competitividade. Temos terras enormes, milho e soja para a alimentação e, sobretudo, a tradição na produção”, acredita.
Os diplomatas brasileiros acham necessário tentar equilibrar o comércio entre os dois países para evitar tensões políticas. A estratégia, porém, é dificultada pela atividade econômica fraca na Venezuela. Após um ano de recessão, a crise energética atrapalhou os esforços do governo para relançar a economia, apesar da recuperação do preço do petróleo. A Venezuela é o único país de América Latina sem previsão de crescimento para o ano de 2010.
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