Refugiado há cerca de um mês em Buenos Aires, onde chegou com sua mulher e filho de dois anos e oito meses, após sofrer ameaças de morte e uma tentativa de sequestro em Tegucigalpa, capital de Honduras, o professor hondurenho Guillermo Antonio Amador Padilla garante que não regressará ao seu país até que os responsáveis pelo golpe militar contra o ex-presidente Manuel Zelaya, em 2009, sejam punidos.
Segundo ele, “ainda há perseguições, assassinatos e diversas violações aos Direitos Humanos” pelas forças armadas em Honduras: “Nem o próprio presidente Manuel Zelaya pode garantir sua segurança quando voltar ao país, porque os golpistas querem vê-lo morto”, afirmou ele, que integra o FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular), movimento de oposição ao atual governo hondurenho.
Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
Guillermo na frente do Congresso, em Buenos Aires, com camiseta de assassinados do FNRP
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“Hoje Honduras vive um momento de euforia e emoção com o regresso do presidente, mas continuamos com um governo ilegítimo, sem nenhum castigo aos golpistas e aos responsáveis por mais de 200 pessoas assassinadas durante manifestações, entre eles 12 jornalistas”, desabafa o refugiado, que continuará em Buenos Aires até se certificar de que o regresso a seu país seja uma opção segura para sua família.
Guillermo passou a ser perseguido pelas forças governamentais hondurenhas por ter um rosto conhecido por todo o país: seu irmão gêmeo idêntico, René Guillermo, foi protagonista da campanha pela “Quarta Urna” nas eleições gerais de novembro de 2009, necessidade que seria sondada por meio de uma consulta popular promovida por Manuel Zelaya.
Gota d’água para as forças opositoras ao ex-presidente hondurenho, que deram um golpe de Estado, liderado por militares, no dia para o qual estava programada, a consulta popular nunca chegou a ser realizada. A partir deste momento, os irmãos que eram a cara da campanha de Zelaya tornaram-se alvo dos agentes designados a reprimir qualquer resistência ao golpe.
Arquivo pessoal
René, seu irmão, em uma manifestação reprimida por forças de segurança após o golpe
Ao tomar conhecimento do episódio em que militares invadiram a casa do então presidente hondurenho, durante a madrugada, para transportá-lo à força para a Costa Rica, sem a oportunidade de uma troca de roupa -Zelaya estava de pijama-, Guillermo se dirigiu imediatamente ao palácio presidencial, foco de manifestações populares, que tomariam as ruas de Tegucigalpa durante meses após a deposição do mandatário eleito constitucionalmente.
Antes de escapar por via terrestre para a Costa Rica, onde esteve algum tempo até perceber que estava sendo vigiado e ir à Bolívia, Guillermo resistiu durante meses ao regime perpetuado por meio do golpe em seu país. Durante as manifestações, nas quais era responsável pela segurança dos civis que mantinham um lema de resistência pacífica, chegou a ser preso ao lado de dirigentes estudantis e sindicais, sofreu uma tentativa de sequestro e recebeu ameaças de morte.
Arquivo pessoal
Guillermo (centro) preso em delegacia ao lado de dirigentes estudantis e sindicais após manifestação
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Seu irmão gêmeo, René, foi vítima de uma perseguição por agentes não identificados. Durante o episódio, viu-se forçado a abandonar seu carro, que apareceu no dia seguinte nas primeiras páginas de diversos jornais do país, posicionado em frente a um ministério, como suspeito de conter uma bomba. Ao ver a vida em risco e ser acusado de terrorismo, René saiu clandestinamente do país e se refugiou na Espanha.
Em junho de 2009, foi lançado um documentário chamado ¿Quién dijo miedo?: Honduras de un Golpe, produzido pela diretora cinematográfica Katia Lara, foi lançado e, apesar de censurado, dado o conteúdo denunciativo do golpe e das violações dos Direitos Humanos no país, foi comprado massivamente pela população hondurenha.
Ao evidenciar o papel dos irmãos no movimento de resistência popular anti-golpista, o filme complicou ainda mais a situação de Guillermo, que hoje teme por seu regresso. A pedido do próprio Zelaya, René, o protagonista da campanha da “Quarta Urna” e um dos rostos simbólicos da repressão, se deslocou da Espanha à Nicarágua e deve regressar hoje a Honduras ao lado do ex-presidente.
Guillermo afirma, no entanto, que o irmão não deve permanecer no país por muito tempo: “A segurança de nenhum dos refugiados está garantida enquanto não estivermos em democracia. A volta do companheiro Zelaya é um momento de alegria, mas ainda não podemos dizer que foi uma vitória, já que se mantém um regime político desaprovado por cerca de três milhões de hondurenhos”, explica.
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