A eleição desta quarta-feira (10/04) foi um teste para o presidente conservador Yoon Suk Yeol, eleito em 2022. O Parlamento está nas mãos da oposição desde 2016, que deve obter a maioria das cadeiras, segundo as pesquisas de boca de urna.
O Partido Democrata (DP), principal força da oposição, teria obtido a maioria no Parlamento sul-coreano após as eleições legislativas desta quarta-feira.
De acordo com pesquisas publicadas pela televisão sul-coreana no final da votação, todos os partidos da oposição juntos poderiam obter uma “supermaioria” de pelo menos 200 dos 300 assentos na Assembleia Nacional, o suficiente para se opor ao poder de veto do presidente conservador Yoon Suk Yeol, ou mesmo para destituí-lo.
O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, de Lee Jae-myung, e seus partidos aliados conquistaram cerca de 197 assentos, 41 a mais em relação à configuração atual, mostram as pesquisas.
O Partido do Poder Popular (PPP) do presidente Yoon teria obtido 85 e 99 assentos – hoje o governo tem 114 cadeiras no Parlamento. Um novo partido antissistema, o Rebuild Korea, fundado pelo ex-ministro da Justiça Cho Kuk, teria conseguido entre 12 a 14 assentos.
“Era importante participar, expressar minhas ideias e votar no partido que representará meus valores, porque ele decidirá o futuro do país”, disse um eleitor ao correspondente da RFI em Seul, Nicolas Rocca. “Vim pessoalmente escolher quem vai trabalhar para o país e para mim”, acrescentou.
A eleição mobilizou os sul-coreanos, explica o aposentado Im Yong-sun. “Para mim, foi a insegurança e o aumento da violência que me ajudaram a fazer a minha escolha. Há muitos problemas na política interna e tensões internacionais”, disse. “Vim bloquear o partido do presidente Yoon Suk-yeol. Meu voto é um voto de oposição”, diz Kang Min-seol, de 23 anos.
O presidente, que está no cargo há dois anos, esperava que seu partido conquistasse a maioria dos 300 assentos no Parlamento, dominado pela oposição desde o início de seu mandato, há dois anos, mas a batalha estava perdida desde o início, aponta Marie-Orange Rivé, especialista em história coreana contemporânea.
“Na melhor das hipóteses, ele permanecerá no poder sem uma maioria clara na Assembleia Nacional e terminará seu mandato com dificuldades nas reformas que gostaria de fazer”.
A campanha foi pontuada por brigas internas, escândalos e polêmicas envolvendo a primeira-dama ou funcionários do governo do presidente Yoon Suk-yeol. Já o líder da oposição, Lee Jae-myung, é alvo de denúncias de corrupção e suborno.
Ameaça regional
Os sul-coreanos enfrentam muitos desafios. Entre eles, a desaceleração da economia, a inflação, o aumento do preço da moradia, o envelhecimento da população, a queda da taxa de natalidade, a alta da violência, além da ameaça regional da Coreia do Norte.
Outra questão envolve a política externa. Caso a vitória da oposição se confirme, a política de aproximação com o Japão ou os EUA pode ser interrompida. O Partido Democrata defende uma política mais equilibrada no nível internacional.
Já a política de Seul em relação a Pyongyang, que afirma ter armas nucleares, esteve completamente ausente da campanha.
Nos últimos dois anos, a democracia da Coreia do Sul também sofreu ataques, a começar pela liberdade de imprensa. A mídia sul-coreana é tradicionalmente livre, mas jornalistas que criticam o governo foram processados. Uma estação de rádio que denunciava escândalos de corrupção foi obrigada a fechar.
O Judiciário, que também é geralmente independente, tem sido pressionado pelas autoridades e alguns juízes se envolveram em casos de corrupção. Nos últimos anos, também houve uma onda de investigações e processos contra opositores.
Uma estatística revela que, desde que Yoon chegou ao poder, a Coreia do Sul caiu do vigésimo oitavo para o quadragésimo sétimo lugar em um ranking de 179 países publicado pelo V-Dem, um instituto sueco que mede o grau de democracia no mundo.