O centro penitenciário de Mordóvia, local onde uma das integrantes da banda punk russa Pussy Riot está detida, foi denunciado nesta quinta-feira (25/10) por submeter suas prisioneiras a abusos e maus tratos. Segundo reportagens da Agência Efe e do jornal britânico The Guardian, as mulheres detidas neste local enfrentam duras condições.
Um dos maiores complexos de detenção da Europa, o centro reúne 15 mil prisioneiros distribuídos em 17 colônias penais e fica localizado a mais de 600 quilômetros de Moscou. A ativista Nadezhda Tolokónnikova foi transferida ao local no início desta semana, aonde irá cumprir pena de dois anos. Quando soube da notícia nesta segunda-feira (22/10), o grupo de apoiadores que cuida da conta da banda no Twitter postou: “estes são os campos mais duros de todos”.
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A ativista Nadezhda Tolokónnikova, durante seu julgamento em Moscou
Vestidas com uniformes e lenços coloridos em suas cabeças, as mulheres detidas em Mordóvia são obrigadas a trabalhar todos os dias em condições muito precárias, longas jornadas e poucas pausas. Apesar de receberem modesto salário pelas horas trabalhadas no campo, as prisioneiras deixam boa parte da renda com a administração da penitenciária pelos custos de vida no local.
As mulheres podem também ser empregadas para confeccionar uniformes para as Forças Armadas da Rússia ou para outros oficiais, decorar bonecas ou outros brinquedos destinados ao comércio turístico.
“As mulheres são utilizadas como mão de obra escrava e barata. Seria certo que elas trabalhassem oito horas por dia, como diz a regimento interno do presídio, mas elas trabalham muito mais”, denunciou Inna Zhogoleva, da organização “Não ao Gulag”, citada pela Efe. A ativista ainda explicou que as prisioneiras estão expostas a baixas temperaturas para as quais não recebem vestimentas adequadas.
Quando não estão nos campos de trabalho, as mulheres detidas permanecem nos dormitórios, aonde dividem o banheiro e as camas. Os longos e estreitos corredores são repletos de beliches e armários. De acordo com a pesquisadora Judith Pallot, que estudou essa penitenciária, as prisioneiras iniciantes permanecem nos piores locais desta ampla cela. Ao longo do tempo, se ganham poder, podem trocar de cama. Este será o caso de Tolokónnikova, supõe ela.
A pesquisadora ainda explicou que a penitenciaria da Mordóvia, que agrega práticas dos tempos dos czares, é administrada pelas próprias detentas. “A atmosfera psicológica é insuportável. Sempre ocorrem surras e humilhações”, acrescentou Zhogoleva ao se referir a abusos das autoridades e entre as prisioneiras.
A cantora, que havia pedido transferência para um centro próximo à capital russa, ainda encontrará dificuldade para encontrar seus familiares, incluindo sua pequena filha. Além de o complexo penitenciário ser distante de Moscou, Tolokónnikova tem direito a apenas seis visitas curtas e quatro longas por ano.
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A outra integrante da banda punk, Maria Alyokhina, foi transferida para o campo de prisioneiras em Perm, na Sibéria, que integrava o sistema penitenciário dos “gulags” durante a União Soviética.
Perseguição política
As duas integrantes da banda punk foram condenadas em agosto deste ano a dois anos de reclusão em um campo de prisioneiros por “vandalismo” e “incitação ao ódio religioso”, ao lado da terceira integrante do grupo, Yekaterina Samutsevich, de 30 anos.
As condenações de Tolokonnikova e Alyokhina foram confirmadas no julgamento da apelação em 10 de outubro, enquanto que a pena de Samutsevich foi retirada e ela foi libertada.
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Banda Pussy Riot antes da condenação, cantando na Praça Vermelha, em Moscou, no mês de janeiro
As ativistas russas foram presas em março deste ano e condenadas por conta de um protesto realizado no altar da catedral do Cristo Salvador, em Moscou, contra o presidente russo Vladimir Putin. As Pussy Riot insistem que a manifestação tinha fins políticos claros e não era destinado a ofender a religião ortodoxa.
Para críticos ao governo de Putin, o julgamento das Pussy Riot foi mais um sinal de que o Kremlin não tolera críticas nem dissidências. “Estamos pedindo às autoridades russas para tirar suas queixas de vandalismo e soltar imediatamente Maria e Nadezhda”, disse Kate Allen, diretora da Anistia Internacional do Reino Unido.
Protestos pedindo a liberdade das integrantes da banda percorreram cidades de todo o mundo nesta semana, chegando a mobilizar até mesmo artistas que se apresentaram no país. Sting, Red Hot Chili Peppers e Madonna pediram em suas apresentações pela libertação das integrantes da banda punk.
“Nos tempos soviéticos ou nos tempo de Stálin, os julgamentos eram mais honestos do que esse”, afirmou o advogado de defesa Nikolai Polozov perante o tribunal. Os advogados da banda acusaram a justiça de agir com parcialidade favorável a acusação e que o processo não passa de uma repressão política do regime de Putin.
No início do julgamento, Yekaterina mostrou preocupação com o atual quadro político russo: “estou considerando isso como o início de uma campanha autoritária e repressiva do governo que procura dificultar a atividade política e criar um sentimento de medo entre os ativistas políticos”.