Um relatório encomendado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), feito pelo advogado canadense Richard McLaren e divulgado nesta segunda-feira (18/07), concluiu que a inteligência russa, juntamente com autoridades do governo, montaram um esquema para encobrir casos de doping de atletas russos, que funcionou entre o fim de 2011 até agosto de 2015.
O Comitê Olímpico Internacional afirmou que aplicará as “sanções mais duras disponíveis” contra os envolvidos. Vladimir Putin, presidente russo, disse que as acusações são uma tentativa de “transformar o esporte em instrumento de pressão geopolítica” contra o país, enquanto o Kremlin declarou que irá suspender temporariamente os funcionários do governo nomeados no relatório, entre eles o ministro dos Esportes, Vitaly Mutko, até que uma investigação oficial seja finalizada.
O estudo de McLaren indicou que o esquema para encobrir casos de doping foi estabelecido no fim de 2011, atuando durante a etapa classificatória para os Jogos Olímpicos de Londres de 2012, os Campeonatos Mundiais de Moscou e os Jogos Universitários Mundiais em Kazan, ambos em 2013, e os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, e funcionando pelo menos até agosto de 2015.
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Esquema para burlar exames antidoping beneficiou 15 medalhistas russos nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014
Segundo o relatório, o esquema montado pelo Laboratório Antidoping de Moscou e supervisionado pelo Ministério dos Esportes e pelo Serviço Federal de Segurança do país, antiga KGB, permitia transformar um exame antidoping com resultado positivo em negativo.
Em coletiva de imprensa em Toronto, o advogado também afirmou que as alegações feitas em maio deste ano ao jornal norte-americano New York Times por Grigory Rodchenkov, que chefiou o laboratório russo entre 2005 e 2015, eram verdadeiras. Na ocasião, Rodchenkov afirmou que 15 medalhistas russos em Sochi tiveram suas amostras de urina contendo substâncias proibidas trocadas por outras “limpas” com a ajuda do serviço secreto para impedir que os atletas fossem pegos nos exames antidoping.
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Além disso, Rodchenkov, que deixou o cargo em novembro de 2015, teria preparado coquetéis de esteroides para dezenas de atletas russos, utilizando substâncias banidas dissolvidas em bebidas alcóolicas para agilizar sua absorção e diminuir a janela de detecção dos esteroides.
“Esta é uma parte do que está acontecendo, não o total. Mas isto inclui a maioria dos esportes de inverno e verão. E nós sabemos que todos os [resultados antidoping] positivos eram mandados para o topo da cadeia de comando e depois enviados de volta”, disse McLaren a jornalistas. O relatório recomenda que o COI (Comitê Olímpico Internacional) impeça a participação de todos os atletas enviados pelos Comitês Olímpico e Paralímpico Russos nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, que começam no dia 5 de agosto.
Já o COI declarou que vai aplicar “as sanções mais duras disponíveis” aos responsáveis pelo esquema. “Os resultados deste relatório mostram um ataque chocante e sem precedentes à integridade dos esportes e dos Jogos Olímpicos. Desta maneira, o COI não irá hesitar em aplicar as sanções mais duras disponíveis contra qualquer indivíduo ou associação implicados”, afirmou em comunicado o presidente do órgão, Thomas Bach.
O Conselho Executivo do COI irá se reunir na terça-feira (19/07) para tomar as primeiras decisões, o que pode incluir sanções à federação russa durante os Jogos do Rio de Janeiro.
No mês passado, a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) proibiu quase todos os atletas russos da modalidade de competirem nestes Jogos Olímpicos devido às suspeitas da existência do esquema.