“Nós já temos um presidente, temos Rafael!”, é um grito comum em comícios e pelas ruas das principais cidades do Equador, A confiança do eleitor do atual presidente, que tenta a reeleição, não é para menos: todas as pesquisas de intenção de voto o colocam na dianteira, com vitória ainda no primeiro turno. Neste domingo (17/02), os equatorianos votam para presidente, vice, 137 representantes na Assembleia Nacional e cinco no Parlamento Andino.
Efe (14/02/2013)
Correa abraça eleitora em Quito, no último dia de campanha para a eleição presidencial do Equador. Ele tenta a reeleição
“Vamos derrotar nas urnas os conspiradores para tornar irreversível a revolução cidadã”, disse Correa diante de milhares de simpatizantes em La Michelena, um populoso bairro do sul da capital, nesta quinta-feira (14/02). “Peço que me apoiem para que eu possa continuar mudando o país”, acrescentou.
Nas ruas estreitas que ligam o centro de Quito aos bairros vizinhos começam a aparecer as primeiras manifestações dos eleitores. Bandeiras verdes, do Aliança País, de Correa, candidato à reeleição, enfeitam a entrada da loja de Luis Delgado, que faz consertos de aparelhos eletrônicos. Cartazes do presidente ganham destaque na parede ao lado e atrás do balcão.
“Nós sabemos o que nos convém. Temos uma melhor situação econômica agora”, afirma o comerciante, que valoriza a formação do presidente em economia. “Esse governo foi o único que olhou para quem nunca era levado em conta, como os pobres e as pessoas com deficiência. Outros governantes, quando chegaram ao poder, levaram o dinheiro embora enquanto o povo morria de fome”, diz.
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Todas as pesquisas de intenção de voto divulgadas até agora mostram que Correa está bem à frente dos outro sete adversários: Guillermo Lasso, do Movimento Criando Oportunidades, Lucio Gutiérrez, do Partido Sociedade Patriótica, Álvaro Noboa, do Partido Renovador Institucional Ação Nacional, Alberto Acosta, do Movimento Unidade Plurinacional Pachakutik, Mauricio Rodas, do Sociedade Unida Mais Ação, Norman Wray, do Ruptura, e Nelson Zavala, do Partido Roldosista Equatoriano.
Já o assessor industrial Martin Torres não liga para as pesquisas e se diz desapontado com o governo, o qual define como “autoritário”. “Eles têm tentáculos para controlar tudo, da justiça aos órgãos públicos”, reclama. Martin também rejeita outros candidatos conhecidos da política equatoriana, como o ex-presidente Lucio Gutiérrez, que deixou o cargo antes de concluir o mandato, e o empresário do setor bananeiro, Álvaro Noboa.
Ana Maria Passos/Opera Mundi
Cartaz com Rafael Correa e candidatos à Assembleia Nacional equatoriana. Serão eleitos 137 representantes para o Parlamento
Este último, até ser notificado pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral), estava distribuindo à população equipamentos, como máquinas de costura, com o argumento de incentivar o empreendedorismo. “Eu analisei, pensei, meditei. É necessária uma mudança. Precisa ser alguém jovem, preparado e que entende de administração. Por isso escolhi Rodas”, responde Martin. Mauricio Rodas, de 37 anos, ex-diretor do instituto Ethos no México, é candidato pela primeira vez.
Nessas eleições, a propaganda se concentrou menos nas grandes cidades e mais nas áreas mais afastadas. O mecânico Milton Garcia, que mora no povoado de Tambillo, um distrito de Quito, conta que quase todos os dias é abordado por candidatos à Assembleia e militantes distribuindo panfletos. Nenhum o convenceu até agora. “Todos vêm da turma do dinheiro. Na verdade não pensam no social”, fala.
Abstenção
O índice de eleitores que pretendem anular o voto chega a 12% e supera o dos que manifestam preferência pelo segundo colocado, Lasso. O percentual de indecisos, que não é considerado no ranking dos candidatos, está em torno de 30%, de acordo com a diretora do Instituto Perfis de Opinião, Paulina Recalde, ao site Equador Imediato.
A estudante Katherine Lara, de 22 anos, acha que tem candidato demais para um com pouco mais de 11 milhões de eleitores. “Tem muita propaganda, mas falta debate entre os candidatos. É difícil entender quais são as propostas apresentadas pelos partidos”, protesta a universitária, que diz se informar pelo jornal de maior circulação do país e pelo conteúdo que os amigos postam nas redes sociais, como o Facebook.
Economia e violência
Ainda que no ano passado a inflação tenha ficado em 4,16 %, abaixo dos 5,14% que haviam sido projetados pelo governo, o militar aposentado Antônio Chachiguango, da nacionalidade indígena Otavalo, acha que a principal tarefa para o próximo presidente vai ser o combate ao aumento dos preços. “Se as coisas continuarem a subir o salário não vai dar”, diz o eleitor de Correa.
Tem a mesma opinião a esteticista Talita Barros, que levava pelas ruas duas bandeiras com a imagem de Correa, que acabara de buscar no comitê do movimento Aliança País. “É a primeira vez que vou pôr propaganda de um político em casa. E vou fazer isso com muito gosto”, afirma. “Correa fez muitas obras importantes, como estradas, melhorou a saúde e a educação. Se ele ganhar, espero que freie os preços, principalmente dos alimentos, que estão muito caros”, espera.
Para o engraxate José Escobar, que trabalha uniformizado na praça principal de Quito, o maior problema a ser enfrentado nos próximos quatro anos é a violência. “As pessoas estão desprotegidas, não há segurança. Tempos atrás a gente podia sair e voltar tarde da noite pra casa sem preocupação, agora é muito perigoso”, queixa-se.
“Na região central a segurança melhorou”, diz o guia da catedral de Quito, Steven Tapia, discordando do engraxate. “Antes de Correa era mais arriscado andar por aqui. Agora, embora ainda ocorra um roubo ou outro, mas a gente vê policiais por todo lado. Ele revitalizou o centro histórico”. Steven acha que o próximo governo deve dar prioridade ao turismo como alternativa para a economia, “mostrando ao mundo a diversidade cultural e natural que temos no Equador”, propõe.