Maria Elisabetta Alberti Casellati, do partido conservador Força Itália (FI), foi eleita neste sábado (24/03) a nova presidente do Senado, o segundo cargo mais importante na hierarquia do Estado. Ela será a primeira mulher a ocupar o posto. Já Roberto Fico, do Movimento 5 Estrelas (M5S), comandará a Câmara dos Deputados.
Os resultados são frutos de um novo acordo entre a coalizão de direita e o partido antissistema, os dois vencedores das eleições de 4 de março, para que cada um ficasse com a chefia de uma das casas do Parlamento.
Na última sexta-feira (23/03), o presidente do Força Itália, Silvio Berlusconi, chegara a anunciar o rompimento da aliança conservadora com a legenda ultranacionalista Liga Norte, que havia indicado uma candidata para o Senado, Anna Maria Bernini, sem consultar o ex-primeiro-ministro. No entanto, os aliados desfizeram o impasse e concordaram em sustentar Casellati.
Wikimedia Commons
Casellati, 71 anos, foi eleita presidente do Senado com 240 votos
O postulante inicial da direita na Câmara Alta era Paolo Romani, mas o M5S se recusou a apoiá-lo por considerá-lo “ficha suja” – o senador tem uma condenação por peculato. Por outro lado, no “jogo de vetos” entre os vencedores das eleições, a aliança conservadora havia negado votos ao candidato antissistema para o comando da Câmara, Riccardo Fraccaro, fazendo o movimento optar por Fico.
NULL
NULL
Senado
Casellati, 71 anos, foi eleita presidente do Senado no terceiro escrutínio, ao receber 240 votos, um pouco menos do que os 247 que M5S e direita possuem – o mínimo exigido era 161, maioria absoluta dos senadores. Já a ex-ministra da Educação Valeria Fedeli, do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), teve 54.
Em mais de 70 anos de República Italiana, o Senado nacional nunca havia sido presidido por uma mulher. Nascida em Rovigo, no norte do país, Casellati é advogada e vai para seu sexto mandato como senadora. Ela pertence ao FI desde 1994, ano de sua fundação.
Casellati é considerada bastante próxima a Berlusconi, o que não a impediu de receber os votos do M5S, que se recusara a sentar à mesa de negociações com o ex-primeiro-ministro. Além disso, a nova presidente do Senado também foi vice-ministra da Saúde (2004-2006) e da Justiça (2008-2011) e membro do Conselho Superior da Magistratura (2014-2018).
Como presidente do Senado, Casellati passa a ser a segunda na hierarquia do Estado. Ou seja, se algo acontecer com o presidente da República, Sergio Mattarella, ela assumirá seu cargo interinamente.
“Perdoem minha emoção, mas a escolha de eleger pela primeira vez uma mulher à presidência dessa assembleia representa uma responsabilidade que não posso esconder atrás das circunstâncias. Para mim é uma honra e também uma responsabilidade em relação a todas as mulheres italianas”, declarou Casellati.
Câmara
Por sua vez, Roberto Fico, 43, foi eleito presidente da Câmara com 422 votos, sendo que M5S e direita, juntos, possuem 481 deputados. Roberto Giachetti, do PD, teve 102.
“Estou emocionado em me dirigir a todos vocês e a todos os cidadãos. Obrigado pela confiança para um cargo de alta responsabilidade, é uma honra que exercerei com imparcialidade”, disse o expoente do Movimento 5 Estrelas.
Natural de Nápoles, Fico é uma das principais figuras da legenda antissistema e é deputado desde 2013, tendo presidido a comissão de vigilância da emissora pública “Rai” na última legislatura – ele é formado em ciências das comunicações.
Fico é considerado um “ortodoxo” do M5S e lidera a ala mais à esquerda e purista do partido, que diz não seguir nenhuma corrente ideológica. Entre os expoentes do movimento, é o único a ter entrado em atrito com seu atual líder político, Luigi Di Maio, possível novo primeiro-ministro da Itália.
Em agosto passado, por exemplo, criticou publicamente o desalojamento de imigrantes em uma praça de Roma pela gestão de Virginia Raggi (M5S), enquanto Di Maio defendia a prefeita.
Governo
Com a definição do comando do Parlamento, os partidos italianos se concentrarão agora nas negociações para formar um novo governo. Apesar do acordo entre M5S e direita para eleger Casellati e Fico, ainda não há indícios de que esse pacto se manterá para definir o próximo primeiro-ministro.
O principal postulante ao cargo é Di Maio, 31, que reivindica a vitória nas eleições de 4 de março, quando seu movimento recebeu 32% dos votos. A aliança conservadora teve 37% e, assim como o M5S, não tem os números necessários para governar sozinha.
A hipótese de um gabinete entre M5S é direita é improvável pois, neste caso, a legenda antissistema teria de governar ao lado de Berlusconi, a quem sempre criticou. No entanto, não se exclui a possibilidade de uma aliança apenas com a Liga Norte, de Matteo Salvini.