Dias antes das eleições parlamentares na Coreia do Sul, marcadas para esta quarta-feira (10/04), a população tem saído às ruas segurando cebolinhas, ou até mesmo usando acessórios que remetem ao alimento, como forma de protesto contra o governo do presidente conservador, Yoon Suk Yeol.
O vegetal faz parte da dieta sul-coreana e é usado amplamente em diversos pratos da culinária local, inclusive no preparo do tradicional kimchi.
Nas redes sociais, os internautas do país asiático têm levantado a hashtag #cebolinha875won (#대파875원, em coreano), publicando fotos em frente às seções eleitorais com cebolinhas para ridicularizar e protestar contra uma situação, de acordo com eles, “encenada” pelo mandatário, marcado como um dos chefes de Estado mais impopulares na história da Coreia do Sul.
Tudo começou em 18 de março, quando o líder do Partido do Poder Popular – cuja sigla tenta reconquistar o controle do Parlamento de 300 cadeiras – passou no Nonghyup Hanaro Mart, um mercado situado em Seul e com ligações diretas à Federação Nacional de Cooperativas Agrícolas, para inspecionar o preço da cebolinha.
Em uma tentativa de contrariar as recentes pesquisas que indicam que a inflação sobre os alimentos está em níveis preocupantes, o mandatário fez uma declaração polêmica que viralizou nas redes sociais e acabou favorecendo a oposição:
“Eu estive em muitos mercados. Para esta [cebolinha], 875 won (equivalente a 3,25 reais) é um preço razoável”, afirmou Yoon, enquanto o dono da Nonghyup Distribution, Yeom Ki Dong, acrescentou que “o preço original deveria ser de cerca de 1.700 won [6,30 reais]”, mas que “agora está em 875 won”.
As declarações geraram uma onda de indignação por parte da população, que repudiou as falas do presidente, uma vez que a cebolinha costuma ser vendida por três ou quatro vezes mais do esse valor. Os eleitores argumentam que a postura de Yoon denuncia que “ele vive muito distante da realidade”.
Ainda de acordo com a mídia local, a loja teria propositalmente descontado o preço do alimento antes da visita do presidente.
A repercussão nas redes sociais e nas ruas teve um impacto considerável tanto à população quanto aos próprios líderes da oposição, que usaram o alimento durante seus comícios de campanha. Dessa forma, a Comissão Nacional de Eleições da Coreia do Sul anunciou, no último sábado (06/04), uma medida para proibir o uso de produtos que remetam cebolinhas, ou o próprio alimento, nas seções eleitorais. O argumento utilizado pelo organismo foi que a manifestação poderia causar uma “interferência eleitoral”.
“Embora a expressão de opiniões políticas das pessoas deva ser respeitada ao máximo, usar um determinado item como um meio de expressão diferente de seu propósito original tem grande potencial para afetar a eleição”, disse o comunicado.
Inflação de alimentos
No início de 2024, a inflação na Coreia do Sul atingiu diretamente os preços de frutas e hortaliças, o que tornou a alimentação como uma das questões sociais mais preocupantes no país asiático. Em fevereiro, o aumento das frutas foi de 41,2%, sendo a maior alta em 32 anos e cinco meses. Já os preços das hortaliças também subiram significativamente, com uma alta de 12,2% em relação ao ano passado.
Entre os vegetais, chamou a atenção o aumento da cebolinha, sendo ela um dos alimentos básicos da culinária sul-coreana. O alimento registrou uma alta de 50,1% em relação a 2023.
Eleições parlamentares
As seções eleitorais para os 44,2 milhões de eleitores aptos a votar foram abertas na sexta-feira (05/04), e a contagem de votos acontecerá na manhã de quarta-feira, pelo horário local, com o resultado sendo divulgado no mesmo dia.
Trata-se de um momento crucial para o atual governo, uma vez que Yoon e sua família enfrentam um acúmulo de escândalos de corrupção e, segundo pesquisas locais, o conservador lidera um dos piores índices de aprovação para um chefe de Estado sul-coreano.
Dos 300 assentos existentes no Parlamento, o presidente tenta conquistar mais de um terço, pelo menos 101 cadeiras, para poder impedir o fortalecimento da oposição.