Enquanto os moradores de boa parte de Porto Príncipe lutavam para sobreviver e se refazer dos impactos do terremoto ocorrido um mês atrás, no dia 12 de janeiro, a elite da cidade lamentava à distância, como quem assiste a um filme-catástrofe, a um documentário em tempo real sobre mais uma das tantas tragédias que escrevem a história deste país miserável.
Dois colaboradores do Opera Mundi, Simone Bruno e Federico Mastrogiovanni, que estavam no Haiti decidiram subir a colina e ver o que se passava em Upper Petionville, a parte alta da capital haitiana. Encontraram moradores que, sim, estavam comovidos, mas nem por isso desceram o morro para ajudar. É o que Simone nos conta no áudio abaixo. As respostas estão em espanhol, mas a seguir transcrevemos as partes principais.
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“Embaixo havia destruição, mortes, cheiro de cadáveres fortíssimo. Em compensação, na colina, não havia nenhum problema”, conta Simone. “As pessoas, embora estivessem tristes, reagiam como se o terremoto tivesse acontecido no Brasil, como se vissem na TV, como se fosse uma coisa distante da vida cotidiana”.
Sobre as construções, ele relata que “absolutamente nada” foi destruído, que tudo ficou intacto, inclusive igrejas e casas – diferentemente das igrejas da parte baixa, que vieram abaixo. Numa delas, inclusive, estava a brasileira Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, que morreu na hora.
“Não havia sequer sinais de destruição nas paredes. De um lado, porque as construções são mais bem feitas, mas também, eu acho, porque o terremoto chegou com mais força na parte baixa”, diz o jornalista. “Lá, casas bem construídas tinham sinais de destruição e algumas caíram”.
Por fim, Simone Bruno faz um reflexão sobre a cobertura jornalística e a vivência de uma tragédia de tamanha proporção. “Nós, como humanos, nos acostumamos com todo tipo de situação. Eu estava lá, vendo os mortos, nunca havia visto tantos mortos na vida… E de certa forma me acostumei a isso como se fosse normal, parecia que não me afetava. Mas enquanto esperava o avião pra ir embora, senti algo muito estranho, não tinha vontade de falar com ninguém. E quando cheguei a Bogotá, briguei com dois funcionários públicos que não me fizeram nada, e isso me fez refletir. Nos dias seguintes, também não tinha vontade de falar do que vi no Haiti. Mas em seguida, as coisas voltaram ao normal”.
Arquivo pessoal
Simone e Federico, nossos colaboradores na Colômbia e no México, que correram para o Haiti após o terremoto
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